Desde o último dia 24 de março, data do início do “retorno gradual” das atividades presenciais das escolas e núcleos de educação infantil municipais (NEIMs) de Florianópolis, os servidores e servidoras paralisaram os trabalhos e deflagraram greve, considerando não haver quaisquer condições sanitárias de segurança para o retorno presencial.
Sob o emblema #EssencialÉaVida, o Sintrasem, sindicato da categoria, tem mobilizado a população e demonstrado nos mais variados materiais elaborados pelos profissionais da rede municipal e também pelas famílias dos estudantes, o quanto a opinião pública da cidade legitima a causa e também defende que o retorno presencial às atividades expõe ainda mais a população ao contágio e, consequentemente, a ampliação do colapso no sistema de saúde da região.
A prefeitura por decreto e portaria (1) definiu o retorno “gradual” a partir do dia 24, considerando que todas as unidades educativas da cidade deveriam estar abertas e implantado o “ensino híbrido” até o próximo dia nove de abril, data que se aproxima, mas que, diante dos últimos acontecimentos, é apenas mais um momento de choque com a realidade daqueles que ainda não entraram em greve e certamente ampliarão o quantitativo da paralisação, pois afinal, #essencialéavida.
Falta de responsabilidade
As condições para paralisação são desafiadoras, uma vez que os números da pandemia são alarmantes e nossa cidade é nada menos que a capital com a maior velocidade de duplicação de casos de Covid-19, de acordo com recente pesquisa da FIOCRUZ, divulgada pelo SINTRASEM (2). Com isso, assim como na maior parte de nosso país, as lutas nas ruas são muito arriscadas e grande parte de nossa categoria é inclusive classificada como grupo de risco.
Contudo, a mobilização nas redes sociais, a criatividade das educadoras e educadores, dos estudantes e seus familiares tem furado as bolhas virtuais e atingido toda a população. Um exemplo disso foi o desconforto de parte da bancada da câmara de vereadores, da base do governo municipal, que reclamaram na tribuna estar com suas caixas de mensagens cheias de pedidos e acusações de responsabilidade em relação ao movimento grevista. Alguns vereadores, a começar pelo próprio presidente da Câmara, Katumi do PSD, publicamente já se colocaram a favor do não retorno.
Enquanto isso, no prédio da administração da prefeitura, onde está localizada a sede e o gabinete da Secretaria Municipal de Educação, além dos guardas e trabalhadores terceirizados, o que vemos são apenas as moscas voando, indicando talvez que a podridão da política em curso no local esteja atraindo esse tipo de inseto.
Prova disso foi a situação na semana passada, dia 30 de março, quando uma comitiva de familiares membros dos conselhos deliberativos das escolas e creches esteve presente no prédio, junto com trabalhadores e trabalhadoras organizados em um ato simbólico. O Secretário de Educação, Maurício, ao se deparar com a comitiva, ao invés de responsavelmente recebê-los, ouvi-los, ou mesmo expor as razões da política atual da SME, optou por sair correndo, literalmente. Fugiu do prédio como se estivesse sendo perseguido ou ameaçado.
No dia de ontem, seis de abril, a situação não foi diferente. Após a mesa de negociação eleita pela categoria dialogar com alguns vereadores, incluindo o próprio presidente da câmara, a prefeitura assumiu o compromisso de os receber às 14hs. Porém, mais uma vez foram ignorados pelo executivo, em mais uma fuga sem precedentes. O Secretário de Administração Ronaldo disse que não poderia nos receber porque o Secretário de Educação Maurício não estaria presente. O Secretário de Educação sumiu, ninguém sabe, ninguém viu. Uma vergonha, enquanto os casos de Covid-19 já custam vidas entre as unidades que retornaram, como a morte de um vigilante em um NEIM, de um Diretor em outro NEIM e mais recentemente surtos em duas unidades, uma no norte da ilha (NEIM Stella Maris) e outra no continente (NEIM Coqueiros).
Por toda essa situação fica claro para toda população que as mãos dos governantes municipais, do mesmo modo como o governo estadual e o federal, estão com suas mãos sujas de sangue. Simbolicamente, a categoria encheu as portas da entrada do prédio da prefeitura com mãos de sangue, conclamando para que mais vidas não sejam perdidas, pois, sempre em resistência, o essencial é a vida.
É preciso considerar, portanto, no chamado a responsabilidade do executivo municipal, que, somados todas as pessoas envolvidas no processo de reabertura das unidades educativas, entre estudantes, profissionais da educação, auxiliares de limpeza, merendeiras e vigilância temos, no mínimo, um aumento de cerca de 50 mil pessoas circulando pela cidade. Isso representa 10% da população de Florianópolis. É preciso ainda considerar a circulação dos familiares responsáveis pelo deslocamento dos estudantes, além dos trabalhadores e trabalhadoras do transporte coletivo, vans transporte por aplicativo etc., entregadores de materiais cotidianos da escola, como alimentação, material pedagógico e de limpeza, ou seja, uma conta imensa, porém impossível de mensuração.
Não há dúvidas, portanto, que diante do cenário atual, com descontrole total da pandemia, sem leitos de UTI, com recorde de mortes a cada dia tanto a nível nacional como estadual, o retorno das aulas presenciais é mais um capítulo na política genocida dos atuais (des) governantes que pelo uso da caneta ou mesmo pela inércia seguem sujando ainda mais suas mãos de sangue.
Todo apoio a Greve dos trabalhadores e trabalhadoras do Serviço Público Municipal!
#EssencialÉaVida #VacinaPraTodosJá #sintrasem #grevepmf. #ForaBolsonaro #ForaGean
* Militante da Resistência/PSOL.
NOTAS
(1) http://www.pmf.sc.gov.br/arquivos/diario/pdf/15_03_2021_20.18.55.c4e52d3d369b70ce76cd1694cec87aa6.pdf
(2) https://web.facebook.com/sintrasem/photos/a.1409375102675055/3017265441886005/
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