Vimos nesta segunda-feira cenas aterradoras da população afegã tentando de toda forma fugir do país. Mas qual a explicação para todo esse terror? O Talibã é uma seita sunita que se originou nos Mujahedeen, militantes islâmicos sunitas que lutaram contra as forças soviéticas na década de 1980, financiados e treinados pela CIA e pelo governo da Arábia Saudita. Em 1994, eles fundaram sua seita e, em 1996, assumiram o poder em Cabul, capital afegã. Em 2001, depois dos ataques às Torres Gêmeas, os EUA invadiram o país e o ocuparam militarmente, fazendo com o que o povo, que já havia passado pelo horror nas mãos do Talibã, seguisse com suas vidas destruídas por uma guerra e sem poder se autodeterminar. E agora, com a iminência da retomada deles ao poder, Biden e o governo dos Estados Unidos simplesmente abandonam o povo à sua própria sorte para lidar com o horror que o retorno do controle pelo Talibã significará para o povo, tendo retirado em julho suas tropas, mesmo gastado mais de um trilhão de dólares nos últimos 20 anos para manter o controle militar e político.
Segundo a CNN, “A violência no Afeganistão atingiu seus níveis mais altos em duas décadas. O Talibã aumentou seu controle de áreas mais amplas do país. Em junho deste ano, o grupo afirmava controlar ou controlava cerca de 50% a 70% do território afegão fora dos centros urbanos, de acordo com um relatório do Conselho de Segurança das Nações Unidas”. E esse processo foi concluído com a retomada da capital no último domingo.
Mas e o que isso significa para as mulheres?
É muito provável que a maioria de nós saibamos quem é Malala Yousafzai. Malala foi a menina paquistanesa que sofreu um atentado à sua vida por defender o direito de meninas e mulheres de estudarem em uma província controlada pelo Talibã. E esse é o modo de agir da Seita. No período em que estiveram no poder no Afeganistão, o grupo promoveu apedrejamento de mulheres que acusavam de adultério, as retiraram de seus trabalhos e proibiram qualquer menina com mais de 12 anos de estudar ou saírem de casa desacompanhadas de algum homem da família, ou mesmo a obrigatoriedade de usar a burca (vestimenta que cobre todo o corpo, deixando apenas os olhos visíveis), sob pena de serem espancadas.
Segundo Sohail Shaheen, porta-voz do grupo, as mulheres poderiam continuar sua educação do ensino fundamental ao superior nesta retomada do poder, mas o que vimos foram escolas já se despedindo de suas alunas e notícias de que em algumas regiões controladas por eles foi solicitada uma lista de meninas e mulheres entre 15 e 45 anos para serem forçadas a casar com seus combatentes. Outra prática comum ao grupo é organizar mulheres para serem feitas de escravas sexuais.
Sem querer comparar as realidades, pois elas felizmente ainda estão distantes uma das outras, mas é importante lembrar que o Talibã nasce para combater o comunismo, que é negacionista em relação à ciência e educação, persegue minorias políticas e cultua Deus, pátria, família e as armas. Não queremos, como dissemos antes, afirmar que nossa situação é comparável com a que as afegãs estão vivendo, mas sim que é importante estarmos atentas e lutar ao lado das mulheres do mundo pela libertação delas e lutar também pela nossa.
Não podemos também cair na falácia que a retirada das tropas dos EUA do país se compara à saída de Saigon em 1975. Ser uma derrota do principal país imperialista poderia ser considerado uma vitória do povo se (1) fosse de fato o povo tomando o poder do país, (2) e talvez mais importante, se não significasse a barbárie que é ter de volta um grupo com tal programa e prática no poder. Precisamos nos unir em solidariedade internacional à população, e mais do que nunca, às mulheres e LGBTIA+ do Afeganistão.
Fontes:
https://www.instagram.com/p/CSpArABLCLw/
*da Resistência Feminista no RS
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