O Tempero do mar foi lágrima de preto – Emicida, em Boa Esperança
A situação do Brasil em 2021 é catastrófica. Vivemos a maior crise social desde a abolição da escravidão. Como consequência da política negacionista de Bolsonaro, alcançamos a triste marca de mais de 420 mil mortes por covid. Governos pouco ou nada fazem para ter políticas de contenção do vírus. E a isto se soma o crescimento do desemprego que já atinge 14 milhões de brasileiros, da fome que já assola milhares de lares, e da falta de renda para nosso povo.
No meio disto tudo, Bolsonaro aproveita para passar a boiada. Cada semana vemos um direito ser destruído, o avanço de privatizações, cortes de verbas para serviços como a educação, e o meio ambiente ser posto abaixo. A extrema direita violenta, raivosa e mais reacionária, foi às ruas no 1° de maio, pedindo a volta da ditadura e a continuidade da política de morte, pois são contra as vacinas e o isolamento sanitário. Estamos em uma crise que parece não ter fim.
Sabemos, porém, que nesse país tão desigual, a crise não é igual para todos, ela atinge com maior força a população negra. São os bairros e comunidades negras que historicamente abandonados pelo Estado, hoje apresentam maiores números de infecção e mortes por covid-19. Isso não é mera coincidência. São esses territórios negros que sofrem com a lógica de exclusão e precarização por parte do Estado brasileiro, sem políticas públicas de qualidade, como saneamento básico e acesso a saúde adequada por exemplo.
São também nesses territórios que o direito ao isolamento sanitário não foi garantido. Por conta de uma política econômica que privilegia aquele 1% mais rico, a população favelada e periférica em todo o país tinha que trabalhar para poder ter comida na mesa de sua família.Todo este abandono do Estado é fruto do racismo estrutural que organiza nossa política, nossa economia e toda lógica de funcionamento do capitalismo brasileiro. Um sistema econômico que a partir da primeira vez que o europeu pôs o pé nessas terras funciona através da violência e morte. O povo negro é vitima de um genocídio secular por parte das elites brancas que controlam o Estado brasileiro. Bolsonaro utiliza a pandemia para aprofundá-lo.
Nossos mortos têm voz: Justiça para Jacarezinho
Um capítulo triste e doloroso da violência do Estado brasileiro contra o povo negro ocorreu semana passada, na favela do Jacarezinho, no Rio de Janeiro, onde 28 pessoas perderam a vida, sob o falso discurso de guerra às drogas. Uma “guerra” que é justificativa para o Estado manter seu controle a mão armada sobre comunidades negras, mantendo a população em situação de colonialismo interno. As vítimas da violência do Estado no Jacarezinho foram tratadas como criminosos pela imprensa racista, pelo simples fato de serem pretos, pobres e favelados. Um sentimento de revolta foi compartilhado por aquela comunidade carioca e por outras em diversos locais do Brasil.
Em nosso país a cada 23 minutos um jovem negro é assassinado. São mais de 20 mil vidas perdidas por ano. Números superiores a países que estão em guerra civil declarada. O Estado brasileiro e suas elites brancas efetuam uma política de morte contra a maior parte da população, é uma guerra não declarada contra o povo negro, por isso que o grito “vidas negras importam” ecoa tão forte de norte a sul, afinal nós queremos viver, sem tiros, sem fome e sem covid. E queremos que aqueles dentre os nossos que tombaram tenham justiça e o direito de descansar em paz.
Se vamos às ruas, é porque o governo e o racismo são mais perigosos que o vírus
Diante desse cenário, a resposta não pode ser outra senão transformar nossa indignação em mobilização. Os movimentos sociais, sempre foram parte dos setores da sociedade que defenderam medidas de isolamento e de renda auxiliar para conter a pandemia, por isso, mesmo frente a diversos momentos críticos da política, optamos muitas vezes por meios de mobilizações alternativas, como ações nas redes sociais, de intervenção visual e artística nas cidades, campanhas de solidariedade entre outras.
Nós do Afronte acreditamos que não devemos abandonar essas formas de atuação, mas que diante dos novos acontecimentos em nosso país é preciso buscarmos realizar ações de rua, palco tradicional de nossa atuação. Importante lembrar que se uma população sai para protestar no meio de uma pandemia, é porque seu governo é mais perigoso que o vírus. Por isso participamos da convocação e buscamos construir em nossas cidades o um mês de Maio contra o Genocídio do povo negro.
Neste dia 13, data da falsa abolição, serão mais de 200 cidades por todo o país, que ouvirão o grito de Justiça por Jacarezinho. Os atos convocados pela Coalizão Negra por Direitos.
O dia 18 marca a triste data de um ano do assassinato do menino João Pedro em São Gonçalo. Em todo o país movimentos sociais buscam realizar ações de Amanhecer por João Pedro, denunciando o Genocídio da Juventude Negra.
Em nossas redes sociais iremos produzir e divulgar matérias que denunciem a guerra às drogas, o encarceramento em massa, e a defesa da desmilitarização da polícia militar.
É preciso afirmar que um projeto de Brasil que seja popular e anticapitalista, é um projeto que seja centralmente antirracista e que valorize as vidas negras como potências. Afronte o Racismo!
Nem de tiro, nem de fome, nem de vírus! Basta de Genocídio!
Vidas Negras Importam!
Justiça por Jacarezinho!
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