O Vale do Paraíba, região do interior de São Paulo e bastante industrializado, tem sido bastante afetado com desemprego. Em 2020 a Embraer, fabricante de aviões, fechou ao menos 2.500 postos de trabalho. Esse ano já iniciou com o anúncio do fechamento da Ford no Brasil, com 5 mil empregos diretos fechados. Sem contar com os empregos indiretos nas autopeças e mesmo com impacto na economia, nos serviços e no comércio.
Mais recentemente, uma luta importante ocorreu na LG e em suas fornecedoras. No começo de abril, a LG anunciou que sairá do ramo de celulares e vai retirar de São Paulo a produção de notebooks e monitores, encerrando assim as atividades da fábrica de Taubaté e demitindo 700 pessoas.
A LG passou por dois processos de greve ao longo de abril que conquistaram além do valor da rescisão previsto legalmente em qualquer demissão, uma indenização que vai variar de R$ 12 mil a R$ 73 mil, de acordo com o tempo de casa de cada funcionário. Antes das greves, a proposta variava de R$ 8 mil a R$ 35 mil. Isso tem uma importância enorme, especialmente em meio à pandemia. Com esse valor, será possível segurar a vida financeira por um período, evitando se expor ao risco do coronavírus em busca por emprego. É preciso considerar também que existem poucas oportunidades de trabalho e o desemprego só tem crescido. Ou seja, não há emprego disponível e as pessoas não podem sair de casa por uma questão sanitária.
Mas, além de sua fábrica, a LG é responsável pela produção de ao menos três empresas – Bluetech, Suntech e 3C – que juntas somam mais 430 pessoas, na maioria mulheres. Essa é na verdade uma manobra da lei de tercerização, uma vez que são fornecedoras exclusivas da LG e são responsáveis pela maior parte da produção de seus celulares.
Mas neste acordo aprovado na LG, não foram contempladas essas empresas terceiras, justamente por legalmente, não serem parte do quadro de funcionários. Elas que ficaram em greve um mês inteiro, não receberiam nada. Foi uma mobilização ainda mais intensa, com piquetes na porta das fábricas 24 horas 7 dias por semana, passeatas em Caçapava e São José dos Campos, cidades onde estão localizadas, e até mesmo na Avenida Paulista, em frente ao Consulado da Coreia do Sul, país matriz da LG.
Desde o momento que essa notícia veio a público, essas terceiras entraram em greve. Mas somente no início de maio, um mês depois, conseguiram um desfecho para essa situação. Com uma vitória significativa, conquistaram 90% do que será pago de indenização na LG – a empresa matriz.
Essa é uma vitória importante, primeiramente, por todo simbolismo que carrega de uma luta de resistência como essa em meio a uma pandemia. Mais ainda quando falamos de mulheres, maioria de mães, que ainda são as responsáveis pelos cuidados com casa e filhos. Mas é uma grande vitória também pela conquista do acordo em si. Se por um lado a LG manobrava a lei de terceirização e passava para essas fornecedoras a produção de seus celulares, por outro, esse processo de resistência fez com que essas trabalhadoras chegassem a uma indenização bastante próxima ao que foi conquistada na empresa direta.
Obviamente que o ideal seria que recebessem o mesmo valor, ou ainda uma conquista de estabilidade no emprego, impedindo assim as demissões. Mas estamos vivendo um momento político muito difícil, a maioria das lutas que ocorrem são com caráter absolutamente defensivo. Se houvesse um processo mais amplo de mobilização, um ascenso ou algo do tipo, com amplos setores garantindo estabilidade no emprego, seria possível pensar em outro desfecho para essa luta mais especificamente.
A estabilidade no emprego é uma demanda da população atualmente e para garantir isso será preciso inverter a lógica política aplicada no país. É preciso que os ricos paguem pela crise. Não vamos aceitar ver o sofrimento do povo em detrimento da garantia de lucro para grandes empresários. Assim, podemos ver que essas lutas citadas são exemplos que expressam um pouco do que é o cenário nacional e os desafios que estão colocados para a classe trabalhadora.
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