A vida é um processo dialético, ou seja, marcado por eternas contradições em constante transformação. Aparentemente, a morte evidencia essa verdade humana semi eterna, pois em nossa última partida todos os caminhos que percorremos com o coração batendo parecem convergir a um lugar onde os seus batimentos não são mais necessários. Essa síntese do nosso ser se cristaliza como maior evidência nas vivências artísticas, ali, na vida daqueles cuja sensibilidade é ofício, esteticamente se encontra representado com a maior das mais belezas a soma dos encontros e desencontros que fazem nós, e o mundo no qual vivemos, sermos o que somos. Ontem vimos, quando um país, de sorrisos vermelhos da cor do sangue, assistiu o humorista Paulo Gustavo abraçar emudecido e prematuramente a Paz Eterna. E o Brasil chorou sua morte, mesmo sendo governado pela a piada mundial que retirou o sorriso do comediante para sempre.
O Governo do Brasil matou Paulo Gustavo. Matou sorrindo. Afinal, a festa não pode parar.
De fato, notamos isso em cada pronunciamento pseudo moralista que defendeu a quarentena sem salvaguardar os interesses dos mais pobres e a fragilidade dos mais vulneráveis. Sem dúvida, contribuiu também o deboche sobre a Covid-19, reproduzido por aqueles munidos da rebeldia genocida emanada do planalto, que foram às ruas, de verde e amarelo, vestidos como verdadeiros Dons Quixotes, campeões do rídiculo, mas nesse caso também da morte.
A democratização da barbárie travestida da defesa republicana dos bestializados também matou Paulo Gustavo, das casas de festas clandestina em bairros da classe média alta até os sítios dos sertanejos universitários. E muito antes de Paulo Gustavo, homem que disse ser “o amor uma ação”, ver o suspiro da vida lhes deixar o peito, muitos outros milhares morriam, morriam, morriam e morriam, porquanto outros, na posição de representantes do povo, debochavam, ignoravam, matavam e sufocavam. Na altura em que o pulmão do Brasil, e do mundo, já estava manchado de sangue com o colapso de Manaus, na mão dos defensores da pátria a morte por Covid já era piada velha. Ao contrário das risadas produzidas por Paulo Gustavo com a sua senhora dos absurdos, o governo verdadeiramente absurdo da pátria Brasil nos fez chorar, muito, as lágrimas do desespero. É um choro cortante e projetado no silêncio como uma força reticente, dolorosa, mortal, balizada pelo ritmo das incertezas e frustrações acumuladas num pulmão que morre lentamente.
Aos membros da família de Paulo Gustavo, resta o destino familiar a todos nós: Encontrar paz naqueles que permanecem e buscar a felicidade tão sublime quanto o riso de uma pequena criança. Como comunidade, como povo, como nação e país, nos resta honrosamente respeitar o legado de amor à vida que a eterna Dona Hermínia nos deixou. Talvez, como irmãos nos levantando juntos, lembrando uns aos outros sobre como as noites parecem pouco escuras perto do amanhecer. E irá amanhecer, haverá o dia da luz, do amor, da paz, liberdade e sobretudo da justiça. Assim, nós iremos recuperar o riso que essa piada mortal nos levou.
O Brasil matou Paulo Gustavo ao debochar da Covid 19, mas há aqueles dentre nós que trarão justiça à sua memória e a honra de volta ao país.
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