Guilherme Boulos, dirigente do MTST e ex-candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo, publicou um texto nesta terça-feira, em sua coluna na Folha de S. Paulo, no qual discute os desafios da esquerda diante do bolsonarismo.
Com o título “O dilema da esquerda“, Boulos apresenta algumas respostas para debates que têm sacudido a esquerda nas últimas semanas e que atravessam movimentações importantes, como a saída do deputado Marcelo Freixo do PSOL, em busca da construção de um arco amplo da alianças para disputar o governo do Rio de Janeiro. Boulos tem sido uma das principais vozes na convocação aos protestos de rua pelo Fora Bolsonaro, e nos dias unitários de luta: o 29 de maio e agora, no 19 de junho.
Em seu texto, Boulos pergunta: “O que é preciso para derrotar Bolsonaro? É preciso fazer aliança com a direita tradicional nas eleições? É preciso abrir mão, ainda que momentaneamente, de nossos valores e propostas, em nome de uma plataforma de defesa da democracia?” A partir destes questionamentos, reafirma a importância da unidade e da tarefa prioritária de deter o fascismo.
“O ponto de consenso é que precisamos derrotar Bolsonaro e virar a página do pesadelo que assola o país. Sem isso não há como disputar o futuro. É a luta pela vida contra um governo da morte. É a luta pela democracia contra as constantes ameaças autoritárias. E essa luta exige unidade política e amplitude, enfim, exige responsabilidade histórica da esquerda brasileira. “
A partir daí, Boulos discute a ideia de alianças amplas e articulações que envolvam a direita liberal, hoje chamada de “centro” pelos articulistas, em uma nova “régua política brasileira”. “amplitude não significa diluição de projeto. Mais do que nunca, precisamos de um projeto de combate às desigualdades, à fome, ao desemprego, com retomada do investimento público e enfrentamento a privilégios.”
E afirma a necessidade de um projeto de mudanças e o protagonismo da esquerda:
“Quem pauta essas agendas no Brasil é a esquerda. Esse é o nosso lugar político e é ele que nos permite mobilizar engajamento e esperança na sociedade. Para derrotar Bolsonaro não precisamos abrir mão disso. Ao contrário, o bolsonarismo engaja seus apoiadores tendo o ódio como operador político. Não vamos vencê-los apenas com apelos democráticos —como atesta a falta de encanto do “centro” nas projeções eleitorais— mas alimentando esperança, a partir de um projeto que aponte soluções concretas para os sofrimentos do nosso povo.
É possível superar o atraso e a ameaça autoritária sem deixar de disputar o futuro. É possível ter a amplitude que o momento exige e, ao mesmo tempo, afirmar um projeto de transformações. Aliás, é necessário. Bolsonaro e a pandemia fizeram do Brasil uma terra arrasada, seria ilusão supor um simples retorno à normalidade. Precisaremos de ousadia e mobilização da sociedade para superar essa tragédia.”
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