Esta semana, a dupla de rock rural Sá & Guarabyra se pronunciou em favor da democracia. O movimento foi uma resposta diante da incitação de ataques contra o Supremo Tribunal Federal (STF), por parte de áudio do bolsonarista sertanejo Sérgio Reis. Ao se posicionar, a dupla declina o convite de participar do novo disco de parcerias de Reis.
Sá manifesta que Sobradinho é “um grito contra a submersão de cinco cidades e sua História, sem que fosse dado aos seus habitantes o direito elementar de opinar sobre isso”
Na rede social da dupla Sá & Guarabyra, foi publicada uma nota sobre a canção Sobradinho, que constaria no disco de Reis. Intitulado “Sobradinho” e a Democracia, o texto assinado por Luiz Carlos Sá lembra o período da ditadura empresarial-militar (1964-1985), quando respirou-se “o irrespirável durante vinte e um longos e dolorosos anos”. Sá manifesta que Sobradinho é “um grito contra a submersão de cinco cidades e sua História, sem que fosse dado aos seus habitantes o direito elementar de opinar sobre isso”. Dessa maneira, o cantor busca, nas suas palavras, “reforçar o significado libertário da nossa música”, indicando a incompatibilidade da dupla com as declarações antidemocráticas de Reis. Ao final de seu texto, Sá lamenta o posicionamento do cantor sertanejo: “Espero sinceramente que Sérgio caia em si” e lembra que a saída democrática custou “aos brasileiros sangue, suor e lágrimas para recuperar”. Por fim, endossa que Sobradinho “é a antítese de tudo aquilo que é ditatorial, autoritário e coercitivo” e, por esse motivo, “não cabe mais no disco”.
A relação entre arte e política tem sido alvo de inúmeros debates, inclusive, sobre a história da música sertaneja [1]. Ora, se levarmos em conta que vivemos em uma sociedade historicamente forjada por ações humanas e que a organização social, econômica, política e cultural resulta de escolhas – geralmente, feitas pelos grupos dominantes, podemos facilmente compreender que também devemos fazer escolhas.
Quando a dupla Sá & Guarabyra mostra a sua canção em defesa de uma organização social democrática, situa que a sua arte tem posicionamento político. Quando o bolsonarista conclama um ato antidemocrático, também situa o seu fazer com um determinado posicionamento. Os gestos repercutem.
Porque viver em sociedade, ser humano, significa ser social, logo, ser político, a partir dessa perspectiva, a neutralidade soa como fruto de uma imaginação ingênua, ou falaciosa. Logo, sim, toda arte é política, mesmo quando se declara “apolítica”. Com outras palavras, a “isenção” diante de uma injustiça é uma tomada de posição. Aliás, como canta o dito popular, “quem cala, consente”.
*Filha da classe popular, educadora, letrista de música, artista de rua e doutoranda em Sociologia pela Unicamp.
[1] Sobre a história da música sertaneja, considero indispensável ler o artigo de Marcos Queiroz, publicado no dia 12 de agosto de 2021: https://medium.com/zumbido/pobre-moreno-que-era-grande-hoje-%C3%A9-pequeno-f09d284f72ba
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