Pular para o conteúdo
OPRESSÕES

O Estado nos mata, a mídia criminaliza e as empresas lucram

Afronte!
Maria Célia, Viviane e Kahtlen

Há um mês, assistimos a mais um episódio da triste história de violência feita pelo Estado brasileiro contra a população negra. A Chacina do Jacarezinho, a mais violenta já ocorrida no Rio de Janeiro, foi um acontecimento bárbaro que expôs o modus operandi da política de segurança pública em nosso país, que pode ser resumida em controle e morte de corpos negros. 

Um mês depois de Jacarezinho, novamente choramos e sentimos dor, pois o Estado brasileiro continua tirando nossas vidas. 

Kathlen Romeu, 24 anos, Rio de Janeiro. Viviane Soares, 40 anos, Salvador. Maria Célia de Santana, 73 anos, também de Salvador. Três mulheres de gerações distintas e de locais distintos, mas que tiveram seu destino ligados pela violência estatal. 

Na última sexta-feira, 04/06, Maria Célia de Santana e Viviane Soares foram assassinadas pela PM da Bahia, no bairro negro do Curuzu, famoso por abrigar um dos maiores movimentos culturais de combate ao racismo, o Bloco Afro Ilê Aiyê. 

Terça-feira, 09/06, em mais um episódio das chamadas “operações” realizadas pela polícia militar na periferia do Rio de Janeiro, Kathlen Romeu, uma jovem negra de 24 anos, que estava grávida, também foi baleada e teve sua vida ceifada. 

Segundo o Monitor da Violência, em números absolutos, Rio de Janeiro e Bahia foram os dois estados que apresentaram maiores números de mortes causadas por policiais em 2020. Na Bahia, 97% dos mortos foram pessoas negras. 

O discurso é sempre semelhante, os policiais foram fazer operação, então foram recebidos com tiros, revidaram, e no confronto a bala perdido encontrou um corpo negro. Esse discurso das forças policiais é uma farsa. Sabemos que não existe bala perdida, muito menos acidente. Pois estas balas só atingem e encontram corpos negros e periféricos. 

Os casos de violência policial contra a população negra se amontoam e seguem sem respostas, gerando uma naturalização desses homicídios praticados pelo Estado. 

É sintomático que exista um silêncio sobre as mortes praticadas pela PM/BA no governo de Rui Costa, do PT. Algo que pode ser explicado pela posição subalterna que buscam impor ao Nordeste no cenário nacional, e também pelo fato do racismo que estrutura as instituições brasileiras ser um problema que ainda não foi enfrentado de frente pela esquerda brasileira. Governos progressistas repetem e dão novos estímulos a política secular de segurança pública baseada no controle de corpos negros. Justamente por isto dizemos que as mortes de Maria Célia, Viviane e Kathlen não foram acidentes. Elas são planejadas e servem para organizar essa lógica de segurança pública. A polícia não foi mal treinada e por isto ocorreram estas mortes, mas a PM foi treinada justamente para este tipo de ação. 

A mídia criminaliza e as empresas lucram 

Chama atenção o pedido da mãe de Kathlen para que as organizações de direitos humanos não deixem que sua filha seja tratada como suspeita de envolvimento com tráfico após sua

morte. Pois esta construção é justamente uma das formas que o racismo encontra para a naturalização das mortes de pessoas negras. As forças de violência do Estado junto da imprensa são cúmplices nesta ação. Narrativas que buscam por as pessoas negras como suspeitas, ou criminosos, que transformam suas mortes em fatos isolados e consequência de “trocas de tiros”, são racistas e buscam tirar a humanidade dessas pessoas, reduzi-las a um local marginal e criminalizá-las mesmo após suas mortes. 

Um fato que merece repúdio e denúncia diante desse trágico acontecimento, são as iniciativas da loja de roupas Farm. A loja disponibilizou cupons com o nome de Kathlen, para serem usados pelos clientes. Isto é uma tentativa absurda de lucrar por meio da morte de uma mulher preta. A Farm contribuiu ainda mais com a violência contra Kathlen, revelando a crueldade que esse capitalismo racista tem a oferecer. Já cantava Elza Soares: “A carne mais barata do mercado é a carne negra”. 

São as mulheres negras que historicamente foram linha de frente no combate ao racismo e na liderança de comunidades negras, em defesa da cultura, da religiosidade, da história e da tradição da negritude. Quando o Estado brasileiro mata uma de nós, quando ele tira a vida de uma mãe negra, ele atinge nosso passado e nosso futuro. Como cantou o rapper mineiro Djonga: “olho corpos negros no chão me sinto olhando no espelho”. Quando uma de nós cai, todos sofremos, porque nos vemos ali, porque vemos nossas mães, irmãs, amigas e companheiras. 

Nós, do Afronte, nos colocamos solidários aos familiares das vítimas da violência estatal e ao lado dos mesmos na luta e batalha por justiça. 

Cabe a nós que ficamos buscarmos a batalha para denunciar e mudar o atual modelo de segurança pública como forma de honrar e lembrar aquelas que o Estado brasileiro retirou de nós. Estamos na luta cotidiana para a construção de um novo mundo, no qual mães negras tenham plenamente o direito à maternidade, e a população negra tenha o direito à vida. 

  • Pelo fim do genocídio do povo negro
  • Pelo fim da Guerra às Drogas
  • Pela desmilitarização da Polícia Militar
  • Por um novo Modelo de Segurança Pública
  • Justiça para Viviane e Maria Célia
  • Justiça para Kathlen