Na Grécia Antiga existiam duas formas populares de produção do discurso político. Esse tipo de retórica podia ser construída enquanto: 1) Erística – argumentação despreocupada com a verdade cujo horizonte é apenas a vitória do debate. 2) Dialética – argumentação preocupada com o exame das contradições entre as ideias e os seus interlocutores, a fim de alcançar a superação dessas últimas e, por conseguinte, compreender a verdade. Os maiores representantes da erística eram os sofistas, por outro lado o maior dentre os dialetas foi, sem dúvidas, Sócrates. O paradigmático filósofo estava preocupado com o bem, com a apuração ética e contínua melhora das virtudes do cidadão. Como já sabemos, esses nobres princípios não impediram que o filósofo fosse derrotado, julgado e condenado à morte por seus adversários políticos.
A juventude de esquerda no Brasil terá similar destino, porquanto tratar enquanto prioridade a defesa de muitas, diversas, nobres verdades, deixando a disputa pelo convencimento popular para ser mobilizada e ditada pela direita.
De fato, a política é o saber sobre o poder, pois também se desdobra como a arte do convencimento. Há lugar para a moralidade demasiada nessa área? Evidentemente, apenas enquanto elemento retórico. Então, a defesa da verdade não importa como horizonte político? Sim, mas para se obter a defesa das verdades históricas é preciso dispor de força social para tornar a justiça uma realidade política. Para sempre estarão alienados do poder, os sujeitos que não compreenderem essa lógica simples cuja a sabedoria popular já compreende de maneira prática na sua interação com seus representantes. O poder reside onde os cidadãos estiverem convencidos sobre a satisfação de suas necessidades. Sua dinâmica é sempre presentista, mesmo quando pauta o futuro, trata apenas das necessidades imediatas, pois essa é a função social da política.
O bolsonarismo é uma erística. Logo, se mobiliza para a reivindicação de signos políticos de amplo valor histórico cultural, ignorando qualquer contradição social ou meramente ideológica que possa ser produzida por esse processo
E como o bolsonarismo consegue produzir sua aceitação ao interpretar essas condições básicas do exercício político? Primeiramente, o bolsonarismo é uma erística. Logo, se mobiliza para a reivindicação de signos políticos de amplo valor histórico cultural, ignorando qualquer contradição social ou meramente ideológica que possa ser produzida por esse processo. Esse procedimento é de perfil centralizador. Nesse sentido, sua dinâmica não é puramente reacionária, pois existe na centralização um ethos voltado para a síntese de valores parcialmente revolucionários. Os valores sociais compilados são propagados em novas formas de socialização da política, por sua vez responsáveis por negar, em certa medida, e simultaneamente disputar a ordem sociopolítica vigente. É justamente por conta desse processo que a síntese política bolsonarista foi tão massificada. O objetivo básico é convencimento através da ação e não o contrário, tal como a esquerda tradicionalmente faz e sua juventude imita em sua militância virtual. O compromisso bolsonarista jamais será educar, seu empoderamento não é pedagógico, a pedagogia não conquista o poder na república brasileira.
De certa forma, a erística bolsonarista é mais democrática em sua ação mobilizadora, porque tem sucesso no convencimento, porque satisfaz a necessidade cidadã por transformação e porque é mais radical do que a esquerda. Como isso é possível? Para responder isso é necessário questionar também: Quais são os signos culturais reivindicados pela esquerda de maneira politicamente centralizada? Se há centralização, qual é o seu grau de extensão e como isso compele os seus quadros para ação política? E há afinal a síntese esquerdista conformada num projeto nacional construído em parceria com o povo? Se as respostas para essas perguntas não são satisfatórias, talvez estejamos tardiamente compreendendo as razões negacionistas de todos os tipos, de todas as cores, para a República estar no controle dos carrascos de seu próprio povo.
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