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BRASIL

Diante de Bolsonaro, presidente da Câmara promete aprovar o voto impresso para 2022

Em solenidade no sertão de Alagoas, ao lado de Bolsonaro e do ex-presidente Collor de Mello, Lyra promete avançar com a proposta “em tempo hábil” e é chamado de “pai” do voto impresso

da redação
Presidente da Câmara discursa em inauguração de obra. Ao fundo, Bolsonaro, Collor e outros convidados. Bolsonaro sorri.
Alan Santos/PR/Fotos Públicas

Nós queremos votar e queremos ter a certeza de que esse voto é confirmado

Durante solenidade nesta quinta-feira, 13, na pequena São José da Tapera, inaugurando um trecho de 30km da transposição do Rio São Francisco, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), anunciou que a Casa criou uma comissão para analisar a proposta de voto impresso e foi além, defendendo a proposta: “nós queremos votar e queremos ter a certeza de que esse voto é confirmado da maneira como a gente colocou”, afirmou, admitindo o apoio a proposta defendida pelo bolsonarismo e se somando aos que lançam dúvidas sobre a urna eletrônica.

O presidente da Câmara foi além e prometeu aprovar a proposta em tempo hábil, ou seja, para que a eleição de 2022 possa utilizar o mecanismo. “Foi criada ontem, deve estar sendo instalada hoje, a comissão na Câmara dos Deputados, para que a gente possa votar no Plenário e daí mandar para o Senado em tempo hábil para que as providências sejam tomadas e a voz da população seja ouvida”, explicou, em transmissão ao vivo.

O anúncio foi comemorado por Bolsonaro, que falou em seguida. “O voto impresso… tem nome, né? A mãe, que é a deputada Bia Kicis, lá de São Paulo, e tem o pai, que é o deputado Artur Lyra, que criou a comissão no dia de ontem. Parabéns Artur! É um prazer estar do seu lado aqui”.

A aprovação do voto impresso é uma das bandeiras do bolsonarismo e é utilizada como forma de lançar desconfiança sobre o regime político como um todo, preparar possíveis ações em caso de uma derrota eleitoral (como fez Donald Trump nos Estados Unidos, ao estimular a invasão do Capitólio) ou até mesmo ameaças golpistas. O discurso foi retomado com força desde o início da CPI com ameaças ao processo eleitoral e ao TSE.

Se não tiver voto impresso, sinal de que não vai ter a eleição. Acho que o recado está dado”,

“Se o Parlamento brasileiro, por maioria qualificada, em três quintos na Câmara e no Senado, aprovar e promulgar, vai ter voto impresso em 2022 e ponto final. Não vou nem falar mais nada. Vai ter voto impresso, porque se não tiver voto impresso, sinal de que não vai ter a eleição. Acho que o recado está dado”, ameaçou Bolsonaro, em transmissão no dia 07 de maio.

BOIADA

No mesmo dia em que criou a comissão, o presidente da Câmara dos Deputados aprovou a tratorada – para lembrar os R$ 3 bilhões aos deputados – uma mudança no regimento da Câmara, que restringe a atuação da oposição e facilita a aprovação de projetos em tempo recorde, sem debates com a sociedade. Segundo a deputada Talíria Petrone, líder do PSOL, é “o fim do debate político na Casa”. No mesmo dia, a Câmara aprovou projeto contra o licenciamento ambiental.

Desta forma, a ofensiva pelo voto impresso parece deixar de ser apenas uma retórica agitada para preservar a base bolsonarista e o perfil antissistema, cada vez mais difícil de ser mantido com um governo que reajusta seus salários. Se depender de Lyra e dos caciques do Congresso, essa ideia absurda pode de fato avançar. Querem “passar a boiada” e aprovar a mudança, para em seguida manter a pressão sobre o STF e agitar a sua base militante, que, mesmo menor, esbraveja dizendo que autoriza um golpe e uma intervenção.

O resultado da pesquisa Datafolha, que mostra a aprovação ao governo em apenas 24% da população, coloca este debate em primeiro plano. O bolsonarismo tentará usar o voto impresso para retirar o foco da CPI da pandemia, ao mesmo tempo em que agita o golpismo e cria uma justificativa para uma possível derrota eleitoral.

A disputa continua sendo jogada, nas ruas, atos e mobilizações, como foi neste dia 13, e também no Congresso, nos depoimentos da CPI. É cedo para dizer se o presidente Bolsonaro conseguirá reverter sua queda de popularidade ou se acabará como o ex-presidente Collor de Mello, atual senador por Alagoas, que o acompanhou durante os dois eventos do dia de hoje, como um velho amigo.