Pular para o conteúdo
Colunas

Jones Manoel e o esquerdismo

Reprodução

Gabriel Casoni

Gabriel Casoni, de São Paulo (SP), é professor de sociologia, mestre em História Econômica pela USP e faz parte da coordenação nacional da Resistência, corrente interna do PSOL.

Jones Manoel fez, recentemente, um post polemizando com as posições da Resistência, corrente interna do PSOL, que foram expressas por Valerio Arcary. De cara, Jones se refere a um texto de 2019 de Valério. Neste artigo, consta uma hipótese (entre outras) de que, no contexto da saída de Lula da prisão, o PT e seu líder principal pudessem adotar uma linha mais à esquerda. Jones, por sua inteligência e experiência na militância partidária, deve saber que todo partido (seja burguês, reformista, centrista ou revolucionário) pode, dependendo do contexto político, ir mais à ‘ “esquerda” ou à “direita” em sua linha política, sem mudar sua essência programática e estratégica. Lula e o PT podem ir mais à esquerda ou mais à direita em sua política (o que Valério afirmou), mas serão sempre a favor da estratégia da colaboração de classes (o que Arcary sempre disse). Portanto, a acusação que Jones Manoel faz é, antes de tudo, falsa, pois desfigura a posição do interlocutor para atacá-lo por algo que ele não defendeu. Esse tipo de método é nocivo, embora, infelizmente, seja comum na tradição estalinista.

Jones fez esse preâmbulo em seu post, baseado numa falsificação da posição de Valério, para atacar a posição da Resistência, que defende a formação de uma Frente de Esquerda como um programa anticapitalista. A sequência do seu post é também a continuidade do método da distorção. Defender a política da Frente de Esquerda com um programa de esquerda, sem alianças com setores burgueses, para enfrentar e derrotar Bolsonaro, é fazer exatamente o oposto do que afirma Jones. Trata-se de uma política contrária à colaboração de classes, à aliança com partidos e setores burgueses e ao programa reformista moderado. Valério defende o oposto do caminho que Lula mais uma vez busca trilhar, o da costura da aliança de classes para administrar o capitalismo brasileiro.

Mas Arcary, ao mesmo tempo, leva em conta, na forma da tática política, a esperança que uma enorme parcela do povo trabalhador deposita em Lula — esperança, em primeiro lugar, de que o líder petista possa derrotar Bolsonaro. Manter a defesa de um programa anticapitalista e a estratégia de independência de classe sem romper o diálogo com a massa do povo é o desafio de sempre. A linha da Resistência busca justamente dar conta dessa árdua tarefa, para que o PSOL seja um instrumento útil na luta contra Bolsonaro, mantendo a defesa de um programa de esquerda em contato com o melhor da classe trabalhadora e da juventude.

O caminho sugerido por Jones pode ser confortável dentro da minúscula bolha da esquerda que quer denunciar as traições passadas e futuras do PT de qualquer forma, sem procurar saber se elas encontram algum eco entre os trabalhadores. Assim, o discurso esquerdista pode funcionar para manter um pequeno grupo de seguidores descolados da realidade política do povo, mas de nada serve para combater as ilusões reformistas que existem nas massas. Em nome de combater a colaboração de classes, a linha esquerdista de Jones apenas facilita seu triunfo.

 

[Atualização 13h55]  Segue abaixo o print do post.

 

LEIA MAIS

Por uma Frente Única com um programa anticapitalista, por Valerio Arcary