Nota da Resistência/PSOL-MA sobre os assassinatos de trabalhadores e trabalhadoras rurais no Maranhão

Maria da Luz Benício de Sousa e Reginaldo Alves Barros, assassinados no dia 3 de julho

A Resistência/PSOL-MA vem publicamente manifestar sua extrema indignação e o seu mais enfático repúdio com a escalada da violência, e suas diversas opressões, nos territórios rurais maranhenses, materializada pela expulsão de trabalhadores de suas terras, por invasões e não demarcações de comunidades indígenas e quilombolas, pelos esforços de destruição socioambiental de biomas – envenenamento por agrotóxicos e pesticidas, mineração selvagem, poluição de recursos hídricos e desmatamentos – e pelas tentativas e realizações de crimes hediondos, qual seja os assassinatos de lideranças sindicais rurais e trabalhadores do campo.

Os mais recentes casos de homicídios contra trabalhadores rurais no Maranhão ocorreram nos últimos dois meses. No último domingo, dia 11 de julho, no município de Codó, o lavrador José Francisco de Sousa Araújo foi barbaramente executado a tiros no povoado Volta da Palmeira. Somam-se a este caso, o assassinato do agricultor e defensor da reforma agrária e cercamentos dos campos naturais da Baixada Maranhense, Antônio Gonçalves Diniz, ocorrido no dia 2 de julho no município de Arari; a tentativa de assassinato do ex-dirigente do Sindicato de Trabalhadores Rurais do município de Alto Alegre do Maranhão e liderança do Projeto de Assentamento Boa Hora/Campestre, Juscelino Galvão, em 3 de julho; e o assassinato brutal e covarde do casal de trabalhadores rurais, Maria da Luz Benício e Reginaldo Alves Barros, na gleba Campina, conhecida também como comunidade Vilela, município de Junco do Maranhão. Maria da Luz era uma voz forte dos movimentos sociais da região em defesa do direito à terra, fazia parte da direção do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR) do lugar. A sua filha pequena foi encontrada viva em cima do corpo da mãe banhada de sangue.

No Brasil a presença da violência em múltiplos territórios é marcante, ela se caracteriza pela ferocidade nas relações com o outro enquanto outro ou por ser um outro, sua manifestação mais evidente é revelada pela segregação, pela espoliação, pelo genocídio e pelos massacres contra grupos humildes e pauperizados. É o exercício da perversidade e da crueldade. E o Maranhão, uma das unidades da federação mais desiguais do Brasil, possui um triste histórico de violência e de conflitos agrários, pois há uma acentuada presença de latifúndios e projetos de desenvolvimento que favorecem grandes empresas dos ramos agropecuário, mineiro e de celulose em detrimento dos modos de vida das populações que tiram seu sustento da terra.

E no atual momento histórico ainda é possível observar claramente no Brasil a ascensão de um discurso de ódio, proveniente de um governo fascista que objetiva facilitar o uso de armas de fogo por parte da população mais abastada no campo e na cidade, criminalizando movimentos sociais, sindicalistas, indígenas, quilombolas, partidos progressistas e intelectuais. Um governo que encoraja desmatadores, grileiros, mineradores e toda uma sorte de grupos sociais a direcionar seus mais repulsivos sentimentos e ações criminosas aos que lutam por justiça social e pelos Direitos Humanos dentro e fora dos limites do Maranhão.

O território maranhense ainda possui índices alarmantes de pobreza e miséria em sua população, sobretudo em diversos lugares do interior do estado, onde a insegurança alimentar, o desemprego e as condições de moradia, saúde e educação são precárias devido à dominação e à opressão oriundas de grupos políticos e econômicos locais e suas alianças para além das fronteiras do Maranhão, que contribuem para perpetuar o trabalho escravo e a concentração de terras e de riquezas, para efetivar a acumulação por despossessão, além da tentativa de manter o status quo através da servidão voluntária dos oprimidos, algo que não pode ser rompido. Por isso, toda tentativa de luta contra a dominação precisa ser repelida, não à toa, no caso dos conflitos de terras, o método é quase sempre o mesmo, crimes de encomenda através da pistolagem, um faroeste diante dos olhos das instituições, que raras vezes pune os responsáveis, mesmo com as denúncias de órgãos e ativistas.

Nós da Resistência PSOL-MA, manifestamos nosso pesar para com os amigos e familiares das vítimas no campo e repudiamos veementemente os atos de extrema violência nos territórios rurais do estado do Maranhão. Desta forma, defendemos ainda uma política voltada para a distribuição equitativa de terras, com todo o aparato técnico e logístico para que camponeses, lavradores e trabalhadores rurais possam ter condições de exercer seus modos de vida em paz com suas famílias. Por fim, exigimos do governo Flavio Dino (PSB) e das autoridades competentes uma investigação rigorosa, séria, transparente e imparcial de todos os homicídios contra cidadãos e cidadãs do campo, supracitados nesta nota, além de todos os outros casos de mesma natureza que até hoje não foram solucionados, permitindo assim uma justa reparação às famílias atingidas pela dor e a responsabilização efetiva dos envolvidos nestas atrocidades.

São Luís, 13 de julho de 2021.

Resistência/PSOL-MA