IPCC: novo relatório alerta para aumento drástico do clima em 20 anos
Mesmo no cenário mais otimista, temperatura média do planeta deve aumentar 1,5 grau nas próximas duas décadas, aumentando a quantidade e a intensidade de fenômenos climáticos extremos em todo o mundo.
Publicado em: 9 de agosto de 2021
Nesta segunda-feira, 09, foi divulgado um novo relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), organismo da ONU criado em 1988 para acompanhar as mudanças climáticas. O relatório completo tem mais de 4 mil páginas e é assinado por 234 cientistas de 66 países. Analistas são unânimes em dizer que os dados mostram uma piora nas previsões e uma “subida de tom” dos cientistas, como um novo alerta.
A melhor estimativa é que em curto prazo, até 2040, o clima no planeta suba 1,5 graus celsius, em relação ao período de 1850-1900. Mas há a possibilidade, em um cenário mais pessimista, de a temperatura subir até 1,9°C.
A melhor estimativa é que em curto prazo, até 2040, o clima no planeta suba 1,5 graus celsius, em relação ao período de 1850-1900. Mas há a possibilidade, em um cenário mais pessimista, de a temperatura subir até 1,9°C. Vinte anos depois, em 2060, o clima no planeta estaria entre 2°C, em um cenário otimista, e 3°C, no pior cenário. Para se ter uma ideia da velocidade com que isso ocorre, em cerca de 150 anos, desde a Revolução Industrial, a temperatura do planeta subiu em média 1,1°C.
O aumento da temperatura, como já estamos percebendo, provoca aumento de eventos extremos, como tempestades, enchentes, furacões, ciclones, secas prolongadas e ondas de calor. Eventos extremos, até 1900, ocorriam em média uma vez a cada 50 anos. Segundo o relatório, com o aumento da temperatura previsto, a probabilidade de que fenômenos assim ocorram pode chegar a ser 8,6 vezes maior em 2040, assim como a intensidade dos fenômenos.
Entre as consequências, podem ocorrer a destruição de plantações e da infraestrutura urbana, com efeitos diretos para as populações, como desabamentos, mortes por calor ou frio, exigindo evacuações de emergência ou mesmo migrações em massa de milhares de pessoas.
O Brasil e a América Latina estão entre as regiões mais ameaçadas pelo aquecimento global, com secas, conta da destruição de plantações e aumento da fome. O estudo aponta ainda o efeito do calor na Amazônia – em um cenário de aumento de 2°C na temperatura média do planeta, a região amazônica teria até o fim do século dois meses inteiros a mais de forte calor, com temperaturas diárias acima de 35°C, ampliando a destruição da floresta e afetando o clima global. Especialistas também citam o impacto do aumento do nível do mar – que pode avançar cerca de um metro nas próximas décadas – atingindo capitais e estruturas como o Porto de Santos, no Brasil, e inclusive instalações nucleares em todo o mundo, instaladas no nível do mar.
Deter o aquecimento global
“O relatório está sendo repercutido pela imprensa com grande tom de alarme. É fundamental que esse senso de urgência se alastre. Vale lembrar que todos os últimos relatórios, ao menos desde o AR5, já um informavam uma situação gravíssima, em aceleração e irreversível em vários sentidos. Uma situação que, portanto, cobra uma mobilização sem precedentes da humanidade, tanto em abrangência e profundidade quanto em velocidade”, diz Eduardo Sá Barreto, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) e autor do livro “O Capital na estufa: Para a crítica da economia das mudanças climáticas”.
“Os sinais já tinham sido alertados no relatório anterior, mas parece que não foi suficiente. Este novo, reforça mensagem: não há mais espaço para o negacionismo”
Em entrevista à CNN, o engenheiro florestal Argemiro Teixeira Leite Filho, professor na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) concorda e alerta para a ação de governos que negam as previsões.“Os sinais já tinham sido alertados no relatório anterior, mas parece que não foi suficiente. Este novo, reforça mensagem: não há mais espaço para o negacionismo”, afirma.
Além de governos como o de Bolsonaro e grandes empresas e potências, como China, Rússia e Estados Unidos, a destruição do meio ambiente vem sendo acelerada pela ação de uma “elite poluidora” – 10% das pessoas no mundo são responsáveis por 50% das emissões, segundo a Oxfam – a mesma elite que controla empresas e grupos econômicos que não abrem mão de seus lucros e são as principais responsáveis pelo cenário catastrófico que se apresenta.
Enquanto o grande capital segue sem alterar seu padrão de destruição do planeta, as parcelas mais pobres da população mundial, submetidas ao subemprego e falta de moradia, com a presença maior de negros e negras, são as que mais sofrem com os efeitos do clima. Além de desabamentos, enchentes, remoções e insegurança alimentar, somam-se efeitos do clima sobre a saúde humana – mortes por frio, como vimos entre a população de rua em São Paulo, e doenças agravadas pelo forte calor, em especial sobre pessoas em situações de comorbidade, como diabetes e tromboses, e sobre a população acima de 70 anos, em uma nova face do darwinismo social.
O relatório do IPPC e as consequências dramáticas sobre a classe trabalhadora mundial mostram que a luta contra o aquecimento global e os governos negacionistas deve se tornar uma luta contra o capitalismo, antirracista e ecossocialista.
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