Vereador bolsonarista persegue professora de Vitória (ES), por atividade sobre mês do Orgulho LGBT
Vereador esteve na escola e tentou intimidar professora, após atividade sobre homofobia e orientação sexual com estudantes
da redação
Publicado em: Modificado em: 28/08/2022 02h48
Reprodução
Vereador Gilvan da Federal (Patriota)
(Texto atualizado em 21/06, às 20h50)
Na sexta-feira, 18, o vereador Gilvan da Federal (Patriota) esteve na escola estadual Prof. Renato José da Costa Pacheco, em Vitória (ES) e abordou a professora Rafaella Machado, questionando sobre uma atividade que a professora está organizando com seus alunos, na qual a temática LGBTQI+ será abordado. O vereador entrou na escola, pediu esclarecimentos e, diante da atitude firme da educadora, que disse que procurasse a pedagoga da escola e deu-lhe as costas, ameaçou tomar providências contra a profissional. Em seguida, em áudios que circulam em grupos de whatsapp, fez ameaças contra Rafaella e diz que pretende “deixá-la acuada” e que iria aguardar ela sair na segunda-feira e que ia “bater-boca”.
Em função disso, a professora tem recebido mensagens de solidariedade – uma nota pública foi produzida, com dezenas de assinaturas (leia abaixo) – e uma manifestação foi realizada no final da tarde desta segunda-feira, 21, na frente da escola, em seu apoio. O ato contra o preconceito reuniu entidades da educação e do movimento LGBTQI+, contra a postura homofóbica do parlamentar, realizada no mês de junho, mês do Orgulho LGBT. O vereador não apareceu.
No ato, Rafaella mandou recado ao vereador, dizendo que não iria se sentir acuada. “Temos diversidade na escola, a diversidade faz parte da sociedade. Eu não vou deixar de falar sobre homofobia, sobre racismo, sobre empoderamento feminino. Eu não vou deixar de falar sobre nada porque esse sujeito considera errado. O errado é ele!”
VEJA ABAIXO A TRANSMISSÃO AO VIVO DO ATO
A nota divulgada pelas entidades reforça o caráter pedagógico do trabalho proposto: “O tema trabalhado em sala de aula pela professora Rafaella Machado está em completo acordo com todos os documentos oficiais que orientam a educação brasileira. O trabalho proposto pela professora é resultado de um amplo debate realizado no interior da escola e que envolve pedagogos e demais professores e professoras da unidade escolar. É portanto uma proposta educacional pensada a muitas cabeças e orientada pelo currículo da escola pública do Espírito Santo.” O trabalho apresentado aos alunos consistia de um texto em inglês sobre o Mês do Orgulho LGBT e a revolta de Stonewall, com algumas perguntas sobre o conteúdo.
No twitter, a vereadora Camila Valadão (PSOL) repudiou a ida do vereador até à escola e publicou uma lista do que um vereador pode e o que não pode fazer nas escolas, entre elas, “Interferir em uma aula ou questionar os conteúdos ou estratégias didáticas”. A lista foi retirada de reportagem da revista Nova Escola, uma das mais tradicionais publicações pedagógicas do país.
A vereadora, assim como se repete em vários parlamentos em todo o país, tem sido alvo de sucessivos ataques bolsonaristas. Camila foi vítima de um ataque do vereador Gilvan da Federal na sessão do dia 8 de março, questionando a Camila por estar usando uma roupa “não adequada” na sessão, com o ombro aparecendo, acusando-a de “não se dar ao respeito”. A absurda violência política, repudiada por todo o movimento feminista do país, não pareceu tão absurda assim para os demais parlamentares de Vitória, que simplesmente decidiram arquivar a denúncia apresentada contra Gilvan.
A impunidade parece servir de estímulo para que o vereador prossiga com seus ataques à esquerda – a qual acusa em plenário de proteger criminosos e pedófilos – e a professores. O vereador, recentemente, conseguiu aprovar um projeto inspirado no escola sem partido, que prevê até multa e demissão para professores que realizem atividades que debatam educação sexual e formação moral e religiosa, sem aprovação do conteúdo previamente pelos pais. O projeto aguarda a sanção do prefeito e, segundo especialistas ouvidos pelo jornal A Gazeta, de Vitória, é claramente inconstitucional. A justificativa do vereador – uma provocação – é impedir a exibição de pornografia aos alunos, como se isso ocorresse e como se não fosse um crime previsto em lei.
Parte dos ataques parecem ser uma estratégia para garantir visibilidade ao parlamentar – figura irrelevante na política, foi eleito com apenas 1.560 votos em 2020, apoiado no discurso conservador, de ódio e vinculado ao presidente Bolsonaro e até a monarquia. Camila Valadão, do PSOL, foi a segunda mais votada da cidade, com 5.625 votos.
Leia abaixo a nota de solidariedade
Nota de solidariedade à professora Rafaella Machado contra os ataques promovidos pelo vereador Gilvan da Federal
O coletivo Luta Unificada dos Trabalhadores da Educação do Espírito Santo – LUTE-ES e demais entidades abaixo-assinadas vêm a público repudiar a perseguição que a professora de inglês da EEEM “Prof. Renato José da Costa Pacheco” Rafaella Machado vem sofrendo por parte de um vereador do município de Vitória, Gilvan da Federal. A perseguição acontece em virtude de uma atividade sugerida pela professora aos estudantes da escola onde o tema LGBTQI+ é abordado. Por meio da mãe de uma estudante o vereador soube da atividade proposta pela professora e esteve presente na escola na última sexta-feira, 18/06, buscando intimidá-la e ameaçando-a com providências que estaria organizando contra a profissional. Chegou ao cúmulo de invadir a escola para forçar um esclarecimento por parte de Rafaella, que sugeriu que ele conversasse com a pedagoga, dando-lhe as costas. O vereador ainda fez ameaças em áudios que circulam no whatsapp cujo conteúdo é escandaloso e reafirma a sua vocação ultra conservadora. É importante lembrar que não é a primeira vez que esse representante eleito pelos munícipes de Vitória se encontra envolvido em episódio de ódio e preconceito. Gilvan da Federal foi alvo de uma ação promovida pela vereadora Camila Valadão por tecer comentários machistas sobre a sua forma de se vestir durante uma sessão solene em homenagem ao Dia das Mulheres, comemorado em 8 de março. A ação aberta para apurar a conduta do vereador foi arquivada e causou revolta na sociedade capixaba, evidenciando o caráter conservador da atual composição da câmara municipal da capital, onde apenas duas mulheres compõem o quadro de vereadores num total de 15 eleitos. A conduta do vereador mostra-se frequentemente em desacordo com o cargo que ocupa. Mas a possibilidade de punição parece não incomodá-lo e assim ele mantém sua postura truculenta e odiosa perante temas sensíveis que tocam a muitos moradores e eleitores da capital.
O tema trabalhado em sala de aula pela professora Rafaella Machado está em completo acordo com todos os documentos oficiais que orientam a educação brasileira. O trabalho proposto pela professora é resultado de um amplo debate realizado no interior da escola e que envolve pedagogos e demais professores e professoras da unidade escolar. É portanto uma proposta educacional pensada a muitas cabeças e orientada pelo currículo da escola pública do Espírito Santo. Atacar individualmente a professora é atacar a toda a comunidade escolar da Renato Pacheco e também toda a categoria do Magistério capixaba!
Mais uma vez o Vereador Gilvan da Federal dá mostras de sua incompetência para contribuir com um debate público que preze pela urbanidade e respeito à diversidade. Ocupa o parlamento apenas para promover discurso de ódio e perseguições, estando, aí sim, em total harmonia com o seu mentor político, o igualmente execrável presidente da República, Jair Bolsonaro.
Toda nossa solidariedade à Rafaella Machado, professora consciente de seu papel enquanto educadora por um mundo livre de preconceitos de toda ordem e que também contribui de maneira inestimável com a nossa organização coletiva que é o LUTE-ES. Quanto aos conservadores, esses já deram provas mais que suficientes de que são incapazes de conduzir o debate público que contribua efetivamente para a melhoria da realidade do povo trabalhador e seus anseios mais urgentes. Que caiam todos eles.
Assinam a nota as seguintes entidades:
Coletivo Luta Unificada dos Trabalhadores da Educação – Lute-ES Adufes (ANDES-SN) ABJD – Associação dos Juristas pela Democracia – Núcleo ES Afirmação – Rede de Cursinhos Populares Aliança Nacional LGBTI+ no ES Asiarfa – Associação Intermunicipal Ambiental em Defesa do Rio Formate e Seus Afluentes Associação Popular dos Centros Socialistas Brigadas Populares Comitê Capixaba da Campanha Nacional pelo Direito à Educação Centro Acadêmico de Filosofia – Ufes Centro Acadêmico de Licenciatura em Física Centro de Estudos Bíblicos – CEBIES Círculo Palmarino Coletivo de artistas socialistas do ES Coletivo Educação Pela Base Coletivo LGBTI+ do Sindiupes Coletivo Mães Eficientes Somos Nós Coletivo de Mulheres Dona Astrogilda Coletivo Para Todos Coletivo TAEs de Luta – Oposição Sintufes Comuna ES Conselho Estadual LGBTI+ do ES CSP Conlutas – ES CUT-ES Diretório Central dos Estudantes da Ufes – DCE Ufes Ecoar – Juventude Ecossocialista Federação Espírito Santense de Culturas e Povos Tradicionais de Matriz Africana Frente Popular em Defesa do Direito à Educação Fórum de mulheres do Espírito Santo – FOMES GEDUC – Grupo de Estudos e Pesquisas Em Educação Comparada Grêmio Nelson Reis – Ifes Piúma Grupo de Pesquisa Trabalho e Práxis/Ufes Ifes Sem Cortes Intersindical CCT Juventude Socialista do PDT-ES Levante Popular da Juventude Liberdade Amor e Respeito no Espírito Santo – LARES Lordose pra Leão Movimento Enfrente Movimento Impeachment Já – ES em Luta Movimento Mulheres em Luta ES Movimento Negro Unificado Movimento Sobreviva Brasil Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST ES Núcleo de Pesquisa em Sexualidades da Ufes – NEPS PAD-ViX – Professoras (es) Associadas (os) pela Democracia em Vitória – ES Partido Comunista Brasileiro – PCB ES Partido Comunista do Brasil – PCdoB ES PDT Diversidade capixaba Partido Socialismo e Liberdade – PSOL/ES Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado PSTU ES Partidos dos Trabalhadores – PT/ES Primavera Socialista ES Raceffaes Raízes Partido Antirracista Resistência/PSOL ES Resistência e Luta Educação ES Resistência Feminista ES Revolução Brasileira ES SINTUFES Sinasefe – Ifes Travessia ES – Coletivo Sindical e Popular União Brasileira de Estudantes Secundaristas União Brasileira de Mulheres – UBM ES União Nacional dos Estudantes – UNE União da Juventude Comunista – UJC
Comentários