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MUNDO

10 propostas para superar a crise colombiana

Ana Leticia González, Colômbia | Tradução Celia Regina Barbosa
AFP / Raul ARBOLEDA
*Este artigo não representa, necessariamente, a opinião do Esquerda Online. Somos um portal aberto às polêmicas da esquerda socialista.

A partir de diversas vozes da sociedade civil colombiana surgiram propostas, reformistas e revolucionárias, que, a seu modo, refletem a profunda “crise nacional” do desprestígio do governo neo-uribista em particular e do uribismo em geral. Isso é sintoma do desgaste do regime de 91 e o processo de parto das possíveis vias de transição nos próximos anos.

As propostas que seguem, expressas a partir de diferentes ângulos e interesses, merecem ser debatidas pela opinião pública nos lares e empresas, nas escolas, universidades, ruas, espaços internos e externos e em eventos, com vistas à ação social e política pelo triunfo e aprofundamento do momento histórico que estamos vivendo, ou ao menos em um possível momento em que estejamos transitando ou não, pois pode ser que ele se frustre ou o processo seja muito mais lento do que vários colombianos comuns pensamos.

Com base na tradição marxista, podemos sustentar a hipótese de que estamos em um intervalo de uma nova etapa histórica ou período de décadas, intervalo este aberto em 2016 com o processo de paz, sendo que o último se deu em 1991. Além disso, estamos em uma nova situação nacional de anos, 2019-2021, que muda a correção de forças entre setores de classe, devido aos protestos de 21 de novembro e 28 de abril. Entre outras conjunturas de lutas e crises, de avanços e retrocessos, ofensivas e contraofensivas, tais como o massacre de Bogotá e Soacha em 9-10 de setembro de 2020. Também com o processo judicial contra jovens da primeira linha, o avanço de novas medidas antipopulares e um retorno de prestígio do governo em razão da vacinaçao e da reforma tributária 2.0, a reativação econômica e a nova segurança democrática, para dar continuidade a um novo governo de direita em 2022.

Em termos mais globais, como hipótese também colocada, estaríamos na última etapa histórica de bem poucos séculos ou decênios, vivemos na crise da época da civilização capitalista, que para alguns se iniciou em 1914 com a devastadora Primeira Grande Guerra imperialista do capital monopólico, a pandemia da “gripe espanhola” e a revolução de outubro. Hoje, esta crise civilizatória, que tem refrações em crises nacionais desiguais e combinadas, são recriadas na globalização transnacional, na recessão econômica e leve recuperação, na COVID-19 e na destruição ambiental. E, obviamente, nas explosões sociais – como o glorioso 28 de abril na Colômbia – e nas contrarreformas neoliberais assemelhadas, impulsionadas por governos burgueses de direita, de centro e de esquerda. 

Essas três manifestações históricas e as hipóteses, nacionais e mundiais, são de magnitudes muitíssimo menores do que as de outra época, mas tomara que no médio prazo se tornem similares às da Batalha de Boyacá de 7 de agosto de 1819 e ao nosso processo americano revolucionário de massas da primeira independência, há mais de 200 anos, e à Comuna de Paris há 150 anos, quando as revoluções permanentes do século 21 venham a se aprofundar.

A tarefa hoje é a consecução da segunda e definitiva independência e a derrubada do regime de Duque, Uribe e Santos, materializada na luta central e frontal imediata contra o governo concreto de turno, suas forças armadas e suas forças empresariais. Ou seja, o freio a seus planos de ajuste e antidemocráticos, a conquista de reformas dos de baixo, os processos de paz e fim das guerrilhas vanguardistas e ascensão distorcida de um “governo reformista” burguês, com o qual as massas colombianas, entre elas a própria classe trabalhadora colombiana, não tiveram a oportunidade de fazer experiência. As dez propostas que compartilhamos refletem, a seu modo, essas possíveis saídas.

1ª proposta. Alguns reformistas renomados propuseram uma série de contra-projetos legislativos, no parlamento, de saudação à bandeira, durante a última legislatura. Também propuseram legitimar nas eleições, diante do desgaste do executivo nas ruas e instituições, para ser vitoriosos, uma Frente Ampla Anti-uribista aliada com forças burguesas tradicionais e o centro, ou mais exatamente para continuar implementando a linha da derrota certa e a continuidade da mesma. O Comitê Nacional da Greve e a burocracia sindical, a centro-esquerda de direita e centro-direita, ou seja, as coalizões tradicionais do Pacto Histórico da Colômbia Humana de Petro-Roy Barreras e a Esperança de Fajardo-Alejandro Gaviria têm essa proposta eleitoral de mudança.

2ª proposta. Não reconhecemos este governo antidemocrático, pedimos a cabeça do Presidente, conselhos abertos e eleições antecipadas já, a nível presidencial, legislativo, departamental e local, tal como defende o Diretor do Canal 2, Alberto Tejada, prêmio para o jornalismo de coragem, algumas Primeiras Linhas e intelectuais, como método de pressão e denúncia da ilegitimidade dos atuais governantes e renúncia forçada.

3ª proposta. Não esperemos pelo 2022, organizar por meio de um grande encontro nacional de emergência uma grande Paralisação Cívica Nacional para tirar Duque e Uribe, derrotar sua guerra e vencê-los nas urnas. É necessário frear sua contraofensiva em curso, o pacotaço do governo que sai e o que entrará. Avançar na organização dos de baixo e umas novas chapas antiburocráticas para uma nova direção do sindicalismo, e a mesma coisa no terreno das eleições democrático-burguesas, denúncia dos que traíram na greve e seus partidos, apresentação de chapas de lutadores das explosões sociais e candidatura presidencial reformista que derrote a burguesia santista e uribista, assinalam algumas tendências socialistas, de esquerda revolucionária e do processo da Assembleia Nacional Popular (ANP).

4ª proposta. Denúncia diante da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), da Corte Penal Internacional (CPI), pela captura e prisão de Uribe, Duque e Marta Lucía, incluída a cúpula militar, que digam toda a verdade e compareçam diante da Justiça Especial para a Paz (JEP) e da Comissão da Verdade. Ou seja, os altos responsáveis pela violação de direitos humanos durante tempos recentes e nos bastidores dos conflitos, são apontados por várias ONGs, como a Federação Internacional de Direitos Humanos, coletivos de direitos humanos e outros. 

5ª proposta. Continuar com as campanhas SOS Colômbia, Estão nos matando, Não mais líderes assassinados, desaparecidos e detidos, ruptura de relações diplomáticas com o governo nacional e cerco internacional, solidariedade de classe internacional, apontam algumas organizações de DDHH e personalidades públicas democráticas nacionais e internacionais, assim como algumas tendências socialistas.

6ª proposta. Pichações nas ruas exigindo que Duque renuncie, da mesma forma em lugares da Colômbia, cidades, bairros e localidades com o lema de “anti-uribista” e vote bem, segundo algumas organizações juvenis, grafiteiros e culturais que procuram desgastar ao máximo o governo e abrir uma nova hegemonia cultural.

7ª proposta. Defender, impulsionar, organizar e massificar as Primeiras Linhas de Defesa juvenis, operárias e sindicais, camponesas, indígenas e afros, professores e profissionais, nas frentes diretas e não diretas da luta de classes, para enfrentar a repressão estatal e os bandos paramilitares, colocam algumas tendências socialistas e primeiras linhas. Liberdade imediata para as dezenas e centenas de jovens capturados e seus falsos positivos jurídicos para castigar a rebeldia da explosão social colombiana.

8ª proposta. Não vão entregar o poder nem haverá uma transição institucional serena e pacífica. Falsas ilusões. Não ao clientelismo e compra de votos dos partidos tradicionais e emergentes da burguesia. Pelo impulsionamento de comitês de vigilância e testemunhas eleitorais em cada posto pela defesa dos votos, exigência de observadores internacionais e comitês de financiamento popular das chapas eleitorais e um novo levante social para derrotar a possível e iminente fraude eleitoral em 2022, pelo menos para evitar uma canalização pela direita do descontentamento social, colocam algumas tendências socialistas e da esquerda revolucionária, militantes, dirigentes, intelectuais e algumas Primeiras Linhas.

9ª proposta. Pela derrota eleitoral da burguesia que governou nos últimos três decênios e o aproveitamento de uma oportunidade de vencê-los. Não às alianças com setores tradicionais, zero confiança em pactos históricos e esperanças neles. Não ao limite eleitoral, direito de participação nas eleições e personalidade jurídica para as organizações sociais e políticas dos trabalhadores e dos setores populares, incluídos os 16 cargos de paz para as vítimas, e garantias democráticas para os combatentes reincorporados da Farc e ELN.

Portanto, impulsionar listas abertas para os lutadores e protagonistas do levante de 28 de abril de parte dos partidos reformistas que contam com personalidade jurídica nas eleições regionais, locais e legislativas, e uma forte campanha de massas de voto crítico para Francia Márquez Presidente-Petro e caravanas por todo o país, em consultas e comícios presidenciais. Ambas apostas e táticas, com um programa de independência de classe dos trabalhadores e setores populares frente à pandemia, à desigualdade e à repressão, ruptura dos de baixo com o regime uribista-santista e seu capitalismo neoliberal, segundo a visão audaz de algumas tendências socialistas e esquerda revolucionária, alguns intelectuais, militantes, dirigentes e algumas Primeiras Linhas.

10ª proposta. Não mais marginalidade e espírito de seita. Pela construção unitária de um partido revolucionário de trabalhadores na Colômbia, com influência de massas, e a união de classe dos trabalhadores e da esquerda. Pela instalação de um governo do povo trabalhador e popular comandado pelas bases da ANP e do CNP, do movimento operário combativo e juvenil, indígena, camponês, afro, juvenil, feminino e ambiental, surgido do “colombinaço” e do processo constituinte superado com a mobilização social. Nossos sonhos ultrapassam a constituição de 91 e seu regime.

Vamos em direção da segunda e definitiva independência da Colômbia do jugo dos EUA-UE e de todas as frações da burguesia nativa vende pátria, desde 200 anos. Pela libertação dos povos latino-americanos e oprimidos do mundo. Pela Nova Colômbia Socialista e uma nova civilização pós capitalista. Este é o projeto comum proletário e filosófico da revolução colombiana e mundial no século XXI, na década 2021-2031 e mais além, o porvenir do país, de nossa América e do mundo global terráqueo contemporâneo.