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BRASIL

Salvador também irá às ruas no dia 29 contra o governo mais perigoso que o vírus

Jean Montezuma*, de Salvador, BA
Felipe Iuratã / Mídia Ninja

Ato Vidas Negras Importam em Salvador, em 2020

Os efeitos da crise sanitária, econômica e social, têm produzido uma indignação cada vez maior. Os atos nacionalmente convocados para o próximo sábado, dia 29, representam uma oportunidade de retomar as ruas e transformar em ação unificada essa indignação. Com todo o cuidado, é preciso transformar em força social a nossa revolta. Em Salvador, após o importante 13 de maio coordenado pela Coalizão Negra e protagonizado pelo movimento negro, o dia 29 está articulando de forma ampla os partidos de esquerda, as centrais sindicais, as entidades do movimento estudantil, sindicatos e demais setores dos movimentos sociais.

Sem medo de ter cuidado, com cuidado para não ter medo

Dessa vez, além da nossa indignação e disposição de lutar, serão indispensáveis todos os cuidados e a disciplina necessária para preservarmos nossas vidas. A fim de garantir distanciamento, a marcha será organizada em três fileiras e por blocos, sempre zelando pela distância mínima de 2 metros entre as pessoas. Abraços e apertos de mão serão fiscalizados, além da higienização das mãos com álcool em gel e uso obrigatório de máscaras, com prioridade para as PFF2 ou N95, que são reconhecidamente mais seguras.

Com concentração marcada para às 10h, a marcha por vacina no braço, comida no prato e pelo Fora Bolsonaro, percorrerá as ruas do centro de Salvador em direção a praça Castro Alves. Um trajeto tradicional das manifestações na capital baiana, palco onde em 2017 quase 100 mil pessoas foram às ruas na greve geral contra a reforma da Previdência. Sem medo de ter todos os cuidados, e com cuidado para não ter medo, ir às ruas é uma necessidade para derrotar o governo que escolheu aliar-se com a morte.

Defender a vida em primeiro lugar, na Bahia e no Brasil

Das mais de 454 mil vidas perdidas para a Covid no Brasil, 20.176 foram de baianos e baianas. Ao longo de toda pandemia foram 995 mil contaminados, o que aponta para justamente nessa semana alcançarmos a infeliz marca de 1 milhão de casos confirmados em todo o Estado. Também essa semana a imprensa tem noticiado nova alta na taxa de ocupação de leitos de UTI em todo Estado (84%) e na capital (80%). No sentido inverso, uma taxa que segue infelizmente baixa é a de vacinação, que aponta para dramáticos 9,9% da população da Bahia com as duas doses.

Não há dúvidas, é o governo genocida de Bolsonaro, com seus atos e omissões, o responsável n°1 pelo atual estado de coisas. A ação consciente de sabotagem das medidas sanitárias e distanciamento social por parte do governo federal, contribuiu para limitar ainda mais o efeito das frágeis medidas adotadas localmente pelo governo do Estado e prefeituras. 

A ausência de um plano efetivo de socorro as médias, pequenas e microempresas, que exige um financiamento federal, estimulou o efeito sanfona do “abre-fecha” do comércio e de setores não essenciais. A sabotagem do programa de auxílio emergencial por imposição de Bolsonaro também contribui diretamente para retirar comida da mesa dos baianos. É válido lembrar que em 2020, 9,1 milhões de pessoas tiveram acesso ao auxílio emergencial na Bahia, o que equivale a 61% da população de todo Estado.  

Nem economia, nem vidas, a gestão negacionista do governo federal foi o combustível que turbinou os efeitos econômicos e sociais da crise sanitária. Na Bahia isso pode ser percebido também no avanço desolador do desemprego, que atingiu em 2020 a taxa recorde de 19,8%, o que equivale a 1,27 milhão de desocupados em todo Estado. O governo Rui Costa (PT) e prefeituras como a de Bruno Reis (DEM), apesar do discurso e de medidas que conflitam com o negacionismo de Bolsonaro, oscilam entre medidas ora insuficientes, ora contrárias à defesa da vida em primeiro lugar. 

A insistência da prefeitura de Salvador por impor o retorno presencial das aulas na rede municipal é um exemplo disso. O atual secretário de Educação, Marcelo Oliveira, chegou a dizer que a iminente terceira onda e a nova alta de casos, mortes e ocupação de leitos, não são fatores de influência no plano de reabertura das escolas. Felizmente a categoria docente, com apoio da maioria da população, tem resistido heroicamente e vem impondo derrotas sucessivas ao plano de retorno as aulas presenciais. 

 

*Jean Montezuma é membro do Diretório Estadual do PSOL Bahia.