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MUNDO

Trabalhadores palestinos têm uma longa história de resistência

Joel Beinin
PhotoQuest/Getty Images

Palestinos levantam os braços em manifestação em Abou Ghosh em 1936, provavelmente votando a favor da greve geral que se tornaria a mais longa da história moderna.

Traduzido por Wilma Olmo Corrêa

A greve geral palestina de 18 de maio de 2021 se enquadra em uma história muito mais longa de mobilização de trabalhadores palestinos. Dos anos coloniais britânicos até o presente, essas lutas enfrentaram dura repressão, mas mantiveram vivo o espírito de resistência.

Em 18 de maio, todos os setores do povo palestino se uniram em uma greve geral: residentes da Cisjordânia ocupada por israelenses, Jerusalém Oriental e Faixa de Gaza, e cidadãos árabes palestinos de Israel e seus compatriotas na diáspora. A amplamente observada “greve de dignidade” lembrou duas greves gerais anteriores de todos os palestinos para fazer avançar as demandas nacionais em 1936 e 1976.

O ataque desafiou as táticas de dividir para governar que Israel implantou para dispersar e dominar os palestinos desde seu estabelecimento em 1948. Tão importante quanto isso, ele ressaltou a importância dos cidadãos palestinos de Israel, não apenas como uma força na política israelense, mas como um componente de todo o povo palestino.

O Alto Comitê de Acompanhamento para Cidadãos Árabes de Israel, o corpo dirigente não oficial dos palestinos israelenses (que compreendem cerca de 20 por cento dos cidadãos de Israel), iniciou a convocação de greve. Posteriormente, tanto o Fatah quanto o Hamas – os partidos dominantes na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, respectivamente – bem como a Autoridade Palestina o endossaram. As federações sindicais palestinas na Cisjordânia também aprovaram a greve.

“O ataque aos palestinos em Jerusalém Oriental, no bairro de Sheikh Jarrah e na mesquita al-Aqsa” e “o ataque ao público [palestino israelense] em geral e em cidades mistas em particular” motivou a greve de 18 de maio, afirmou um porta-voz do Alto Comitê de Acompanhamento. Ayman Odeh, chefe da Lista Conjunta de três partidos principalmente árabes no parlamento israelense, o Knesset, acrescentou:

A provocativa e violenta política de repressão do governo de Netanyahu falhou e não terá êxito na repressão à nossa luta ou nos desviar do nosso caminho – uma luta civil organizada e justa contra a ocupação, o bloqueio [da Faixa de Gaza], o ataque a Gaza e pela paz e igualdade.

A expressão mais visível da greve de 18 de maio foram as empresas árabes fechadas em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia, bem como nas cidades israelenses com grandes populações palestinas, como Haifa, Jaffa, Lydda e Acre. Foi amplamente observado por israelenses palestinos da classe trabalhadora e por habitantes de Jerusalém Oriental, que estão desproporcionalmente representados nos setores de construção, saneamento, hotelaria e restaurantes, bem como nas fileiras de motoristas de táxi e motoristas de ônibus. Várias centenas de trabalhadores foram demitidos por terem aderido à greve.

De acordo com a Associação de Construtores de Israel, apenas 150 trabalhadores da construção civil palestinos da Cisjordânia apareceram para trabalhar, resultando em perdas estimadas de quase US $ 40 milhões. “Se todos nós lutássemos dessa forma pelos direitos dos trabalhadores, talvez alcançássemos algo”, comentou um operador de guindaste em greve. No entanto, a maioria dos palestinos israelenses no setor de saúde, onde são particularmente indispensáveis – compreendendo 17 por cento dos médicos, 24 por cento dos enfermeiros e 47 por cento dos farmacêuticos – não aderiu à greve.

Muitos palestinos, como Mudar Younes, chefe da União Nacional de Municípios Árabes, não conseguiam se lembrar de uma ocasião anterior em que israelenses palestinos iniciaram uma greve que se espalhou para a Cisjordânia e Faixa de Gaza. A última vez que isso aconteceu foi há quarenta e cinco anos.

Dia da Terra 1976

A primeira vez em que cidadãos palestinos em todo o país resistiram às políticas israelenses como um coletivo nacional foi a greve geral do Dia da Terra em 30 de março de 1976. O Dia da Terra protestou contra o Plano de Desenvolvimento da Galileia de 1975. Seguindo as cláusulas do Plano, dois mil acres de terras palestinas de propriedade privada foram confiscadas e alocadas para a construção de Carmiel, uma cidade totalmente judia, e para cinquenta assentamentos judeus menores, a fim de “judaizar a Galileia”. As forças de segurança israelenses mataram seis manifestantes palestinos desarmados e feriram mais cem naquele dia.

A principal consequência imediata do Dia da Terra foi a consolidação de uma aliança de partidos políticos de esquerda chamada Frente Democrática pela Paz e Igualdade, liderada pelo Partido Comunista. Tornou-se o partido político mais popular entre os palestinos e os cidadãos judeus não-sionistas de Israel nos quinze anos seguintes.

Houve greves de solidariedade na Cisjordânia, Faixa de Gaza e nos campos de refugiados palestinos no Líbano no Dia da Terra de 1976. O Dia da Terra acabou se tornando um símbolo amplamente observado da conexão do povo palestino com sua terra em todas as comunidades palestinas.

O Dia da Terra 2018 deu início à Grande Marcha do Retorno, organizada por jovens da Faixa de Gaza. As manifestações semanais de sexta-feira, em vez de greves, continuaram até dezembro de 2019. Durante esse período, as forças israelenses mataram 183 palestinos, dos quais apenas uma pequena minoria era membro de grupos armados (as estimativas variam de 29 a 47). Além disso as forças israelenses também feriram mais 9.200 palestinos.

A Greve Geral e a Revolta Árabe de 1936-39

A observação do operador de guindaste sobre a greve de 18 de maio de 2021sugere uma ligação potencial entre a causa nacional palestina e as demandas de classe dos trabalhadores. Esse potencial foi realizado na greve geral de 1936 contra o projeto dos colonos sionistas e o domínio colonial britânico, durante o período de 1922 a 1948, quando a Grã-Bretanha governou a Palestina sob um mandato da Liga das Nações.

A comunidade árabe palestina conduziu a mais longa greve geral da história moderna em 1936.

Inspirada por uma greve geral síria que havia garantido a promessa da França de negociar a independência da Síria no início daquele ano, a comunidade árabe palestina conduziu a mais longa greve geral da história moderna entre 19 de abril e 16 de outubro de 1936. A greve foi a fase de abertura da Revolta árabe de 1936-39. Suas exigências eram a proibição de mais imigração judaica e vendas de terras aos judeus e pelo estabelecimento de um governo nacional – que refletisse a grande maioria árabe – responsável perante um conselho representativo.

Comitês Nacionais Árabes organizados localmente em Nablus e Jaffa iniciaram a convocação de greve. Eles imediatamente ganharam forte apoio dos trabalhadores árabes, principalmente dos trabalhadores portuários de Jaffa e condutores de veículos motorizados, bem como comerciantes urbanos e jovens nacionalistas radicais.

No entanto, alguns notáveis1 tradicionais e conservadores, incluindo grandes proprietários de terras que venderam terras aos sionistas e exploraram seus arrendatários camponeses, rapidamente tomaram a liderança da greve e da revolta árabe mais ampla. Eles formaram o Comitê Superior Árabe sob a liderança do Grande Mufti2 al-Hajj Amin al-Husayni, que posteriormente se tornou um colaborador nazista.

No verão de 1936, os camponeses confirmaram sua participação na medida que a greve se transformava em uma revolta armada no campo. Voluntários do Iraque e da Síria se juntaram à luta. Um desses voluntários, um ex-oficial do exército otomano e em seguida sírio, chamado Fawzi al-Qawuqji, se autoproclamou comandante militar da revolta. Este foi um sinal de que os palestinos comuns estavam perdendo o controle do movimento.

Al-Hajj Amin al-Husayni e o Alto Comitê Árabe conspiraram com os clientes da Grã-Bretanha, os reis do Iraque, da Arábia Saudita e Amir Abdullah da Transjordânia para encerrar a greve geral, em tempo hábil, para que fosse feita a colheita das plantações de cítricos dos “líderes” da greve. Os reis publicaram cartas proclamando de forma tola, irracional e ridícula: “Contamos com as boas intenções de nossa amiga Grã-Bretanha, que declarou que fará justiça”.

Resistindo à Comissão Peel (Lord Peel)

Em julho de 1937, uma comissão real britânica propôs dividir a Palestina em dois estados: um árabe e outro judaico, o que implicaria na transferência forçada de até 225.000 palestinos para a Transjordânia. Em resposta ao plano da Comissão Peel, ao banimento do Alto Comitê Árabe e à prisão de sua liderança, os camponeses retomaram e intensificaram a guerra de guerrilha na região montanhosa do norte após a colheita de verão.

Com os tradicionais notáveis agora desempenhando um papel menor, a revolta assumiu o caráter de uma revolução social dirigida contra os proprietários de terras e as elites urbanas. Bandos de guerrilheiros camponeses impuseram moratória a todas as dívidas, cancelaram aluguéis de apartamentos urbanos e tomaram as propriedades das pessoas ricas que moravam em meio urbano, mas que haviam fugido do país, vendendo-as em um leilão público simulado por preços nominais.

Em agosto de 1938, o movimento camponês controlava várias cidades. Os líderes rebeldes decretaram que todas as mulheres palestinas deveriam usar lenço na cabeça e os homens deveriam deixar de lado seus chapéus (Fez) de classe média e adotar o kaffiyeh, lenço tradicional dos camponeses e beduínos. Isso permitiu que os rebeldes circulassem nas cidades sem serem prontamente identificados e transformou o kaffiyeh em um símbolo nacional palestino.

O Exército britânico, em colaboração com as milícias sionistas, reprimiu brutalmente a revolta árabe, matando quatro mil rebeldes e ferindo quinze mil. Prenderam mais de quinze mil pessoas e deportaram vários líderes entre os notáveis.

Em 1938-39, partidários de facções entre os notáveis, concorrentes entre si, começaram a assassinar seus rivais em uma guerra civil de pequena escala. Entre os alvos estava Hasan Sidqi al-Dajani, chefe do sindicato dos motoristas árabes. Ele estava alinhado com uma facção oposta à al-Hajj Amin al-Husayni, cujos apoiadores foram os prováveis assassinos.

Enquanto isso, os sionistas aproveitaram a oportunidade da greve geral árabe para construir um novo porto em Tel Aviv, totalmente judaico, e expandir a força de trabalho judaica no porto de Haifa. A combinação de repressão maciça, dissensão interna, vazio de liderança e deslocamento econômico fez com que os árabes palestinos mais tarde estivessem incapazes de oferecer uma resistência substancial à conquista sionista de 78% da Palestina durante a Guerra Árabe-Israelense de 1948, conhecida como Nakba.

Greves trabalhistas durante a Era do Mandato

Como Zachary Lockman mostra em sua história das relações entre árabes e judeus no movimento trabalhista durante o Mandato britânico sobre a Palestina, os trabalhadores árabes palestinos, que começaram a se engajar em greve por ganhos econômicos já na década de 1920, enfrentaram um duplo desafio.

Primeiro, a tendência política dominante na federação sindical sionista, a Histadrut, rejeitou a solidariedade da classe trabalhadora árabe-judia. A Histadrut também possuía uma empresa de construção e muitas empresas relacionadas ao movimento sindical de assentamento sionista. A Histadrut procurou garantir emprego para trabalhadores judeus no maior número possível de locais de trabalho e temia que, se os trabalhadores árabes palestinos ganhassem experiência em organizações sindicais, isso poderia aumentar suas habilidades políticas bem como sua consciência nacionalista.

Em segundo lugar, os nacionalistas notáveis buscaram converter o nascente movimento operário árabe em seus clientes e desviar seus apoiadores da noção de consciência de classe.

Os trabalhadores árabes e judeus se organizaram em conjunto, já na formação da União dos Trabalhadores das Ferrovias, Correios e Telégrafos em 1922. Mas a liderança da Histadrut minou sua unidade. Em 1925, a maioria dos trabalhadores árabes se retirou e se juntou à Sociedade de Trabalhadores Árabes da Palestina (PAWS, em sua sigla em inglês).

No entanto, houve uma série de notáveis ações conjuntas de trabalhadores árabes e judeus durante os anos 1930. Em agosto de 1931, uma greve de dez dias de motoristas de caminhão e ônibus, que protestavam contra os novos impostos sobre a gasolina e impostos sobre o transporte motorizado, imobilizou o tráfego em todo o país.

Em fevereiro de 1935, centenas de trabalhadores árabes e judeus empregados pela Iraq Petroleum Company em Haifa fizeram greve por salários mais altos, menos horas de trabalho e melhores condições de trabalho. Sua ação inspirou outros trabalhadores na área de Haifa, o centro industrial da Palestina, incluindo os trabalhadores ferroviários que agora eram representados por dois sindicatos, um inteiramente árabe e outro principalmente judeu. A Histadrut minou a solidariedade árabe-judaica ao tentar usar essa insurgência trabalhista para conseguir mais judeus contratados – a mesma questão que havia quebrado a unidade dos ferroviários árabes e judeus uma década antes.

A pedreira de Even Vesid e o forno de calcário eram propriedade conjunta do escritório de construção da Histadrut e de um rico empresário árabe de Haifa, Tahar Qaraman. Os proprietários pagavam aos trabalhadores árabes doze piastras por dia e aos trabalhadores judeus, vinte e cinco piastras quase pelo mesmo trabalho. Os trabalhadores árabes entraram em greve em abril de 1935, exigindo um salário diário de quinze piastras, uma jornada de oito horas e a remoção de um capataz odiado. A Histadrut, em seu papel de empregador, lutou contra a greve, mas acabou envergonhada e aumentou os salários dos trabalhadores árabes.

A greve da Even Vesid exemplifica os limites da solidariedade da classe trabalhadora árabe-judaica na Palestina. A lucratividade da empresa e os empregos dos trabalhadores judeus mais bem pagos dependiam de trabalhadores árabes recebendo salários abaixo da média, embora isso contradissesse a política da Histadrut de contratar apenas trabalhadores judeus.

Em 1944, havia cem mil árabes palestinos na força de trabalho assalariada, e seu número aumentou devido às necessidades dos militares britânicos durante a Segunda Guerra. Um número substancial deles aderiu ou estava sob a influência da Federação de Sindicatos e Sociedades Trabalhistas Árabes, estabelecida por membros árabes dissidentes do Partido Comunista Palestino em 1942. Ao final da Segunda Guerra Mundial, os comunistas lideravam cerca de 30% das organizações da classe trabalhadora árabe na Palestina.

Ameaçada pelo crescimento da radicalização do sindicalismo árabe, para além de seu controle, a Histadrut começou a competir com a maior federação sindical árabe, a PAWS, para representar trabalhadores árabes e judeus nos campos militares britânicos. Em 10 de maio de 1943, sem consultar os líderes do PAWS, a Histadrut convocou uma greve dos trabalhadores das bases militares, buscando um subsídio para custo de vida que os funcionários regulares do governo haviam recebido anteriormente. Os líderes do PAWS consideraram a ação da Histadrut um desafio político e conclamaram os trabalhadores árabes a não aderirem à greve. A maioria não aderiu.

Movimentos Rivais

Esta greve dividiu o Partido Comunista Palestino em uma facção composta de somente judeus, cujos membros apoiaram a greve, e membros árabes, que se opuseram a ela. Estes últimos estabeleceram a Liga de Libertação Nacional (NLL, em sua sigla em inglês). O NLL promoveu tanto a luta nacional árabe palestina pela independência do imperialismo britânico quanto o sindicalismo árabe. Em 1945, o NLL estabeleceu o Congresso dos Trabalhadores Árabes (AWC, em sua sigla em inglês), que logo desafiou o PAWS pela hegemonia entre os trabalhadores árabes.

Enquanto as tensões nacionais entre árabes e judeus se intensificaram após a Segunda Guerra Mundial, as ações conjuntas de trabalhadores árabes e judeus chegaram a um ponto alto. Isso ocorreu em parte porque o NLL e o AWC se distinguiram entre o movimento sionista e a comunidade judaica, especialmente entre os trabalhadores, e defenderam a cooperação entre trabalhadores árabes e judeus em questões econômicas.

Em setembro de 1945, o AWC e o Histadrut lideraram conjuntamente uma greve de sete dias de 1.300 trabalhadores árabes e judeus empregados em oficinas militares britânicas nos arredores de Tel Aviv. Os grevistas exigiram o reconhecimento de seu comitê conjunto, um subsídio de custo de vida e a reintegração de trabalhadores injustamente demitidos. Eles organizaram uma marcha conjunta pelas ruas de Tel Aviv, cantando em hebraico e árabe: “Viva a unidade entre os trabalhadores árabes e judeus!” – uma visão extraordinária na principal cidade judia da Palestina. Mas a greve foi apenas parcialmente bem-sucedida.

Durante o outono de 1945, um comitê conjunto da Histadrut e do PAWS negociou e venceu as demandas dos 1.800 trabalhadores nas Refinarias Consolidadas de Haifa, o maior empregador industrial da Palestina. O Histadrut e o AWC entraram em uma greve conjunta de doze dias dos trabalhadores da Socony Vacuum em abril de 1946. O PAWS, sob pressão dos partidários de al-Hajj Amin al-Husayni, recusou-se a aderir à greve, que, no entanto, conseguiu alguns ganhos para os trabalhadores.

Outra greve árabe-judaica eclodiu nas Refinarias Consolidadas em janeiro de 1947. Também foi prejudicada pela liderança do PAWS. Em março daquele ano, 2.500 árabes – a grande maioria da força de trabalho – e judeus da Iraq Petroleum Company fizeram greve por quatorze dias e obtiveram uma vitória parcial.

A maior ação trabalhista conjunta entre árabes e judeus do pós-guerra foi a greve de abril de 1946 dos operários de colarinho azul e branco dos correios, telégrafos e telefones e ferroviários em todo o país – a primeira greve geral dos trabalhadores das ferrovias e dos correios na Palestina. Eles logo se juntaram a funcionários públicos e departamentos de Obras Públicas e trabalhadores portuários, com cerca de 23 mil trabalhadores participando no total.

A incapacitada administração do Mandato Britânico teve que ceder a muitas das demandas dos grevistas, incluindo aumentos salariais, um subsídio de custo de vida e melhorias nas pensões. Nem os líderes do Histadrut nem os nacionalistas palestinos conservadores deram as boas-vindas a essa expressão de solidariedade árabe-judaica.

Após a Nakba

A guerra árabe-israelense de 1948, a Nakba, dispersou e enfraqueceu a classe trabalhadora árabe palestina. Os ex-membros da Liga de Libertação Nacional que viviam na Cisjordânia, que estabeleceram o Partido Comunista da Jordânia, forneciam a única continuidade organizacional.

A maioria dos 156.000 palestinos que permaneceram no que se tornou Israel após a guerra foram governados por um governo militar de 1949 a 1966. As autoridades israelenses regulamentaram rigidamente seus movimentos e empregos fora de suas aldeias. Nessas circunstâncias, engajar-se em greves estava fora de questão.

Além disso, o governo israelense proibiu o Congresso dos Trabalhadores Árabes, que mal havia sobrevivido à Guerra de 1948, antes de permitir que os israelenses palestinos se unissem aos sindicatos da Histadrut em 1952. Muitos foram, no entanto, excluídos da adesão ao Congresso e tiveram empregos negados com base nisso. Somente em 1965 os cidadãos árabes palestinos puderam votar nas eleições do Histadrut como membros plenos.

No restante do que tinha sido o Mandato da Palestina, a Transjordânia anexou a Cisjordânia após a guerra de 1948 para formar o Reino Hachemita da Jordânia. Os governantes do Reino proibiram as greves. Até hoje, elas ainda são fortemente limitadas pela Lei do Trabalho de 1996. O Egito administrou a Faixa de Gaza de 1949 a 1967. As greves se tornaram efetivamente ilegais no Egito depois que Gamal Abdel Nasser consolidou seu poder em 1954, e a mesma restrição se aplicou à Faixa de Gaza.

Os Territórios Ocupados desde 1967

Depois que Israel ocupou a Cisjordânia e a Faixa de Gaza durante a guerra árabe-israelense de 1967, dezenas de milhares de palestinos desses territórios começaram a trabalhar em Israel e, paradoxalmente, na construção de assentamentos judaicos. Bem mais de 100.000 palestinos tinham permissão para trabalhar em Israel em 1990 e dezenas de milhares mais o fizeram sem permissão – constituindo talvez até um terço da força de trabalho assalariada palestina.

Suas condições de trabalho eram muito precárias. Eles não tinham permissão para ingressar na Histadrut e eram inelegíveis para a maioria de seus benefícios sociais, embora pagassem uma “taxa de organização” igual a 1% de seus salários. Supostamente, isso cobriria o custo da negociação coletiva, na qual eles nunca estiveram envolvidos. Muitos recebiam menos do que o salário mínimo legal, mas fazer greve para remediar isso estava fora de questão.

O Partido Comunista da Jordânia foi a única tendência política que tentou organizar os trabalhadores da Cisjordânia antes da ocupação israelense de 1967. Mas o partido era ilegal e seus resultados limitados. No final dos anos 1970, as quatro principais facções políticas palestinas – Fatah, a Frente Popular para a Libertação da Palestina, a Frente Democrática para a Libertação da Palestina e o Partido Comunista – organizaram blocos sindicais concorrentes levando a uma divisão definitiva em 1981.

Além disso, o trabalho sindical estava subordinado à luta nacional, pois os líderes sindicais decidiram “congelar” a luta de classes porque “descobrimos que o perigo da ocupação era maior do que o dos capitalistas”. Enquanto alguns empresários cooperavam com os sindicatos para resolver disputas trabalhistas, outros agiam como capitalistas “normais”, obstruindo os esforços dos trabalhadores para formar e ingressar em sindicatos além de jogar um bloco sindical contra outro.

No entanto, houve um punhado de greves contra empregadores palestinos na Cisjordânia até o final da década de 1980. As mais intensas foram as greves dos profissionais da educação: uma greve fracassada de cem dias dos professores das escolas públicas palestinas empregados pelo governo israelense em 1981 e uma greve de três meses parcialmente bem-sucedida na Universidade Birzeit em 1986. Esta última frustrou o plano da instituição de despedir todos os seus funcionários e recontratá-los com salários mais baixos em resposta a uma crise financeira.

A Primeira Intifada de 1987-1991 viu muitas greves na Cisjordânia e na Faixa de Gaza para fazer avançar as demandas nacionais palestinas. Elas eram semelhantes em caráter à greve geral deste ano, embora os cidadãos palestinos de Israel não tenham aderido a elas. Foi somente nas fases posteriores da Intifada que as demandas dos trabalhadores como tais foram levantadas.

Após a Guerra do Golfo de 1991, Israel restringiu drasticamente a entrada de trabalhadores palestinos da Cisjordânia e da Faixa de Gaza. Cerca de oitenta mil cidadãos da Cisjordânia obtiveram autorizações para trabalhar em Israel nos últimos anos, principalmente na construção, além de cerca de trinta mil que trabalham lá sem autorização. Estes foram os trabalhadores que desativaram a indústria de construção de Israel em 18 de maio. Outros 30 mil trabalham em zonas industriais operadas por Israel nas margens da Cisjordânia.

Apesar dos esforços de reunificação, a rivalidade entre sindicatos alinhados com diferentes facções políticas e as práticas não democráticas consolidadas na política formal na Cisjordânia e Faixa de Gaza desde o acordo de Oslo (de 1993) continuam a enfraquecer o sindicalismo palestino. No entanto, houve greves notáveis de motoristas de táxi na Cisjordânia em 2012 e de professores em 2016.

Os professores, que não recebiam seu pagamento integral há meses, fizeram greve novamente em outubro e novembro de 2020. Apoiadores da Autoridade Palestina (PA, no original em inglês) criticaram esta e outras greves de funcionários da PA. Na verdade, a PA frequentemente não tem os fundos para pagar seus 130.000 funcionários porque Israel se recusa periodicamente a transferir direitos e receitas fiscais para ela, conforme os termos dos Acordos de Oslo exigem.

Em janeiro de 2021, oitenta trabalhadores palestinos entraram em greve na fábrica Yamit, que fabrica filtros de água no parque industrial Nitzanei Shalom, operado por israelenses, perto de Tulkarem. Eles haviam se organizado com um sindicato de esquerda independente israelense chamado Maan, que era o único sindicato disposto a se organizar nesta situação politicamente carregada. Esta foi a primeira ação desse tipo em um parque industrial da Cisjordânia, onde todos os proprietários são israelenses, mas as leis trabalhistas israelenses não cobrem os trabalhadores palestinos porque seu local de trabalho não é tecnicamente em Israel.

No entanto, ainda não há uma história recente substancial de sindicalismo palestino independente e funcional na Cisjordânia ou na Faixa de Gaza, e os cidadãos palestinos de Israel permanecem integrados à Histadrut. Esses fatores significaram que a greve geral palestina de 18 de maio de 2021 só poderia ser uma greve principalmente comercial da qual participaram importantes setores dos trabalhadores, mas sem afirmar suas próprias reivindicações de classe autônoma.

SOBRE O AUTOR

Joel Beinin é o professor de história da Donald J. McLachlan e professor de história do Oriente Médio na Universidade de Stanford. Seu livro mais recente é “Workers and Thieves: Labour Movements and Popular Uprisings in Tunisia and Egypt”, (Trabalhadores e Ladrões: Movimentos Trabalhistas e Revoltas Populares na Tunísia e no Egito” (Stanford University Press, 2016).

1 Os “notáveis” eram membros de famílias tradicionais que haviam ocupado algum cargo religioso ou administrativo durante o domínio do Império Otomano no Oriente Médio. Por isso, tinham legitimidade entre as populações urbanas e rurais das regiões árabes daquela região. Os notáveis agiam como mediadores entre o governo otomano e as populações locais. Estavam no topo da hierarquia política local. Quando os britânicos assumem o controle da Palestina, mantiveram o diálogo com os notáveis e demais lideranças palestinas tradicionais, mas sua política fundamental foi a de impulsionar a colonização sionista como auxiliar para dominar a população local. Ao final dos anos 1930, essa aliança se enfraquece e surgem conflitos entre o império britânico e os colonos que, fortalecidos, buscavam a formação de um estado próprio (N.E).
2 Um Mufti é entre os povos islâmicos, um jurisconsulto supremo e intérprete qualificado do Alcorão para resolver os pontos controvertidos da lei. Em alguns países, são nomeados oficialmente

Marcado como:
Israel / palestina