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BRASIL

Viva os 223 anos da Revolta dos Búzios

A Revolta dos Búzios, ou Revolta dos Alfaiates, iniciada em 12 de agosto de 1798, foi uma revolta negra, que exigiu a independência da Bahia de Portugal e a abolição da escravatura. A revolta ocorreu inspirada em ideias iluministas e na Revolução Haitiana, de 1791, que quatro anos antes havia conquistado o fim da escravidão em todas as colônias francesas. Foi também um grito de revolta contra as condições em que o povo baiano vivia, principalmente por conta dos altos impostos e da falta de alimentos, que motivaram saques e protestos um ano antes.

Também conhecida como Conjuração Baiana ou Revolta dos Argolinhos, teve início com cartazes afixados em Salvador, que continham frases como: “Animai-vos, povo bahiense, que está por chegar o tempo feliz da nossa liberdade: o tempo em que todos seremos iguais” e apresentava o programa da revolução: “igualdade de todos perante a lei; independência da Capitania; proclamação da “República Bahiense”; abolição da escravidão; liberdade de comércio; aumento do soldo da tropa; e protestos contra os altos tributos.

A revolta foi reprimida em 25 de agosto. Mais de 600 pessoas foram acusadas de participação, sendo que, ao final, 30 foram condenadas à prisão ou ao desterro e outros quatro foram mortas e esquartejados, em novembro de 1799: os soldados Lucas Dantas e Luiz Gonzaga das Virgens, o aprendiz de alfaiate Manuel Faustino e o mestre alfaiate João de Deus. Todos os quatro eram negros e pertenciam às classes subalternas. Suas cabeças foram expostas em praça pública e a memória de sua família amaldiçoada por três gerações.

A revolta dos Búzios contou com a participação ativa de cinco mulheres negras, todas ex-escravizadas: Ana Romana Lopes do Nascimento, Domingas Maria do Nascimento, Luiza Francisca de Araújo, Lucréia Maria Gercent e Vicência..

Apesar de o movimento também ter integrantes da elite local, abolicionistas e maçons, que se reuniam em um clube literário, nenhum destes foi preso ou punido. Na história oficial, os quatro negros assassinados em Salvador foram esquecidos, assim como o movimento, que é pouco lembrado, perto de outros movimentos pela independência, como a Inconfidência Mineira, em 1789, que não contou com a participação de negros e negras ou de setores populares.

Em tempos em que as cidades ainda homenageiam personagens históricos repugnantes, como Borba Gato, é preciso lembrar estes homens e mulheres, mártires da luta contra a escravidão e pela independência.
Fonte: Mandata vereadora Regina Bienenstein, Niterói (RJ)