Nesta semana diversos meios noticiaram eventos extremos de mudanças climáticas em diversos lugares do mundo. Enquanto países do sul global como Uruguai, Argentina e Paraguai tiveram registros recordes de baixas temperaturas, países do norte como Canadá e EUA passam por ondas de calor que ultrapassam registros nunca visto antes. No Canadá, até o último levantamento do dia 01/07 da polícia de Vancouver, já chegam a mais de 480 mortes devido a onda histórica de calor que também afeta o oeste dos EUA, chegando a máximas de 49,5º C.
Não é de agora que vemos notícias como essas acerca dos efeitos que o aquecimento global com o aumento de emissão dos gases de efeito estufa vem promovendo no planeta. A ocorrência de ondas de temperaturas extremas como essas, são o que cientistas de todo o mundo já vem alertando desde o século passado, sendo esses sinais a evidência de uma resposta que o planeta vem dando acerca do esgotamento dos recursos renováveis e não renováveis existentes e a impossibilidade da continuidade do modo de vida no atual modelo do sistema capitalista.
O problema do aquecimento global e a mudança dos padrões climáticos é só a ponta do iceberg que está diante de nós. O agravamento de processos migratórios forçados devido a eventos climáticos, aumento do nível dos oceanos, desmatamentos em larga escala, pandemia do coronavírus, surtos de epidemias a exemplos de dengue e chikungunya, insegurança alimentar, desaparecimento de espécies, incêndios florestais, comida envenenada, desmonte de órgãos de fiscalizações e políticas ambientais são exemplos de aspectos sociais e ambientais que estão intrinsicamente relacionados frutos do modo de produção existente. Diante disso, nos últimos anos o debate e a questão socioambiental se fez cada vez mais presente a nível nacional e internacional trazido por movimentos, entidades e partidos políticos das mais diversas matrizes no plano ideológico.
A questão ambiental é um impasse para a sobrevivência humana na terra. As consequências das mudanças climáticas vêm atingindo sobretudo as populações historicamente mais vulneráveis como os povos negros e indígenas, caiçaras, quilombolas, ribeirinhos, quebradeiras de coco, seringueiros que tem uma relação em sua maioria das vezes sagrada com o natural e com o avanço da destruição de seus territórios impacta diretamente, sobretudo, a existência desses povos, evidenciando o quanto o racismo ambiental é sistemático na eliminação da vida dos povos originários do planeta.
Não podemos restringir o debate a uma mera questão de dados e previsões científicas. É necessário politizar o debate socioambiental e acima de tudo compreender e desnudar a ilusão de possibilidade de desenvolvimento sustentável dentro do sistema capitalista. É impossível conciliar o equilíbrio do meio ambiente, seus recursos naturais e a vida humana na terra, com a degradação e acumulação infinita do sistema capitalista. O desenvolvimento acelerado e catastrófico das forças produtivas elevando a graus estratosféricos a degradação ambiental e afetando a qualidade de vida sobretudo nos grandes centros urbanos nos aponta que não existe futuro no capitalismo.
É possível haver alternativa?
Diante do colocado é tarefa dos ecossocialistas o apontamento do ecossocialismo como horizonte possível de projeto alternativo de sociedade para reverter as mudanças profundas e aceleradas pelas quais nosso planeta vem enfrentando, além de combater e desmascarar falsas alternativas que propõe um ecocapitalismo na tentativa de ecologizar um sistema que já não há mais nada o que oferecer. É urgente avançar e sair da paralisia teórica e prática especialmente dentro do campo marxista e ter ambição de elaborações que apontem uma reconfiguração para o problema da encruzilhada climática que já está em curso.
Contra a concepção de um “socialismo” produtivista devemos lutar por um projeto socialista que tenha em seu programa como cerne o combate radical que atinja a raiz do problema que coloca em conflito a humanidade com a natureza. Um projeto de sociedade que tenha a compreensão da incompatibilidade da expansão irrefreável do lucro e do mercado e as exigências de conservação do meio ambiente ecologicamente equilibrado, e que articule as ideias fundamentais do socialismo marxista a par do acúmulo acerca das críticas ecológicas. Estamos diante de uma emergência climática e uma crise ecológica global e a permanência e continuidade do sistema capitalista é uma ameaça a vida humana na terra.
As recentes mobilizações de massas e processos de organizações políticas em defesa do clima a exemplo da Greve global pelo clima, com forte protagonismo da juventude é uma resposta diante da predação capitalista e coloca pra nossa geração a tarefa central de travarmos uma luta intergeracional que garanta o direito a vida das presentes e futuras gerações. É urgente um mundo novo que a justiça ambiental e reversão das desigualdades sócio históricas e territoriais nos permita um novo estilo de vida em que não mais enxergue a natureza e os seres humanos como mercadoria com uma lógica infinita de lucro, um mundo que respeite os povos originários, que garanta comida saudável e sem veneno na mesa de todes, com um outro modelo de matriz energética para as cidades com tecnologias sustentáveis, fontes não-poluentes e limpas e que acima de tudo tenha a defesa da vida como elemento principal.
Não há clima que resista ao capitalismo. O nosso tempo está acabando, é ecossocialismo ou extinção!
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