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MOVIMENTO

Chapa 1 teve vitória contundente nas eleições do sindicato da construção civil de Fortaleza

Resultado expressou a vitória de uma política e de um método.

Nericilda Rocha, de Fortaleza, CE

O resultado das eleições do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil de Fortaleza, divulgado no último dia 5, demonstrou a vitória incontestável da Chapa 1, União e Luta, conformada por militantes da Resistência/Psol e da Unidade Classista/PCB. Foram 854 votos para a chapa 1 e 410 votos para a chapa 2, formada pelo PSTU e um setor sindical ligado à DS/PT. As votações corresponderam a 66,98% e a 32,16% dos votos, respectivamente.

Uma importante vitória que fortalece os trabalhadores para enfrentar a devastação do trabalho, a retirada de direitos e a defesa da vida, em tempos de pandemia. O governo de extrema direita e neofascista de Bolsonaro, aliado às Forças Armadas, às Polícias, as milícias e aos setores mais reacionários da burguesia brasileira, tem deflagrado uma onda de ataques sucessivos à classe trabalhadora, aproveitando-se inclusive da situação pandêmica, que dificulta a reação da classe nos locais de trabalho. Nesse contexto, o combate a esses ataques e ao governo da morte, exige uma leitura correta da realidade política do país e a máxima unidade de todos os setores da classe trabalhadora. Tarefa que a chapa 1 esteve à altura em nível do programa, do método e da ação.

Essa vitória acachapante tem muito a nos ensinar. Apesar da situação extremamente difícil exigir a mais ampla unidade, não basta encontrar os acordos na política, é preciso honestidade nos métodos, desvencilhar-se de posturas autoproclamatórias, abdicar do pensamento aparatista e enxergar os sindicatos, de fato, como organizações de frente única da classe trabalhadora. Lamentavelmente, a postura do PSTU, lançando mão de acusações políticas e morais infundadas quando ainda se realizavam reuniões na tentativa de uma chapa unitária, impossibilitou a unidade.

Nos três meses de campanha, além das calúnias com acusação de roubo sem sequer nenhum indício, menos ainda de provas, a chapa 2 fez uma campanha responsabilizando a atual diretoria pelo fato de nos últimos três anos a categoria não ter avançado em direitos. Em vez de debater com os trabalhadores a situação reacionária aberta com o golpe do impeachment, a Lava Jato, a prisão de Lula, a vitória de Bolsonaro e os impactos dessa situação para a classe trabalhadora, buscaram responsabilizar a diretoria do sindicato pela difícil situação. Apesar de serem conscientes que trata-se de uma categoria que, através da luta, manteve direitos e impediu a implantação do banco de horas.

Foi uma eleição nos meses mais letais da pandemia, ao passo que nos preocupamos centralmente com a defesa da vida dos trabalhadores e de suas famílias, realizamos paralisações simbólicas por canteiros de obra em protesto à visita de Bolsonaro ao Ceará, reunimos enquanto sindicato com o TRT para obrigar a patronal a reduzir a jornada de trabalho, eliminando o trabalho aos sábados e desse modo diminuindo a exposição dos trabalhadores ao vírus, tivemos que responder a mentiras, calúnias e difamação. Tivemos que responder a ações na Justiça também, porque, no intuito de impedir a realização de assembleias de prestação de contas do sindicato, o PSTU ingressou na Justiça conseguindo uma liminar e impedindo a realização de assembleia presencial, sob multa de 10 mil reais para a entidade dos trabalhadores. E quando o sindicato convocou uma assembleia virtual, pasmem, outra vez recorreram à Justiça, mas dessa vez não obtiveram êxito. Ficava evidente para a base a tática de enfraquecer a entidade em um momento de embate duríssimo com a patronal e impedir que o processo eleitoral desaguasse tranquilamente.

A fatura de uma política desastrosa

Para termos dimensão do que significa uma corrente de esquerda ter como bússola seus interesses e não os da classe, ainda que seja camuflado pelo discurso aparentemente “mais à esquerda”, no primeiro dia das eleições, ao perceberem a resposta dos trabalhadores votando na chapa 1, trabalharam os dois dias seguintes para a eleição não alcançar o quórum. No último dia faltando 125 votos para o quórum, tentaram intimidar a saída das urnas com um corredor de seguranças. Em voz alta um jovem dirigente do PSTU ordenou: “fica na frente, não deixa passar”. Como já estávamos prevenidos, nossa reação foi filmar toda a movimentação e garantir a saída das urnas porque sabíamos que antes do meio-dia o quórum seria ultrapassado.

O que venceu com 66,98% dos votos foi uma política e um método. Uma política que dialogou com cada operário explicando que, em verdade, a política da chapa 2, ou seja, do PSTU, desde o golpe do impeachment foi desastrosa e desarmou a classe trabalhadora. Eles disseram nos canteiros, em 2016, que o impeachment não deveria ser combatido pela esquerda e pelos sindicatos, que era positivo porque o governo que viesse em seguida seria um governo mais fraco. Disseram em 2018 que a prisão do Lula não deveria ser uma preocupação dos operários, que Lula estava colhendo o que plantou. Nós estivemos na outra trincheira, contra o golpe, contra a Lava Jato e a favor do Lula Livre, chamando a unidade dos sindicatos, centrais e frentes para combater o neofascismo e o governo Bolsonaro. A chapa do PSTU, nas últimas semanas de campanha usava um boneco do Pinóquio e o slogan Fora Psol do Sindicato em seus materiais. A peãozada passou a fatura, deu a resposta. A consciência de classe vai passo a passo com as experiências e consequentemente com a memória.

A vitória foi tão esmagadora que, das 12 urnas da eleição, a chapa 1 venceu em 11 e empatou na décima-segunda. Mas é isso, foi a vitória daqueles que usaram a verdade como resposta às calúnias, a política e o programa contra a baixaria, venceram os operários e operárias da construção civil que saíram fortalecidos e mais unidos na luta contra os patrões e o governo Bolsonaro.