Glauber Braga se lançou pré-candidato à Presidência da República pelo PSOL para as eleições de 2022. É verdade que qualquer filiado ao PSOL tem o direito de se lançar pré-candidato e ser uma opção ao debate partidário. Mas Glauber não é qualquer filiado, é um deputado federal que orgulha toda a militância do partido por manter posições corajosas no combate a Temer e a Bolsonaro.
Sua história se confunde com a defesa dos direitos sociais e trabalhistas nos últimos anos. Foi aquele que chamou Eduardo Cunha de gângster durante o combate ao golpe institucional de 2016. Que alcunhou Sérgio Moro de juiz ladrão, muito antes de ruir publicamente a fachada da operação lava-jato. Foi estando do lado certo da história que Glauber ganhou o respeito e a admiração do ativismo brasileiro. É justamente o respeito ao Glauber e seu papel na esquerda que faz-se necessário um debate honesto sobre as diferenças, quando existem.
A tarefa fundamental da esquerda e dos socialistas em 2021 é construir as condições para derrubar Bolsonaro, de uma vez por todas. É preciso impor uma derrota profunda, até que Bolsonaro, suas ideias e sua capacidade de mobilizar diferentes setores sociais, deixe de ser uma ameaça e vire nota de rodapé nos livros como um momento infeliz na história do Brasil. Para que seja um episódio de luto associado às mais de 400 mil mortes ceifadas pelo coronavírus e aos milhões que escalam níveis de pobreza, desemprego e fome.
A tarefa fundamental da esquerda e dos socialistas em 2021 é construir as condições para derrubar Bolsonaro, de uma vez por todas.
Aí está a importância de construir mobilizações massivas, tão logo seja possível. Também aí está uma parte da explicação para que a amplíssima maioria do ativismo de esquerda enxergue na candidatura de Lula em 2022 um fio de esperança – consequentemente enxergando com maus olhos iniciativas que considerem divisionistas neste momento.
Erra quem considera Bolsonaro uma página já virada. A ampliação de sua rejeição em diferentes classes sociais e faixas etárias é uma vitória parcial importante, mas ainda há um caminho a percorrer. Tortuoso. E o que faz o PSOL nessa cena tem relevância, pela sua influência em amplos movimentos da classe trabalhadora, das mulheres, da negritude, das LGBTs, da juventude. Porque o PSOL ultrapassou a votação do PT, o maior partido de esquerda no Brasil hoje e que se recompôs fora do governo, em centros urbanos importantes, como São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro.
Em 2021, o PSOL deve estar unido e com a maior força possível na luta para derrubar Bolsonaro. Estar atento a todas as fagulhas que podem incendiar as insatisfações em mobilizações populares, sempre que possível. E nos conectarmos com o sentimento muito progressivo de quem quer vê-lo perder as eleições de 2022 e não quer dar chance ao azar, não quer correr riscos de ver Bolsonaro reeleito. Uma nova eleição de Bolsonaro evidentemente teria um impacto brutal sobre a moral da vanguarda, para ficar apenas na foto de um problema que mais se parece com filme de horror.
Isso significa que o PSOL tem um papel maior e mais duro do que lançar um candidato seu à presidência. Este papel é o de disputar pela esquerda, com um programa anticapitalista a ideia de uma Frente de Esquerda que seja capaz de revogar as medidas nefastas de Temer e Bolsonaro.
Isto não pode ser confundido com nutrir ilusões com Lula e o PT. Sabemos que o PT busca uma composição amplíssima e não revisou erros cometidos na experiência de governar ombro a ombro com o grande empresariado. Que o golpe não foi uma mera traição de seus aliados no andar de cima à Dilma. Mas essas diferenças não são novidade, elas foram motivo suficiente para fundar e ampliar as forças do PSOL em 2004. A novidade é a experiência trágica com um governo neofascista.
O PSOL deve lutar com todas as suas forças para que uma Frente de Esquerda no país assuma o compromisso com a luta pela vacinação e o auxílio agora e com o emprego, a renda, os direitos trabalhistas e previdenciários, a saúde e a educação pública, o combate ao genocídio preto e os direitos das mulheres e LGBTs.
Antecipar um movimento unilateral de lançamento de pré-candidatura não é a melhor tática nesse sentido. Porque importa menos diante dessas tarefas as disputas internas do PSOL ou as auto-construções. Porque devemos falar em uma só voz na luta brutal pela Frente, seu caráter e o espaço do PSOL nela, a começar pelo apoio de todos os partidos de esquerda à Guilherme Boulos em São Paulo. Assim, seremos mais eficientes na vitória que lutamos juntos para alcançar.
*Deborah Cavalcante é militante do PSOL e da Resistência, advogada trabalhista e sindical e mestre em Ciência Política.
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