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CULTURA

“Golpe de ouro”: como a classe média brasileira doou até alianças para apoiar a ditadura

Bernardo Pilotto, do Rio de Janeiro, RJ
Reprodução/revistadecinema

Durante os dias 08 e 22 de abril, é possível assistir ao documentário Golpe de Ouro através do 26º Festival É Tudo Verdade, que reúne documentários nacionais e estrangeiros, de diversos temas. Dirigido por Chaim Litewski, o filme aborda a campanha lançada pelos Diários Associados, uma das mais fortes redes de comunicação do Brasil, em maio de 1964, objetivando que a sociedade brasileira doasse ouro para apoiar o regime militar recém instaurado.

Além de ter o mérito de tratar dessa história pouco comentada, o documentário entrevista diversos articuladores da campanha e também pessoas que doaram, desde joias até alianças. O filme conta ainda com imagens incríveis do período.

Assim como (o também ótimo) “Cidadão Boilesen”, este documentário ajuda a desnudar a participação da sociedade civil, através das “famílias de bem”, dos Rotarys e Lions Club, das associações empresariais e comerciais, no governo ditatorial instaurado em 01°/04/1964. A ditadura foi civil-militar e isso sempre é importante de ser lembrado.

As imagens de “Golpe de Ouro” mostram a força da mobilização da extrema-direita brasileira para consolidar seus objetivos e para envolver a sociedade brasileira como um todo. O diretor também foi muito feliz ao ligar as movimentações ocorridas nos anos 1960 com a mobilização orquestrada em 2015/2016 que resultou no golpe parlamentar que derrubou Dilma Rousseff.

E essa comparação também nos traz uma reflexão importante e, de certa forma, alentadora: mesmo após uma ditadura civil-militar que foi instaurada com muita força, a organização popular conseguiu reverter a relação de forças, derrubar esse regime autoritário e construir uma nova Constituição. Muita coisa faltou, é verdade. Mas muito foi construído. Que nos sirva de inspiração para sair do atoleiro que estamos metidos.