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MOVIMENTO

Metroviários de São Paulo marcam greve para 12 de maio

Camila Lisboa*, de São Paulo, SP
Sindicato dos Metroviários SP

Está em curso a campanha salarial dos metroviários. Já aconteceram as três rodadas de negociação entre o Metrô e o Sindicato dos Metroviários. Novamente, a empresa e o governo Dória tentam atacar direitos dos trabalhadores. É um processo semelhante ao de 2020, mas com a somatória dos fatos de que, mesmo com a vitória da greve do ano passado, a categoria teve posteriormente várias perdas econômicas – com o corte de adicionais de periculosidade de algumas áreas, não pagamento de 2ª parcela da PLR, fim dos adicionais de bilheteria, além de aumentar o desgaste com o fato de não terem ocorrido reajustes desde 2018. As perdas citadas, o impacto da inflação, o aumento do preço dos alimentos e do desemprego na família dos trabalhadores ampliam a revolta dos metroviários e a necessidade de lutar pela reposição das perdas.

Esta ofensiva sobre os direitos dos trabalhadores se configura um verdadeiro desrespeito com uma categoria que está cumprindo um papel essencial em meio à pandemia do coronavírus. O Metrô não parou de funcionar e na semana passada foi eleito o melhor serviço público da cidade de São Paulo. Isso é resultado do trabalho de mulheres e homens que arriscam sua saúde e suas vidas para fazer o Metrô funcionar. No universo de quase 8 mil funcionários, foram mais de mil infectados, uma taxa de contaminação superior à taxa nacional e ainda ocorreram 28 falecimentos. Com isso, mais de 90% dos votos da assembleia ocorrida entre os dias 4 e 5 de maio definiram pela deflagração da greve no próximo dia 12.

Dória quer derrotar os metroviários para se cacifar como alternativa política

O intuito do governo Dória é derrotar politicamente os trabalhadores do Metrô e sua organização sindical impondo uma derrota econômica acachapante, de modo que isso sirva de exemplo a ser utilizado por Dória para se cacifar como alternativa política para o país e para o estado. Com essa postura, Dória demonstra para os empresários e a mídia a sua forma de lidar com as empresas estatais, com o movimento sindical e com o projeto de privatização, ou seja, o seu projeto neoliberal de país e de governo. Portanto, entendemos que este conflito trabalhista tem uma dimensão muito grande. Seu desfecho cacifa mais ou menos Dória para ser o representante político dos grandes empresários. De outro ângulo, uma vitória dos metroviários contribui para fortalecer a resistência dos trabalhadores de todo o país.

Metroviários resistem e mobilização cresce

Barulhaço no Pátio Jabaquara

Há uma greve marcada para o dia 12/05. No dia 11, vai acontecer uma manifestação de rua, em frente ao CCO, cérebro de funcionamento do Metrô, que conta com uma importante organização dos trabalhadores deste local também, após a participação integral de seus funcionários na greve do ano passado, o que não ocorria há décadas. O clima de luta está forte. No dia 16 de abril, os trabalhadores tiraram seus uniformes e trabalharam de preto, em luto e em luta por vacina. A vacina foi parcialmente conquistada. Agora, a mobilização é pela extensão da vacina para todos e em defesa dos direitos.

No dia 4 de maio, os trabalhadores dos pátios da manutenção fizeram um “barulhaço” e os operadores de trem, agentes de estação e da segurança trabalharam de colete, ação que segue ocorrendo. No dia 11, após a manifestação em frente ao CCO, vai acontecer uma assembleia virtual que decide pela deflagração da greve do dia 12.

Governo Dória coloca bode na sala e ameaça organização sindical

No dia 26 de abril, um dia antes da primeira reunião de negociação da campanha salarial, a empresa enviou uma carta ao sindicato pedindo para deixarmos a sede do sindicato em 60 dias. O terreno aonde se encontra o sindicato foi cedido pelo Metrô em 1987, com contrato em regime de comodato. Este contrato foi renovado e alterado várias vezes. No ano passado, o Metrô não queria renovar e após negociação, renovou por 1 ano, o que se encerra em outubro de 2021. Esta concessão foi apenas do terreno e o prédio foi construído pelos metroviários, assim como o pagamento do IPTU do terreno é feito pelo sindicato.

Na semana posterior à “carta de despejo”, a empresa publicou um edital de licitação de venda da área a ser realizada no dia 28 de maio. Nesta primeira semana de maio, começou a agendar visitas de construtoras que possam estar interessadas em comprar o terreno.

A primeira atitude do sindicato foi deixar explícito na negociação da campanha salarial que não aceitarão que o tema da sede entre na mesa de negociação como moeda de troca. O Metrô aceitou isso, mas na medida em que acelera o processo de retomada do espaço, antes do prazo do contrato, no mês da campanha salarial, um dia antes da primeira rodada de negociações, fica explícito o objetivo de complicar a organização e resistência da categoria.

A motivação do Metrô retomar o terreno é a alegação da empresa de estar em crise. De fato, o Metrô está colocando vários terrenos e prédios para venda, na medida em que coloca uma parcela importante dos trabalhadores em home office. A opção por essa forma de retomada financeira da empresa está orientada pela ideia de que o Metrô não deve receber subsídio estatal, o que entendemos ser um equívoco, porque transporte público deve receber recursos públicos e porque o governo não exita em dar dinheiro para a CCR, empresa privada que gere as linhas privadas e agora as linhas 8 e 9 da CPTM.

Em um primeiro momento, batalharemos pelo adiamento da licitação, para que ele não ocorra junto com a campanha salarial. Em um segundo momento, acreditamos se necessário resistir, sob o mote do direito democrático de organização sindical. Esta situação, a nosso ver, impõe a construção de uma articulação política ampla para defesa desta sede que é um símbolo para todo o movimento social de São Paulo.

No dia 7, as 11h, vai acontecer uma reunião bastante representativa, com a presença de diversos mandatos parlamentares e representantes de centrais sindicais e sindicatos. A partir desta reunião, queremos construir uma campanha política em defesa da sede do sindicato e com o desenvolvimento deste processo, avaliar as condições de enfrentamento futuros.

*Coordenadora-geral do SIndicato dos Metroviários de São Paulo.