Em meio à sofrida e trágica pandemia da Covid-19 que atinge o mundo, a cidade de São Paulo segue a reboque das ações de marketing do governador João Dória, sempre guiadas pela “ciência”… do mercado. Buscando se diferenciar da política abertamente genocida do Presidente Jair Bolsonaro, a oposição de Doria e Covas se encerra na rendição ao deus mercado.
É preciso dizer nitidamente: as medidas tomadas por eles são insuficientes e contribuem para o agravamento da crise sanitária e social. Além disso, ambos defendem e aplicam o programa liberal que ataca os direitos sociais e trabalhistas.
A cidade, que já assistiu a perda de pelo menos 24 mil pessoas entre mais de 767 mil de pessoas contaminadas em um ano, ainda comete erros justificados pela suposta busca do equilíbrio da preservação da vida com a preservação da economia. Suposta.
Nas entrevistas coletivas concedidas pelo Prefeito Bruno Covas (PSDB), uma montanha de números sobre as ações da gestão são despejadas sobre a imprensa e a população. Números, que sem parâmetros comparativos, podem enganar desavisados ou distrair até as pessoas mais atentas.
Em alguns exemplos podemos ver a disparidade entre as ações da Prefeitura e a necessidade real da população. Diz o site da Prefeitura: “entre maio de 2020 até o último dia 15 de março, a soma chega 2,4 milhões de cestas básicas e mais de 1 milhão de kits de higiene distribuídos aos paulistanos”. O número parece alto e a ação da Prefeitura efetiva, apenas se não for questionado: quantas pessoas estão passando fome ou estão em situação de insegurança alimentar na cidade?
O que se sabe, a partir de pesquisa realizada pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), é que “em 2020, apenas 44,8% dos lares no Brasil tinham seus moradores e suas moradoras em situação de segurança alimentar. Isso significa que em 55,2% dos domicílios as pessoas conviviam com a insegurança alimentar, um aumento de 54% desde 2018 (36,7%)”.
É de se supor que, em São Paulo, a capital da desigualdade social, este índice signifique um número enorme de pessoas nesta condição. Ainda mais com a permanência prolongada e o agravamento ainda maior da pandemia.
Enfrentamento à Covid-19
Semanalmente assistimos a repetição do seguinte roteiro: aumenta o número de mortos e infectados por Covid-19; o Comitê contra Covid-19 faz recomendações baseadas principalmente nos dados e projeções da medicina (a chamada ciência); Doria não segue tais recomendações; e Covas… segue o Dória.
A tentativa discursiva é, a cada dia, afirmar que a responsabilidade pelo aumento de casos e mortes por Covid-19 é única e exclusivamente das pessoas que não seguem os protocolos de segurança. Essas pessoas existem, de fato. Mas por quê?
Com exceção de negacionistas que ainda não se convenceram do perigo da pandemia, a maior parte dessas pessoas estão sendo obrigadas a trabalhar “normalmente”, pois, precisam escolher entre a fome e o risco de contaminação pela Covid-19.
Em seu discurso de posse no dia 1 de janeiro de 2021, Covas fez, entre diversas outras, a promessa de continuidade do auxílio emergencial municipal. De lá pra cá, a situação do emprego e da renda na cidade só piorou, inclusive pelo fim do auxílio emergencial nacional. A Prefeitura anuncia então o pagamento do auxílio municipal para 1,2 milhões de pessoas, durante três meses e no valor de R$ 100. Essa é a condição oferecida pela Prefeitura para garantir um isolamento social?
Está mais do que comprovado pelas experiências de outros países, que a política mais eficiente para redução do índice de contaminação do vírus é o lockdown. Essa é a recomendação da ciência, que o governo diz seguir. Mas a Prefeitura opera em sentido oposto quando se trata da educação.
A demora na distribuição dos tablets com internet, além do número insuficiente de unidades, prejudicou as aulas remotas desde o início da pandemia. A volta das aulas presenciais no dia 15 de fevereiro – aquele período onde já se sabia que haveria aumento de casos – colocou as profissionais da educação e toda a comunidade escolar em risco.
Agora, novamente a Prefeitura opera para a volta irresponsável do ensino presencial. A última jogada foi o anúncio da vacinação de professores e professoras acima de 47 anos e a testagem em massa dos profissionais da educação – que têm gerado absurdas aglomerações. Mas, mesmo sem a conclusão desse processo, determinaram a volta das aulas presenciais neste dia 12 de abril.
Na prática, Covas além de não garantir as condições para um isolamento social, elege determinados setores para correrem risco de morte no pior momento da pandemia.
Diversas categorias vivem problema semelhante. As e os trabalhadores dos transportes nunca tiveram um plano emergencial para seu setor. Enquanto as imagens de superlotação dos transportes é transmitida na televisão, familiares e amigos enterram essas e esses profissionais.
O mesmo vale para pequenos empresários e comerciantes da cidade. No desespero para manter seus negócios em funcionamento, inclusive para a sobrevivência pós-pandemia, se arriscam na manutenção de seus trabalhos pois os auxílios oferecidos pela Prefeitura são totalmente insuficientes. E na prática, Doria e Covas utilizam de seu desespero para reabertura dos comércios e justificativa para não decretar lockdown na cidade, quando deveriam oferecer as condições para isso.
A desigualdade escancarada
É importante lembrar que o início da pandemia na cidade de São Paulo atingiu com mais força alguns bairros ricos. Rapidamente isso se inverteu e hoje as periferias da cidade, composta pela maioria da população negra e pobre, que necessita escolher pela manutenção da renda para não passar fome, são as que concentram maior número de infectados e mortos, como Sapopemba, Brasilândia e Grajaú que estão no topo da lista.
A pandemia também têm afetado com mais força a vida das mulheres da cidade. Elas são maioria entre as pessoas que ocupam postos informais de trabalho e entre desempregadas. Há também aumento da carga de trabalho doméstico e de casos de violência doméstica.
Ausência do povo
Todo esse cenário é facilitado pela impossibilidade dos movimentos sociais e da população em geral tomar as ruas para protestar contra essas medidas diante da pandemia. Covas e Doria se guiam, portanto, pelas pressões das elites econômicas. E isso parece ser muito confortável para eles.
A próxima ameaça é a revisão do Plano Diretor Municipal sem a participação efetiva da população. É neste sentido que a Prefeitura tem apontado para um processo que pretende definir sobre a organização territorial da cidade nos próximos anos.
Hospitais públicos municipais seguem fechados enquanto a ocupação de leitos se aproxima da sua lotação máxima. Dessa forma, os 100 dias da nova gestão de Bruno Covas na Prefeitura de São Paulo é marcada pela agoniante tomada de medidas que não enfrentam as mazelas da pandemia e arrastam, de maneira cínica, milhares aos cemitérios da cidade.
*Bancada Feminista do PSOL, composta pelas covereadoras Silvia Ferraro, Paula Nunes, Carolina Iara, Dafne Sena e Natália Chaves.
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