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BRASIL

Arroz e feijão estão mais caros e mercado prepara reajuste no preço do frango

Alta no preço dos alimentos supera a inflação e prato feito ficou 23% mais caro. Produtores priorizam exportação, enquanto insegurança alimentar aumenta

da redação
Panela de feijão, em restaurante
Marcelo Camargo/Agência Brasil

Enquanto o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) registrou alta de 6,1% na inflação anual até março, o arroz atingiu 61% e o feijão preto alcançou 69% de aumento segundo o mesmo levantamento. Em geral, o prato feito passou a custar 23% mais do que em março do ano passado, considerando também outros alimentos como carne, ovo, batata e salada.

O levantamento feito pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) aponta que a alta de preço da carne bovina foi de 27,2%, do frango, 13,9% e que o ovo está 10% mais caro. Enquanto o custo da batata subiu 19% e da cebola, 40%. O tomate foi o único que registrou queda, de 24%. A pesquisa monitora a variação nos preços de bens e serviços habituais das famílias, cobrindo as cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Porto Alegre e Brasília.

Entre os principais motivos identificados para o aumento nos preços dos alimentos está a alta do dólar, hoje em R$ 5,46. A alta da moeda norte-americana influencia nos preços dos insumos e dos alimentos, pois o agronegócio prioriza as exportações. E o dólar alto também afeta o preço dos combustíveis, que subiram em média 11,23% em março, por conta da política de preços da Petrobras, que acompanha os preços internacionais.

“Mercado” prevê novos aumentos, de olho no auxílio emergencial

De acordo com matéria publicada pelo jornal Valor Econômico na última segunda-feira (26), empresários do ramo do agronegócio ameaçam ampliar o aumento do preço das carnes. Eles alegam que os reajustes da carne de porco durante o último ano teriam sido cinco vezes maiores no atacado do que no preço nas gôndolas de supermercado, segundo os produtores e considerando o IPCA e indicadores do Cepea/Esalq/USP. Enquanto o preço no atacado subiu 123,6%, para os consumidores finais, o preço da carne subiu 26,6%, no período de um ano. O preço do frango no atacado subiu 70% em um ano (até março) enquanto o valor ao consumidor teria subido 14,4%.

Só não fizeram ainda porque acham que o mercado consumidor não teria condições de “absorver o reajuste”. Na matéria, o mercado não tem pudor em reconhecer que aposta na nova fase do auxílio emergencial para repassar estes valores no preço ao consumidor. Os empresários estão de olho no dinheiro que vai circular com o auxílio e planejam subir ainda mais os preços. A alta do atacado deve ser incorporada pelos intermediários varejistas, chegando até o preço final, para a população. Com isso, quem passou a receber os R$ 150 durante quatro meses conseguirá levar ainda menos carne e alimentos para casa.

Carne de frango sendo preparada para exportação, no Paraná. Fotos Públicas.

Lucro acima da vida

A explicação para isso não está apenas nos custos de produção, como o preço de insumos ou o combustível, que subiram com a alta do dólar, ou a crise na economia. A pressão pelo aumento dos preços ao consumidor leva em conta o fato de que a alta do dólar torna cada vez mais atraente aos produtores e empresas exportarem sua produção. Ou seja, o lucro que os fabricantes deixam de conseguir quando vende ao mercado interno, em real, também é um parâmetro. Ou seja, o mercado e o agronegócio priorizam seus lucros, em detrimento da segurança alimentar da população brasileira. As exportações brasileiras de frango aumentaram e somam 1 milhão de toneladas. O mesmo ocorreu com a carne suína, que elevou a receita das exportações em 22,5% em um ano, na pandemia.

Enquanto isso, a maioria da população sofre com insegurança alimentar, fruto do desemprego, achatamento dos salários e com a insegurança de renda no trabalho informal em meio à pandemia. E, segundo levantamento feito pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN), mais de 19 milhões de brasileiros e brasileiras chegaram a passar fome nos últimos meses do ano.

É preciso garantir a alimentação barata do povo brasileiro, priorizando a produção e venda ao mercado interno, auxiliando os pequenos produtores e com a Petrobras reduzindo o preço dos combustíveis. É hora de os distribuidores e o agronegócio, tão badalado pela mídia e por todos os governos, pararem de inflacionar a comida enquanto o povo passa fome. E, enquanto lutamos contra o andar de cima e exigimos a ampliação da renda emergencial, precisamos fazer por nós mesmos, fortalecendo todas as iniciativas de solidariedade que vêm sendo organizadas pelos movimentos sociais nas periferias, como cozinhas solidárias e distribuição de cestas básicas.