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BRASIL

Parte da esquerda no Brasil ainda não entendeu que estamos enfrentando o neofascismo

Gibran Jordão
Gabriela Biló/Estadão

“Ovelha desgarrada, vira comida de lobo”, Ditado Popular

No interior da “biodiversidade” da esquerda brasileira, analisando friamente o papel dos grandes e pequenos partidos e/ou organizações, correntes e etc … É possível perceber grandes acertos e também erros históricos, que impulsionam ou destroem essas organizações. Mas que podem ir além, levando a grandes triunfos, fazendo avançar a roda da história. Ou pode ajudar a derrotar amargamente toda uma geração, estabelecendo retrocessos incalculáveis por décadas.

Os acertos táticos e estratégicos do partido bolchevique deixaram sua assinatura em avanços históricos para boa parte da humanidade. A Revolução Russa, não só colocou a sociedade russa na vanguarda cientifica da humanidade rivalizando com os EUA, mas também obrigou a burguesia a dar concessões para classe trabalhadora européia para evitar o avanço de novos processos revolucionários. Num exemplo oposto, quando o partido comunista alemão se recusou atuar em unidade com a social democracia contra Hitler, cometeu um erro tático histórico que facilitou a ascensão do nazismo, impondo retrocessos catastróficos que ameaçaram toda a comunidade européia e o mundo.

Os exemplos do passado são educativos, resta saber se a esquerda brasileira irá considerá-los para evitar o pior. Estamos todos de acordo que desde o dia 29 de maio, foi à primeira vez que se unificou amplos setores da luta social brasileira pela derrubada do governo Bolsonaro em manifestações expressivas. E estamos também de acordo que o governo no qual estamos travando uma duríssima batalha, tem fortes tendências neofascistas e uma estratégia de golpe reacionário com apoio de frações das forças armadas. Então porque ainda há dúvida na defesa da frente única entre as organizações da classe trabalhadora? E qual é a dificuldade de entender a importância da unidade de ação com todos que querem derrubar um governo fascista?  Esses sinais nos preocupam sobre a capacidade de conseguirmos fortalecer a dinâmica de lutas que surge nesse momento para superar definitivamente a situação reacionária no qual nos encontramos desde quando o bolsonarismo assumiu o poder central do país.

Nessa altura do campeonato, é muito preocupante que ainda exista gente na esquerda que apresenta dificuldade de entender que estamos enfrentando uma espécie de neofascismo no Brasil,  com mais de meio milhão de mortos pela negligencia ao combate a covid19, com chacinas nas favelas, ameaças constantes as liberdades democráticas e com um presidente associado a milícias assassinas e corruptas que se organizam dentro e fora das forças de segurança.

EM DEFESA DA CAMPANHA NACIONAL FORA BOLSONARO!

O instrumento mais importante que a esquerda brasileira produziu até agora para enfrentar o neofascismo a altura, foi à campanha nacional Fora Bolsonaro. Nada foi capaz até hoje de mobilizar unitariamente à esquerda e o movimento social organizado com amplitude significativa. Trata-se de uma verdadeira frente única que reúne a Frente Povo Sem Medo e Frente Brasil Popular, que foi capaz de convocar e construir o 29M, 19J e 3J com sucesso nas redes e nas ruas, retomando uma contra ofensiva organizada contra o governo Bolsonaro.

Diante dessa constatação do valor e importância da Campanha Nacional Fora Bolsonaro, que tem mantido funcionamento permanente e com a necessidade de construirmos unitariamente os próximos passos do calendário de lutas. Quais os reais motivos que parte das organizações que sempre compuseram essa campanha de sucesso, resolveram rachar e fundar o movimento “povo na rua”?

A UP, MES e PCB apostam numa tática perigosa que hierarquiza como estratégia momentânea a auto construção e não a destruição do neofascismo. Reunindo em sua maioria jovens no movimento “povo na rua” e jogando desconfiança na campanha Fora Bolsonaro. Podem ter sucesso recrutando no imediato uma juventude combativa para as suas fileiras e reforçando possíveis candidaturas que se associaram a essa iniciativa. Mas a realidade é que estão de alguma forma, com essa postura, ajudando a preparar um futuro que pode ser sombrio. Pois se conseguirem definitivamente tensionar e dividir gerando desgaste e dispersão de forças no meio dessa difícil batalha, quem poderá se recuperar é o inimigo principal, chamado Jair Bolsonaro. Que por sua vez não terá pena de nenhum dos envolvidos…

Acreditamos que a defesa da campanha nacional fora bolsonaro é parte da disputa política em curso para conseguirmos impor uma derrota histórica à tentativa da extrema direta em consolidar sua hegemonia política no país. Principalmente num momento que avançamos posições, que contribuíram para desgastar ainda mais Bolsonaro, mas que temos a consciência de que falta muito para alcançarmos nosso objetivo. O inimigo está mais fraco, porem não está derrotado, ainda mobiliza base social nas ruas e nas redes e pode se recuperar se dermos margem para o erro. Além disso, o Brasil não está no mesmo patamar de mobilizações como outros países latinos americanos, como o Chile. Isso significa que a construção do calendário de lutas deve ser unitária e não uma pulverização de datas que ajudam a desgastar e esvaziar os atos e não fortalecê-los!

PCO É INIMIGO DA UNIDADE DE AÇÃO PARA DERRUBAR BOLSONARO!

Dizia Trotsky em relação ao combate ao neofascismo: “Na luta contra o fascismo, estamos prontos a fazer acordos práticos de luta com o diabo e com sua avó”.

A ascensão do neofascismo é uma ameaça política e física para as organizações da classe trabalhadora e dos movimentos sociais em geral. Não há nenhuma dúvida que o bolsonarismo e suas milícias são inimigos de morte das organizações de esquerda, do movimento negro, dos sindicatos, do MTST, MST, da UNE, do movimento feminista, LGBTQIA+, das Ongs ambientalistas, dos terreiros e religiões afro, das liberdades democráticas e dos direitos humanos…

Diante dessa situação, não há duvidas que a unidade de ação em torno de um ponto único que é a derrubada do governo Bolsonaro deve ser buscada com todos aqueles que querem o mesmo objetivo. Por isso foi absolutamente acertado a unidade em torno do super pedido de impeachment protocolado no congresso nacional através de uma iniciativa que envolve forças de esquerda e de direita. Como também seria correto fazer ações de rua unitárias em torno da derrubada do governo, assim como ações unitárias foram realizadas em torno da bandeira das DIRETAS JÁ, na década de 80, levando milhões as ruas, e contribuindo para isolar e derrotar a ditadura militar impondo o processo de redemocratização do país.

Assim, num momento onde as manifestações convocadas pela campanha Fora Bolsonaro ganham força de gravidade suficiente para atrair a base social da direita que se deslocaram em apoio aos atos, o que faz o PCO? Organiza um destacamento para agredir fisicamente setores ligados ao PSDB no meio dos atos e diante de todas as câmeras da grande mídia abrindo um imenso flanco para perdermos apoio na opinião publica que torce pela derrubada imediata de Bolsonaro.

O resultado é que agora as organizações de direita que estão a favor do impeachment de Bolsonaro vão organizar seus próprios atos entrando na disputa real pela direção da luta pelo fora Bolsonaro. O que deve chamar a atenção de todos, pois se cometermos erros significativos nos próximos atos, quem quer derrubar Bolsonaro como prioridade estratégica no momento, poderá experimentar ir para as ruas nos atos da direita no dia 12/09.

AS DIREÇÕES MAJORITÁRIAS NÃO PODEM VACILAR!

“Com grandes poderes, vem grandes responsabilidades”, Stan Lee

Apesar de todo desgaste do ultimo período e da experiência de 13 anos no governo, o PT surge como a principal força da esquerda nesse momento, dirigem a maior central sindical do país, possuem a maior bancada de deputados do congresso nacional, governam estados, prefeituras e a sua principal figura pública, lidera todas as pesquisas de intenção de votos para a presidência da republica em 2022.

Mesmo expressando no interior de sua direção diferenças publicas em relação aos atos pelo Fora Bolsonaro, com a posição ambígua de Lula em ainda não ter ido as manifestações de rua e com os flertes com setores da direta para uma aliança eleitoral. A base social petista e seus dirigentes nos movimentos sociais tem em sua maioria garantido as mobilizações, participado ativamente da campanha nacional fora bolsonaro e até agora respondido positivamente na construção de um calendário de lutas unitário, o que é muito positivo.

No entanto, não resta duvidas que seria de qualidade a presença de Lula não só na convocação das manifestações, mas também na participação ativa no 24J, como também dos próximos atos de rua. É preciso aprender com a própria experiência, não será priorizando alianças e um programa comum com a direita liberal que iremos construir uma alternativa que supere o neoliberalismo predatório no Brasil.

A frente de esquerda nas lutas como também nas eleições tem se mostrado um caminho acertado para avançarmos sobre as forças reacionárias desse país, unir à esquerda é uma tarefa na qual cada tem suas responsabilidades de acordo com o alcance de sua influencia política. E é por isso que o PT, enquanto direção majoritária desse processo de lutas não pode vacilar,isso significa fortalecer as lutas em curso, atuar na construção da frente de esquerda, manter o trabalho de base, ouvir e dar espaço para as outras forças que estão atuando em unidade e rechaçar a unidade programática com a direita neoliberal.

Derrubar Bolsonaro é uma tarefa para o agora, a maioria insatisfeita poderá ir para as ruas aos milhões se tivermos capacidade de dialogar demonstrando responsabilidade em forma de unidade nas mobilizações de rua e num programa de transição que responda as necessidades mais sentidas do povo: Pão, Vacina e Emprego!  Abaixo o governo genocida de Bolsonaro!

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