Pular para o conteúdo
BRASIL

Não há clima que resista ao capitalismo: ecossocialismo ou barbárie

Daniel Vitor*, do Rio de Janeiro, RJ
Jennifer Gauthier/Reuters

Um homem se refresca das temperaturas escaldantes de uma onda de calor em Vancouver, Canadá

Nesta semana diversos meios noticiaram eventos extremos de mudanças climáticas em diversos lugares do mundo. Enquanto países do sul global como Uruguai, Argentina e Paraguai tiveram registros recordes de baixas temperaturas, países do norte como Canadá e EUA passam por ondas de calor que ultrapassam registros nunca visto antes. No Canadá, até o último levantamento do dia 01/07 da polícia de Vancouver, já chegam a mais de 480 mortes devido a onda histórica de calor que também afeta o oeste dos EUA, chegando a máximas de 49,5º C.

Não é de agora que vemos notícias como essas acerca dos efeitos que o aquecimento global com o aumento de emissão dos gases de efeito estufa vem promovendo no planeta. A ocorrência de ondas de temperaturas extremas como essas, são o que cientistas de todo o mundo já vem alertando desde o século passado, sendo esses sinais a evidência de uma resposta que o planeta vem dando acerca do esgotamento dos recursos renováveis e não renováveis existentes e a impossibilidade da continuidade do modo de vida no atual modelo do sistema capitalista.

O problema do aquecimento global e a mudança dos padrões climáticos é só a ponta do iceberg que está diante de nós. O agravamento de processos migratórios forçados devido a eventos climáticos, aumento do nível dos oceanos, desmatamentos em larga escala, pandemia do coronavírus, surtos de epidemias a exemplos de dengue e chikungunya, insegurança alimentar, desaparecimento de espécies, incêndios florestais, comida envenenada, desmonte de órgãos de fiscalizações e políticas ambientais são exemplos de aspectos sociais e ambientais que estão intrinsicamente relacionados frutos do modo de produção existente. Diante disso, nos últimos anos o debate e a questão socioambiental se fez cada vez mais presente a nível nacional e internacional trazido por movimentos, entidades e partidos políticos das mais diversas matrizes no plano ideológico.

A questão ambiental é um impasse para a sobrevivência humana na terra. As consequências das mudanças climáticas vêm atingindo sobretudo as populações historicamente mais vulneráveis como os povos negros e indígenas, caiçaras, quilombolas, ribeirinhos, quebradeiras de coco, seringueiros que tem uma relação em sua maioria das vezes sagrada com o natural e com o avanço da destruição de seus territórios impacta diretamente, sobretudo, a existência desses povos, evidenciando o quanto o racismo ambiental é sistemático na eliminação da vida dos povos originários do planeta.

Não podemos restringir o debate a uma mera questão de dados e previsões científicas. É necessário politizar o debate socioambiental e acima de tudo compreender e desnudar a ilusão de possibilidade de desenvolvimento sustentável dentro do sistema capitalista. É impossível conciliar o equilíbrio do meio ambiente, seus recursos naturais e a vida humana na terra, com a degradação e acumulação infinita do sistema capitalista. O desenvolvimento acelerado e catastrófico das forças produtivas elevando a graus estratosféricos a degradação ambiental e afetando a qualidade de vida sobretudo nos grandes centros urbanos nos aponta que não existe futuro no capitalismo.

É possível haver alternativa?

Diante do colocado é tarefa dos ecossocialistas o apontamento do ecossocialismo como horizonte possível de projeto alternativo de sociedade para reverter as mudanças profundas e aceleradas pelas quais nosso planeta vem enfrentando, além de combater e desmascarar falsas alternativas que propõe um ecocapitalismo na tentativa de ecologizar um sistema que já não há mais nada o que oferecer. É urgente avançar e sair da paralisia teórica e prática especialmente dentro do campo marxista e ter ambição de elaborações que apontem uma reconfiguração para o problema da encruzilhada climática que já está em curso.

Contra a concepção de um “socialismo” produtivista devemos lutar por um projeto socialista que tenha em seu programa como cerne o combate radical que atinja a raiz do problema que coloca em conflito a humanidade com a natureza. Um projeto de sociedade que tenha a compreensão da incompatibilidade da expansão irrefreável do lucro e do mercado e as exigências de conservação do meio ambiente ecologicamente equilibrado, e que articule as ideias fundamentais do socialismo marxista a par do acúmulo acerca das críticas ecológicas. Estamos diante de uma emergência climática e uma crise ecológica global e a permanência e continuidade do sistema capitalista é uma ameaça a vida humana na terra.

As recentes mobilizações de massas e processos de organizações políticas em defesa do clima a exemplo da Greve global pelo clima, com forte protagonismo da juventude é uma resposta diante da predação capitalista e coloca pra nossa geração a tarefa central de travarmos uma luta intergeracional que garanta o direito a vida das presentes e futuras gerações. É urgente um mundo novo que a justiça ambiental e reversão das desigualdades sócio históricas e territoriais nos permita um novo estilo de vida em que não mais enxergue a natureza e os seres humanos como mercadoria com uma lógica infinita de lucro, um mundo que respeite os povos originários, que garanta comida saudável e sem veneno na mesa de todes, com um outro modelo de matriz energética para as cidades com tecnologias sustentáveis, fontes não-poluentes e limpas e que acima de tudo tenha a defesa da vida como elemento principal.

Não há clima que resista ao capitalismo. O nosso tempo está acabando, é ecossocialismo ou extinção!

*Daniel Vitor é técnico ambiental, estudante de Relações Internacionais na UFRJ e militante do movimento de juventude Afronte!