Nós, da Resistência Feminista Ceará, declaramos o nosso apoio a chapa 1 que concorre a nova direção do SINDURCA, sindicato dos/das docentes da Universidade Regional do Cariri – URCA. É uma chapa composta integralmente por mulheres. E isso não é pouca coisa e deve ser comemorado. Compreendemos que, mesmo estando em um processo de acentuada debilitação, os sindicatos fazem parte das ferramentas tradicionais de luta dos trabalhadores e das trabalhadoras e devem ser fortalecidos na atual situação defensiva do nosso país, com um governo que veio determinado a nos impor uma derrota histórica, incluídas as organizações sindicais.
O Gênero nas organizações sindicais
Sabemos que a classe trabalhadora é constituída por homens e mulheres, que hoje lutam para sobreviver diante de uma pandemia e da morte de mais de 400 mil pessoas. Contudo, nós mulheres, além de oprimidas por sua classe, também somos por nosso gênero. No mercado de trabalho, enfrentamos a dupla jornada, os baixos salários, o trabalho precário e o assédio moral e sexual e ainda somos responsáveis por todo o serviço que favorece a reprodução social do trabalho. Essa realidade afeta a nossa participação na vida política e sindical, dada também a estrutura social que nos impõem atuar nos espaços domésticos como uma obrigação natural, o que nos dificulta nossa participação nos espaços de poder e decisão, como exemplo os espaços sindicais, onde os dados sobre a participação das mulheres no movimento sindical comprovam que nós mulheres somos minoria, com um percentual muito inferior à nossa inserção no mercado de trabalho. Embora a nossa sindicalização tenha aumentado nas diretorias das entidades, essa inserção não incluí os três cargos tradicionalmente considerados mais importantes: Presidência, Secretaria Geral e Tesouraria. A nossa ausência nos espaços de poder não só é uma situação discriminatória como faz com que pautas que atingem diretamente vidas das trabalhadoras não sejam vistas como prioridade, já que as pautas relacionadas “a vida das mulheres” só são discutidas quando estas se encontram presentes para colocá-las e defendê-las. Mudar essa realidade passa, obrigatoriamente, pelo fortalecimento dos espaços e estruturas específicas de organização das mulheres no interior dos sindicatos, partidos políticos, associações, coletivos e outros espaços deliberativos.
As 7 mulheres no Sindurca é fruto da nossa organização
A atuação dos movimentos feministas na superação das desigualdades de gênero tem sido uma luta histórica para garantir a participação das mulheres nos espaços de tomadas de decisões ditos como espaços de poder. Uma luta que passa pela emancipação da classe trabalhadora, já que essa é composta por homens e mulheres, no entanto o equilíbrio de participação nesses espaços contribui para amenizar a discriminação e as relações de gênero estabelecidas socialmente. Mesmo com o avanço das políticas afirmativas, a partir das quais foi instituída em vários espaços a cota para participação das mulheres, inclusive nos sindicatos, ainda percebesse a dificuldade de participação de forma efetiva e nos cargos de direção. Hoje, é um dia histórico para o movimento de mulheres, em que as nossas esperanças na luta por equidade de gênero são renovadas. O SINDURCA realiza hoje, dia 27, a eleição com uma chapa de 7 mulheres para a sua direção. São mulheres professoras, lutadoras que defendem um feminismo para todas, todos e todes. Para nos é significativo o papel que vem cumprindo as mulheres, em um contexto de crise estrutural e do avanço do racismo e do fascismo, no qual as mulheres, principalmente as negras, são as mais atingidas e, ao mesmo tempo, as que se colocam à frente da resistência. Ter uma chapa sindical formada por mulheres trabalhadoras, portanto, mostra o protagonismo na luta por direitos, autonomia da Universidade pública gratuita e de qualidade em tempos de desmonte da educação e negação da ciência. Essa é sem dúvida uma iniciativa importante no desafio de superarmos as desigualdades de gênero e a discriminação a qual nós mulheres somos submetidas nos diversos espaços sociais, inclusive nos sindicatos. A democratização das relações sindicais só será possível a partir da inclusão e da incorporação de todas as pautas que envolvem a vida das mulheres diretamente. Parabéns as 7 mulheres da URCA pela iniciativa de dar esse passo tão importante para nós mulheres, não soltaremos nossas mãos.
Pela vida das mulheres!
Vacina no braço!
Comida no prato!
Fora Bolsonaro!
*Militante da Resistência Feminista Cariri, CE
Referência bibliográfica
DIEESE. Suplemento nº 17, agosto/2003 – Pesquisa Dieese – Negociação coletiva e eqüidade de gênero no Brasil
HIRATA, Helena. Artigo: O universo do trabalho e da cidadania das mulheres – um olhar do feminismo e do sindicalismo. 2004.
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