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BRASIL

Simone Biles e nossa saúde mental

Euclides Braga Neto*, Fortaleza , CE
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Com o fim das Olimpíadas de Tóquio, eu não poderia deixar de homenagear Simone Biles. Ela me incentivou a escrever sobre saúde mental e citar meu caso como exemplo. Simone teve grande coragem em admitir que abandonaria a maioria das competições da ginástica artística, não devido a contusões físicas, mas por conta da fragilidade da sua saúde mental.

Não sou afeito a exposição pessoal, ainda mais à superexposição na internet. A maioria dos posts que faço é sobre a política do ponto de vista dos explorados e oprimidos e quando exponho poucas questões pessoais é para registrar atividades que amo fazer no tempo livre: cozinhar, ouvir boa música e, mais recentemente, cuidar de plantinhas. Publico poucas fotos minhas, mas, sobretudo, dos pratos que faço, dos discos que ouço e, agora, de plantas que cuido.

Enfim, desde 2016, passei a ter crises de ansiedade e depressão. Antes disso, sobretudo a partir de 2013, já havia vivido experiencias ruins, mas, depois de 2016, o problema se tornou crônico. Esse foi o ano dos meus 45 anos ou, para utilizar uma gíria do futebol, o final do primeiro tempo. Terminara o primeiro tempo perdendo o jogo da vida, cheio de crises e dúvidas sobre minhas qualidades e capacidades.

Somente a chegada à maturidade, com o final do primeiro tempo, e as cicatrizes de sucessivas batalhas e suas resultantes contusões psíquicas e emocionais fizeram vir a toda a ansiedade e a depressão, não como a origem dos problemas da minha saúde mental, mas como um sintoma de um TDA não tratado na infância.

Para resumo da ópera, somente em 2019, um amigo psicólogo me indicou um novo psiquiatra. Esse psiquiatra, depois de algumas consultas, levantou a hipótese de um diagnóstico que, até então, nenhum outro tinha ventilado: Transtorno de Déficit de Atenção. No meu caso, sem hiperatividade. Tratava-se de um TDA relativamente leve, nunca em mim identificado. Somente a chegada à maturidade, com o final do primeiro tempo, e as cicatrizes de sucessivas batalhas e suas resultantes contusões psíquicas e emocionais fizeram vir a toda a ansiedade e a depressão, não como a origem dos problemas da minha saúde mental, mas como um sintoma de um TDA não tratado na infância.

Já havia experimentado vários ansiolíticos e antidepressivos e nenhum havia resolvido meu problema. Desde o início de 2020 comecei a tomar um medicamento indicado para crianças com TDA. Atualmente tomo uma dosagem para crianças acima de oito anos que sofrem de incontinência urinária noturna, mais conhecido como fazer xixi na cama.

Descobrir que tenho TDA, que se trata de um problema neurológico – como são também, de maneira diversa, a dislexia e o autismo – e aceitar isso como parte da minha condição humana foi a maior revolução interior que vivi em toda a minha vida.

Obrigado Simone Biles, por ser a grande atleta que é. Mas, acima de tudo, por ser uma mulher gigante e pautar a questão da saúde mental como um tema público, portanto, social. Você não foi a maior medalhista da história da ginástica artística nesta olimpíada, mas, seguramente, foi o maior ser humano que passou por ela.

*Militante da Resistência/PSOL

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