A última semana ficou marcada pela Convenção do MEL, que reuniu toda a direita, incluindo a extrema-direita. Já abordamos os objetivo e perigos que a convenção das direitas representa. A direita está a atravessar um processo de recomposição e de radicalização, em que a normalização do Chega é parte deste. A última vez que a direita esteve unida foi no governo de Passos Coelho e Paulo Portas, entre 2011 e 2015. Em crise, PSD e CDS tentam encontrar o caminho para voltar ao poder, embora, segundo as sondagens, esse objetivo esteja distante. Vale ressaltar que, apesar do fracasso do evento em relação ao objetivo a que se propunha, a extrema direita aparece como setor fortalecido, mais dinâmico e propositivo deste “bloco”, se apoiando na expressiva votação das presidenciais, além de ser sensivelmente verificado pelas ideias conservadoras que vão ganhando lastro na sociedade.
Lembramo-nos ainda da crise capitalista de 2008 e do trauma da Troika, da austeridade e do desemprego, para sempre associados ao governo das direitas. A superação parcial da crise viu uma recuperação insuficiente de direitos e emprego. Foi o ciclo da Geringonça, a inédita solução que juntou PS, Bloco, PCP e PEV. Apesar do mérito inicial de afastar a direita do poder, essa solução abriu um ciclo de governação ao centro, com a esquerda presa ao governo e os trabalhadores e o povo órfãos de alternativa. Esse ciclo está agora para trás: a crise está de volta, e governo PS continua a demonstrar que não governa para quem está a ser afetado pela crise económica, pandémica e social.
O BE e o PCP têm vindo a afastar-se da Geringonça, sobretudo o Bloco de Esquerda (BE,) que já votou contra o orçamento de Estado de 2021. Na recente Convenção do BE foi reafirmada a sua relocalização como oposição de esquerda ao governo PS. Achamos que esse é o caminho, o da independência da esquerda em relação ao governo.
Construir a unidade da esquerda
Existe a necessidade de construir um terceiro campo à esquerda, uma alternativa contra a extrema-direita e direita, mas também como oposição ao extremo-centro (governo PS). Concordamos com o deputado do BE, José Gusmão, quando disse: “Queremos uma esquerda, Bloco e PCP, que fale melhor entre si para falar mais alto com o Governo. Que use a força que tem para impor uma política justa, necessária e urgente”.
Para que à esquerda seja possível um melhor diálogo, é necessário construir um espaço que coloque toda a esquerda, partidária, sindical e movimentos sociais, a debater estratégia, programa e pontos de convergência. Só aprofundando o diálogo entre BE, PEV, PCP, CGTP e movimentos sociais (Feminista, Antirracista, Climático e LGBT), se poderá construir uma alternativa para o país, inclusive para um horizonte de disputa do poder.
A esquerda é diversa, tal como a classe trabalhadora, e isso deve ser visto como algo que nos pode fortalecer e não o contrário. É necessário um encontro das esquerdas também para preparar a unidade das lutas em curso. Faz sentido unir as lutas que existem hoje no mundo laboral – na ferrovia, na aviação, na função pública -, não só entre si, mas também fazendo a ponte com o movimento climático, feminista, LGBT e antirracista.
A convergência dos explorados e oprimidos é fundamental. É urgente avançar em medidas anticapitalistas que respondam de facto à crise em que vivemos, para que sejam os ricos a pagá-la e não os mesmos do costume.
*Publicado originalmente em Semear o Futuro
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