Começou a zero hora desta terça-feira a greve das trabalhadoras e trabalhadores rodoviários da região metropolitana de Fortaleza. A paralisação das atividades responde a uma situação que não é nada fácil. A categoria não tem reajuste salarial desde o ano passado, milhares de cobradores foram demitidos e os rodoviários empurrados da fase 3 para a fase 4 da vacinação – um absurdo diante das dezenas de mortos entre motoristas e cobradores.
A justiça burguesa não demorou a acudir os empresários e decidiu antes de a greve ter início que o sindicato deveria assegurar 70% do plantel de trabalhadores no horário de pico, o que, na prática, inviabiliza qualquer greve. A categoria, no entanto, rompeu esse limite humilhante e vergonhoso e a paralisação está se mostrado muito forte, acima de qualquer expectativa.
Neto, presidente do SINTRO (o sindicato dos rodoviários), convocou a categoria para segurar a greve diante do poderio dos patrões e da cumplicidade do judiciário com os interesses do empresariado, a pretexto de defesa dos usuários de ônibus.
O sindicato amanheceu cercado pela Polícia Militar, por terra e ar (via helicóptero), mas os dirigentes sindicais e os apoiadores não se deixaram vencer pelo medo. Embora a repressão esteja muito forte, como descreveu o presidente Neto, a resistência tem sido irretocável.
O governador silencia em relação à greve, ao passo que a Polícia Militar monta uma operação de guerra contra os rodoviários
É curioso observar a conduta do governador Camilo Santana (coalizão PT, PDT etc. etc. etc.). Depois de apoiar, ao lado do prefeito Sarto (PDT), um aporte de 4 milhões por mês para os empresários do setor (medida aprovada pela Assembleia Legislativa), o governador silencia em relação à greve, ao passo que a Polícia Militar, que está sob o seu comando (ou não?), monta uma operação de guerra contra os rodoviários. É preciso denunciar o esboço de estado de sítio que se adotou nas regiões de garagem, terminais e sede do Sintro.
Quando fechávamos este pequeno informe das primeiras horas da greve, uma nova reunião de conciliação estava em curso sem que, aparentemente, apontasse na direção de uma solução justa para o movimento. Os patrões querem pagar a reposição salarial de 2020, que eles estão devendo, e jogar a de 2021 para o ano que vem. Isso não é uma proposta; é uma provocação. Por outro lado, as trabalhadoras e os trabalhadores seguem na lanterna dos afogados da imunização. Até quando?
Desse modo, é fundamental que ativistas e entidades dos movimentos sociais, notadamente os sindicatos e centrais sindicais, não economizem esforços no sentido de cercar de solidariedade a greve de motoristas e cobradores. Os partidos de esquerda, os únicos de quem se espera um apoio efetivo a um movimento como esse, precisam usar os espaços de que dispõem para expressar seu apoio a essa luta que enfrenta poderes econômicos e políticos nada desprezíveis. Silenciar é o mesmo que legitimar as operações de guerra contra a heroica paralisação dos empregados dos transportes.
A vitória dos rodoviários tende a fortalecer futuras campanhas salariais, e, na medida em que nos aproximamos do dia 19 de junho, pode reforçar o processo de preparação de um novo dia de manifestações e mobilizações que amplie a luta pelo fora Bolsonaro, auxílio emergencial digno, comida no prato e vacina no braço.
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