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MUNDO

Cuba – Um mês depois de 11 de julho: Declaração dos Comunistas

Comitê Editorial de Comunistas*, Cuba | Tradução Ge Souza

O terapeuta, de René Magritte, 1941.

Passado um mês dos protestos que ocorreram em Cuba em 11 de julho, o Governo não fez grandes mudanças, e a crise econômica e da saúde se encontra no mesmo nível de gravidade. Dessa forma, se mantêm praticamente os mesmos problemas que que deram origem as manifestações. 

A aprovação da lei que dá lugar às Pequenas e Médias Empresas – PME, não é consequência das manifestações. Basta apenas analisar o discurso oficial e suas práticas políticas, para perceber que a máxima direção do país está cada vez mais focada nas reformas liberais do Vietnã – chamadas de Doi Moi – que têm uma grande inspiração de opinião dengxiaopinista. A aprovação das PMEs foi uma decisão preparada com antecedência pelo Governo, que atrasou devido à oposição da ala Fidelista. Os protestos, no mínimo serviram para acelerar sua aprovação. 

Uma das poucas mudanças foi permitir a entrada de alimentos e medicamentos isentos de impostos. Mas mesmo esse pequeno paliativo está sofrendo com a ineficácia burocrática. 

Por outro lado, o povo cubano continua esperando uma autocrítica pública do governo, onde os erros que levaram ao 11 de julho sejam explicados de forma convincente. Ao mesmo tempo, é necessário o esclarecimento sobre os acontecimentos de 11 de julho, já que o discurso oficial apresenta apenas uma versão dos fatos, e isso é algo que uma boa parte da sociedade conhece. Um mês depois dos protestos, boa parte dos presos nas manifestações ainda não sabe se serão julgados ou se terão que esperar pacientemente até que sua medida cautelar seja proibida. 

Um mês depois dos protestos, boa parte dos presos nas manifestações ainda não sabe se serão julgados ou se terão que esperar pacientemente até que sua medida cautelar seja proibida.

Um mês depois do 11 de julho, as causas que geraram as manifestações continuam presentes. A atual crise econômica dificilmente será superada, e a tudo isso se soma ao desconforto gerado pelo tratamento que o Governo deu os protestos, tanto durante como após os fatos.

Chama a atenção, negativamente, que o Governo não tenha tomado nenhuma medida que implique em uma maior participação da classe trabalhadora na tomada de decisões, tanto no terreno econômico quanto político. Ao mesmo tempo, o Governo continua minimizando e criminalizando os protestos, o que gera maior descontentamento, e reforça o discurso de direita. 

Apesar de tudo isso, é muito improvável que outro 11 de julho aconteça, pelo menos não nos próximos meses. Embora cresça a ideia de que o protesto foi útil, porque algumas mudanças foram feitas, também há a percepção de que o risco em relação ao que foi conquistado está presente. Muitos dos que pedem nas redes sociais que se volte às ruas, não participaram das manifestações de 11 de julho. 

O 11 de julho foi o ápice da grave crise política que atravessa o governo cubano, que se recusa a reconhecer. Esta é a chave para entender as manifestações de 11 de julho: a crise que Cuba vive hoje não é só econômica e de saúde, mas, tanto e tão mais profunda, a crise atual é política e ideológica. Embora não o assuma publicamente, o Governo sabe disso e por isso toma medidas repressivas contra os que foram detidos nos protestos: querem que os que foram presos sirvam de exemplo aos que participaram nos maiores protestos desde o triunfo da Revolução. No entanto, isso não fará desaparecer a crise política, apenas a agravará. 

*Publicado originalmente em Blog Comunistas, de Cuba, e em Insisto Resisto.

Marcado como:
América Latina / Cuba