Pular para o conteúdo
MOVIMENTO

Escola sem vacina, é chacina!

Carta aberta ao governador do CE, Camilo Santana (PT), ao prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT) e ao movimento de professores e estudantil cearense

Afronte Ceará

No começo do mês de julho, o governador Camilo Santana deu uma série de entrevistas em que afirmou a possibilidade de antecipar para este mês a vacinação de professores da rede pública estadual de educação. A vacinação de professores e trabalhadores de instituições educacionais teve início em maio. Assim, os trabalhadores que tomaram Astrazeneca ou Pfizer, por exemplo, deveriam tomar a segunda dose somente em agosto.

Consideramos importante toda iniciativa de antecipar a vacinação em nosso estado, em particular em se tratando de professores, tendo em vista a alta incidência de casos na categoria. Segundo dados da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará, até o mês de junho mais de 1.400 profissionais da educação, da rede pública e privada, já haviam sido acometidos pela Covid-19.

Ao mesmo tempo, consideramos e entendemos a importância da escola aberta, porque é lá que as crianças e jovens recebem cuidados e alimentação, enquanto pais e mães trabalham, em especial as mulheres. 

Nós estudantes, mais do que ninguém, ansiamos voltar à sala de aula o quanto antes tendo em vista o prejuízo causado pelo ensino remoto ao nosso aprendizado, o que vem acarretando evasão, ansiedade e stress em muitos de nós alunos e professores.

Contudo, consideramos uma irresponsabilidade completa que o retorno às aulas esteja sendo cogitado a toque de caixa, sem um plano de vacinação e testagem que também contemple estudantes, sem um amplo processo de escuta das demandas da comunidade escolar e sem uma requalificação da estrutura das nossas escolas, tendo em vista que muitas delas não têm sequer equipamentos ou insumos básicos como bebedouro, álcool em gel, etc.

Registro recente de uma escola pública estadual situada em Aquiraz, na grande Fortaleza.

No que diz respeito às escolas municipais de Fortaleza, o relatório do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos do Ceará, elaborado em maio deste anos em base a um plano de inspeção de 42 escolas da capital, ilustra bem o cenário de descaso:

  1. Ventilação: 31% das 467 salas de aulas vistoriadas não apresentam condições de circulação de ar;
  2. Acesso à água: 10% das escolas informaram ter problemas de acesso à água, sendo que em uma delas o problema ocorre desde o final de 2020.
  3. Situação dos banheiros: Dos 263 banheiros existentes nas escolas visitadas, 21% encontravam-se inadequados
  4. Falta fluxo definido entre escola, unidade de saúde e Prefeitura
  5. Acessibilidade: 42,9% das escolas visitadas não apresentarem banheiros acessíveis
  6. Com a vistoria, verificou-se que das 200 escolas listadas em TAC de 2018 que previa reformas, 67% delas sequer tiveram suas obras iniciadas.

Um dos aspectos principais nesse sentido é a questão da quantidade de alunos por turma, um fator que está diretamente relacionado à contaminação do vírus e que também interfere diretamente no ensino e no aprendizado. Por isso, levantamos como nossa a bandeira da redução de alunos por turma nas escolas cearenses para assegurar que o distanciamento recomendado seja cumprido, bem como a qualidade de ensino e aprendizagem, tendo como base a média de 20 estudantes por sala de aula.

Em tempos de sofrimento e adoecimento psíquico, fator diretamente relacionado aos efeitos da pandemia (isolamento, etc), também nos parece limitado falar de retorno iminente sem um programa de recrutamento de psicólogos para dar suporte psíquico à comunidade escolar.

Já perdemos muita gente querida. Já vimos nosso país sangrar bastante nas mãos desse assassino que está na presidência. Queremos voltar às nossas escolas, mas não a todo custo e de qualquer forma. Queremos segurança (vacinação para estudantes) e requalificação de nossas escolas (profissionais de limpeza e de saúde mental, banheiros, bebedouros, salas climatizadas e sem superlotação) para voltarmos às aulas sem que o medo de levar o vírus para nossas famílias nos tire o sono.

Por tudo isso, também gritamos: Escola sem vacina, é chacina.

Estendemos esse chamado às entidades estudantis (UNE, UBES, UEE, grêmios estudantis e demais) para que, em unidade, não permitamos nenhuma forma de retorno que coloque nossas vidas em risco e nos jogue em escolas sem estrutura para nos receber.

*Instagram @afronteceara – Facebook /afronteceara 

Marcado como:
afronte / ceará