Um dirigente de massas deve saber as dirigir no poder ou sem ele, no governo ou fora dele. Um país que tem mais de 4 mil mortes por dia por obra de um neofascista genocida não pode se contentar com um discurso eloquente e outro, com uma nota crítica e outra, com uma entrevista sardônica e outra, até que o calendário eleitoral conceda a chance de que o desastre possa ser interrompido. Vivemos como que em uma guerra, e quem o disse foi Lula, em quem milhões de trabalhadores e trabalhadoras depositam suas esperanças para que o ar pare de cheirar à morte – e para que não falte ar. Seria, assim, fundamental que Lula, com toda a audiência, aparatos, peso político e relações internacionais que possui, começasse a militar pela queda o quanto antes de Bolsonaro, defendendo abertamente uma política de lockdown, de auxílio emergencial e trabalhando junto a Biden e demais aliados internacionais para a aquisição de vacinas e insumos de emergência. Se estamos numa guerra, se o Brasil está sendo ocupado e derrotado pela pandemia, se Vichy é aqui, se Bolsonaro faz as vezes de Pétain e se não podemos esperar até amanhã, talvez não seja demais exigir que Lula se porte como líder dos partisans. Se Lula ousasse, se Lula largasse o sonho da conciliação pelo desejo da ação, se Lula soubesse que em guerra não se ganha com paz e que o mercado não se comove com a dor dos explorados, em suma, se Lula não fosse Lula, e se o futuro do pretérito se convertesse em futuro do presente, não faltariam resistentes.
Lula e o futuro do pretérito
Doutor em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e professor da Faculdade de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). É autor, entre outros livros, de “O Longo Bonapartismo Brasileiro: um ensaio de interpretação histórica (1930-1964)” (Mauad, 2013) e “Depois do Golpe: a dialética da democracia blindada no Brasil” (Mauad, 2017).
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