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Geração 68: Teimando, com a História na mão!

Neste sábado (26), na Cinelândia, às 10h, ocorrerá um ato simbólico, lembrando os 53 anos da passeata dos Cem Mil e o Dia Internacional contra a Tortura.

Evandro Teixeira

Chico Alencar

Chico Alencar é professor de História graduado pela UFF, mestre em Educação pela FGV e doutorando na UFRJ. Tem 30 anos de experiência na política institucional, já tendo sido Deputado Federal por quatro legislaturas. Ganhou nove vezes o prêmio de “Melhor Deputado” do site Congresso em Foco e foi escolhido por jornalistas o parlamentar mais atuante do Brasil. Chico Alencar foi eleito em 2022 com 115.023 votos pelo PSOL-RJ para mais um mandato de Deputado Federal.

Naqueles anos 60 do século passado nós tínhamos a certeza de que estávamos mudando o mundo. Havia uma linda maré da juventude em quase todos os países. Também no Brasil.

As instituições, os costumes, todas as “velhas formas do viver” estavam em questão. Tanto o sistema capitalista quanto o “socialismo real”, burocrático e centralizado, eram contestados.

No Brasil, o regime autoritário implantado pelo golpe empresarial-militar de 1964 era denunciado nas ruas, em manifestações lideradas pelos estudantes: “Abaixo a ditadura!”, “O povo no poder!”, “Mais verbas para a Educação, menos canhão!” eram algumas das palavras de ordem. Operários faziam greves, como as de Contagem e Osasco, contra o arrocho salarial. A adesão popular crescia.

Meninas/os, eu vi e vivi.

Meninas/os, eu vi e vivi. Pouco mais que um adolescente, participei, há 53 anos, da histórica Passeata dos Cem Mil. Era estudante secundarista do Colégio de Aplicação da UEG, hoje UERJ.

Naquela gigantesca caminhada, que começou na Cinelândia, todos éramos diversos, unidos e internacionalistas. Encarnávamos a luta dos vietcongs contra as forças invasoras dos EUA, a não violência ativa, Luther King à frente, pelos direitos civis dos negros, os estudantes franceses contra De Gaulle e seu “poder senil”, a guerrilha derrotada do Che na selva boliviana.

Caminhando e cantando, entoávamos nossos sonhos por uma outra sociedade possível, de igualdade, liberdade, justiça e paz.

Até a conservadora Igreja Católica se manifestava naqueles tempos mudancistas: “não é lícito aumentar a riqueza dos ricos e o poder dos fortes, confirmando a miséria dos pobres e tornando maior a escravidão dos oprimidos”, afirmava a encíclica Populorum Progresso (sobre o Progresso dos Povos), do papa Paulo VI, que inclusive defendia a insurreição armada “em caso de tirania prolongada”.

Quanto mais a resistência crescia aqui, mais o regime se fechava, culminando com o AI-5, que impôs longo e trevoso tempo de terror oficial, de censura, tortura e desaparecimentos políticos. Tempos de horror, dos quais o governo federal atual tem saudade!

“Nossa geração teve pouco tempo/ começou pelo fim/ mas foi bela nossa procura/ ah, como foi bela nossa procura/ mesmo com tanta ilusão perdida, quebrada/ mesmo com tanto caco de sonho/ onde até hoje a gente se corta” (Alex Polari, do livro ‘Inventário de cicatrizes’).

Tudo isso será relembrado neste sábado (26), na Cinelândia, às 10h: 53 anos da passeata dos Cem Mil e Dia Internacional contra a Tortura.