Por Tali, 14/04/2021 http://insisto-resisto.org/wordpress/?p=5129
Tradução: Joana Benário
O Movimento ao Socialismo (MAS) recebeu um duro golpe no segundo turno das eleições regionais, ao somar derrotas nos quatro estados bolivianos em jogo. Sua liderança, a começar pelo ex-presidente Evo Morales, já anunciou que se aproxima uma etapa de avaliações e reestruturações internas. Nas eleições de março (no primeiro turno), o partido de Morales e do presidente Luis Arce ganhou nos estados de Cochabamba, Oruro e Potosí, perdendo os de Beni e Santa Cruz. Agora também não poderão governar em La Paz, Tarija, Pando e Chuquisaca. Os resultados, no entanto, não delineiam uma liderança clara na oposição, que permanece dispersa.
No estado de La Paz, que constitui o centro político do país, o candidato do MAS, Franklin Flores, atingiu 44,34% dos votos, longe dos 55,66% alcançados pelo adversário do grupo Jallalla, Santos Quispe, com 90% dos votos apurados. O partido governista nunca precisou anteriormente de um segundo turno ali e já havia perdido em março na cidade de El Alto, (estado de La Paz), um bastião histórico do MAS, pelas mãos da ex-presidente do Senado, Eva Copa, expulsa do partido.
O governador eleito, Santos Quispe, é filho de Felipe Quispe, “El Mallku”, líder camponês, deputado e candidato popular à presidência, falecido em janeiro. “Vamos dedicar esta vitória a ele, vamos entrar no governo estadual com o ajayu (espírito) do Felipe e não vamos fazer ele ficar mal, vamos governar muito bem com transparência e humildade”, afirmou Quispe na celebração realizada na cidade de El Alto.
Em Tarija, região de gás do sul do país, a votação foi encerrada com mais uma clara derrota para o MAS. O candidato Álvaro Ruiz acumulou 45,56% dos votos contra o opositor de centro-direita Oscar Montes, de “Unidos por Tarija” que obteve 54,44%. Na segunda-feira, Ruiz reconheceu a derrota em conferência de imprensa: “Lamentamos não ter alcançado a vitória, mas hoje temos que trabalhar de onde estamos com o mesmo compromisso”.
Em Chuquisaca, no sudeste do país e com a contagem já encerrada, Juan Carlos León, do MAS, alcançou 42,68% dos votos contra 57,32% do líder quechua Damián Condori. E no estado de Pando, ao norte do país, o candidato governista Miguel Becerra obteve 45,32% dos votos contra Regis Richter, um ex-líder masista agora no MTS, que reuniu 54,68%.
O ex-presidente da Bolívia, Evo Morales, reconheceu a derrota do MAS nos quatro estados em jogo na votação e garantiu que convocará uma “reunião de emergência” para avaliar “por que, o que aconteceu e o que deve ser feito”. Na comemoração do aniversário do sindicato na região do Trópico de Cochabamba, o ex-presidente lembrou que o novo mapa político regional se assemelha ao de 2005, ano em que houve as primeiras eleições para governadores estaduais e quando o MAS obteve três cadeiras. Seis outros estavam nas mãos da oposição.
Por sua vez, o ex-vice-presidente Álvaro García Linera disse que não é mais suficiente para vencer a eleição, que o MAS apoie um candidato, pela ausência de lideranças regionais. «Agora já não basta porque há uma fragmentação do campo popular. Antes havia uma associação entre o popular e o MAS, mas hoje o popular tem várias cabeças em nível regional ”, disse García Linera em entrevista à rede Bolivisión.
Enquanto isso, o Secretário executivo da Central Operária Boliviana (COB), Juan Carlos Huarachi, afirmou que o que aconteceu é um “puxão de orelha” para o qual se propôs a realizar uma “avaliação profunda do Instrumento Político” para reconfigurá-lo. “Uma mudança, é isso que as pessoas estão pedindo: novos quadros políticos, novos quadros sindicais”, disse Huarachi em declarações à rádio Erbol.
Da calçada da oposição saíram para festejar, como esperado, o resultado do domingo. «Felicito os governadores eleitos Santos Quispe, Regis Richter, Damián Condori e Óscar Montes. La Paz, Pando, Chuquisaca e Tarija deixaram claro sua rejeição à corrupção, abuso, perseguição e discriminação”, disse o ex-presidente e líder da principal força de oposição, Carlos Mesa.
Na mesma linha, Luís Fernando Camacho, governador eleito do estado de Santa Cruz, motor econômico do país, disse que “os eleitores não se intimidaram com as mensagens de confronto e com a chantagem de que se não votassem no MAS, não lhes seja entregue recursos, vacinas ou obras”. O ex-líder cívico e um dos principais acusados no caso aberto pelo golpe contra Evo Morales, pelo qual a ex-presidente de fato Jeanine Áñez foi detida há um mês, destacou que com os resultados do segundo turno das eleições “ganha a democracia, perde o abuso e autoritarismo do MAS.”
Enquanto isso, a prefeita eleita da cidade de El Alto, Eva Copa, destacou que a população “espera renovação e mudanças na política, que os políticos cumpram a sua palavra e ponham de lado a discriminação, o racismo e o separatismo”. A autoridade da cidade de El Alto indicou que existe “uma direção do MAS que se considera todo-poderosa” que não permite que o estado de La Paz cresça.
A participação eleitoral nas eleições regionais do dia 11 de abril chegou a 83%, um número considerável, considerando que se trata de um segundo turno de eleições regionais. A posse das novas autoridades dos governos regionais e municipais da Bolívia está programada para o dia 3 de maio próximo.
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