Aprosoja toca, Sérgio Reis canta

Brasil Agro

Antonio Galvan

Andar de cima

Acompanhamento sistemático da ação organizativa, política, social e ideológica das classes dominantes no Brasil, a partir de uma leitura marxista e gramsciana realizada no GTO, sob coordenação de Virgínia Fontes. Coluna organizada por Rejane Hoeveler.

O cantor sertanejo e ex-deputado federal Sérgio Reis protagonizou episódio recente de chamamento ao golpismo escancarado de Bolsonaro e seus apoiadores, insuflando os caminhoneiros a “pararem o país” e os bolsonaristas a “quebrarem o STF” (Supremo Tribunal Federal). O cantor, apesar de possuir estatura elevada e voz potente, está longe de ser sozinho uma força política de mobilização dos ruralistas. Por trás de Sérgio Reis está a Aprosoja.

A Associação brasileira de produtores de soja (Aprosoja) é uma agremiação que reúne os grandes produtores do Brasil. Mesmo sendo uma associação de um único produto agrícola, sua pujança econômica e seus sucessivos recordes de safras confere à agremiação expressivo capital político na correlação de forças dentro da classe dominante agrária em geral e do agronegócio em particular.

A convocatória de apoio ao golpismo no dia sete de setembro deste ano por Sérgio Reis em áudio vazado ocorreu após o cantor ter almoçado com o presidente Bolsonaro e com Antonio Galvan, presidente da Aprosoja [1]. Sérgio Reis também se encontrou com Galvan e outros políticos na sede da associação em Brasília. Blario Maggi, ex-ministro da agricultura do governo Temer (2016-2018), membro da Aprosoja e maior produtor privado de soja do mundo, afirmou que a posição de Galvan seria uma iniciativa pessoal e não reflete o posicionamento da organização. Porém, em diversas oportunidades, a Aprosoja apoiou Bolsonaro e divergiu da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) na pauta do meio ambiente, em claro alinhamento com a gestão ambiental arrasadora do ministro Ricardo Salles.

Em 2018, em áudio veiculado pela “rádio Aprosoja Brasil”, o então presidente da instituição, Bartolomeu Braz, declarou seu apoio ao presidente Bolsonaro e disse que as demandas dos produtores de soja seriam acolhidas por sua gestão. Em setembro de 2020, diante das discussões sobre as queimadas na Amazônia e a ineficiência consciente do Ministério do Meio Ambiente (MMA), a Coalização Clima Brasil Floresta e Agricultura (Coalizão), criada em 2015 e liderada pela Abag[1], entregou documento ao governo Bolsonaro com seis ações para a “rápida” contenção do desmatamento na Amazônia. Esse documento não somente foi criticado como ainda provocou a saída da Aprosoja da Abag. Bartolomeu Braz, disse na época que “eles [Abag] só defendem o meio ambiente e mais nada, é uma entidade que não entende o papel dela. Eles não têm a percepção do econômico pro (sic) lado do produtor. Eles têm do lado do negócio, que é o do banqueiro”.

Em nota oficial publicada no dia 18 de agosto a Aprosoja tentou reverter sua vinculação com o episódio declarando “não possui qualquer ligação com atos que defendam ‘invadir’ ou ‘quebrar’ o STF, não responde institucionalmente pela organização de nenhum movimento e repudia qualquer publicação que vincule a associação a movimentos violentos ou ilegais”[8]. Parece que Sérgio Reis cantou à capela, antes da hora, a música golpista composta pela Aprosoja.

 

[1] A Abag, através da Coalizão defende uma agenda ambiental cujo lastro encontra-se em uma perspectiva de “conjugação” entre a produção do agronegócio com medidas de “sustentabilidade”. http://www.coalizaobr.com.br/home/, acesso em 20 de agosto de 2021.

 

*Por: Pedro Cassiano