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MUNDO

Eleições subnacionais da Bolívia em perspectiva: afinal, o MAS venceu?

Maykon Santos,* de São Paulo, SP
Fecha 16 MAR. 2021 | 12:07 Fotografía Ricardo Carvallo Terán

Protesto de parentes de mortos e feridos pelo golpe de 2019 na Bolívia

No domingo, 07/03, ocorreram eleições para governadores, deputados estaduais, prefeitos e vereadores na Bolívia. Foi a primeira eleição na Bolívia após o MAS retornar ao poder em 2020, revertendo o golpe de estado feito pela extrema-direita, com o  apoio das Forças Armadas e da Guarda Nacional (as nossas PM’S), após fissuras no bloco de poder entre o MAS e as Centrais Sindicais, em especial a COB. Sendo assim, a primeira pergunta que vem à cabeça é se o MAS venceu, ainda mais após a prisão de uma das principais  líderes golpistas Jeanine Áñez de um lado, e, de outro, a eleição esmagadora como governador de Santa Cruz de Luiz Camacho, outro e, possivelmente, o maior líder golpista. 

Entendemos que essas questões para terem uma resposta satisfatória precisam por a eleição de 2021 em perspectiva com as últimas eleições na Bolívia, principalmente com as eleições gerais de 2014, 2019 e 2020, e a última eleição subnacional de 2015. 

Assim, o primeiro elemento que queremos destacar é que a eleição de Evo Morales, em 2005, provocou uma recombinação de forças na Bolívia. A esquerda sócio liberal/social democrata, a direita liberal e a direita conservadora e federalista (hoje separatista) se unem na oposição ao MAS quando antes disputavam o poder por décadas. O segundo é que desde a fundação do MAS, em 1997, não havia cisões no polo que defende o socialismo. Mas agora, em 2021, se formou o Jallalla Bolívia, principalmente na região de La Paz, sob a liderança da senadora Eva Copa que rompeu com o MAS após perder a indicação do partido para concorrer  à prefeitura de El Alto. 

Antecedentes 

A primeira tarefa para colocarmos as eleições de 2021 em perspectiva é saber como o MAS estava nas eleições gerais de 2014, 2019 e 2020. Ou seja, na eleição do golpe, e na eleição anterior e posterior. 

Nas eleições de 2014 o MAS elegeu Evo Morales com 61,3% dos votos e obtém 25  senadores (um a menos do que em 2009) e 88 deputados (mesmo número de 2009). Ou seja, mantém o padrão de votos e espaço parlamentar de 2009, que por sua vez representava um enorme crescimento com a primeira eleição de Morales, na qual ele obtém 53,5% e o MAS  elege 72 deputados e 12 senadores. 

Já o período entre 2014 e 2019 é tumultuado no MAS que, por não conseguir escolher  o sucessor de Evo, aposta em um referendo em 2016 para permitir mais uma reeleição de Evo. E perde nas urnas, o povo boliviano rejeita mais um mandato por 51,3% contra 48,7%. Mesmo assim, o MAS aposta em reconduzir Evo ao poder e consegue em 2018 autorização da Justiça Eleitoral para tal. 

Em 2019 Evo consegue menos votos dos que foram favoráveis à sua recondução no referendo, 47,1%. Mas, por mais de 10% de diferença do segundo colocado (Carlos Mesa com 36,5%), e mais de 40% dos votos válidos é reeleito. O MAS também cai na eleição da bancada com 67 deputados (o menor número desde 2002) e 21 senadores. A oposição alega fraudes e a extrema-direita dá um golpe de estado, com o apoio velado da direita liberal e de Carlos Mesa. 

Assim, durante um ano o MAS consegue conduzir uma oposição ao golpe e retorna ao  poder em 2020 com Luiz Arce, que obtém 55,11% dos votos (8% a mais do que Evo em 2019), e o MAS também cresce sua bancada elegendo 75 deputados e os mesmos 21 senadores. 

Destaco também o crescimento da extrema-direita. Em 2019 seu representante é Chi Hyun Chung do tradicional Partido Democrático Cristão, com 8,8% dos votos e elegem 9 deputados e  nenhum senador. Já em 2020 disputam com Luiz Camacho e obtém 14% dos votos, elegem quatro senadores e 16 deputados. 

As eleições de 2021 

Como vimos, o MAS chega às eleições subnacionais de 2021 recuperando terreno em  relação à 2019 na sociedade. Mas vendo uma ruptura no estado de La Paz com a criação do JALLALA LP. E a extrema direita também chega mais forte. 

Lembro também que em 2015, última eleição subnacional da Bolívia, o MAS elegeu seis governadores (Oruro, Pando, Cochabamba, Potosi, Chuquisaca e Beni). Já a oposição elegeu governadores em La Paz, Santa Cruz e Tarija. Como também fez 227 dos 336 prefeitos. E para os governos o MAS fez 41,7% dos votos válidos, contra 20,8% da direita conservadora e separatista (principalmente em Santa Cruz), e 14,7% da direita liberal. Também cabe destacar que o MAS  não tinha a prefeitura das 4 maiores cidades da Bolívia (Santa Cruz, La Paz, El Alto e  Cochabamba), que juntas contam com quase 1/3 da população.  

Isso posto, até aqui o MAS ganhou três estados no primeiro turno (Cochabamba, Potosi e Oruro) e foi para o segundo turno em primeiro em três estados (Tarija com 38,2%, La Paz com 39,7% e Pando com 41%), e em segundo em outros dois (Chuquisaca com 39,2% contra 45,6% do Chuquisaca Somos Todos, direita liberal). Em La Paz o segundo turno é contra a dissidência JALLALLA LP. Já em Tarija e em Pando é contra a direita liberal. Assim, o MAS poderá eleger entre 3 e 7 governadores, com grande probabilidade de eleger 6, ganhando La Paz e Tarija em relação à 2015 e perdendo Chuquisaca e Beni. O outro estado comandado pela oposição é o reduto da direita, Santa Cruz, onde o MAS nunca governou nem o estado e nem a capital de mesmo nome. 

Em termos de eleitores, Tarija e Chuquisaca se aproximam (cerca de 400 mil). Mas La Paz é imensamente maior do que Beni. La Paz é o maior estado da Bolívia com 1,9 dos 7,1 milhões de eleitores. Quase a mesma quantidade do histórico estado comandado pela oposição de Santa Cruz. Já Beni tem apenas 274 mil eleitores. Por fim, o MAS obteve 2,345 milhões de votos em 4,450 milhões de votos válidos. Ou seja, cresceu de 41,7% para 53% dos votos válidos. 

Por fim, se nas grandes cidades o MAS não conseguiu avançar ficando novamente sem  eleger nas quatro maiores, ao menos a dissidente Eva Copa, quadro histórico do MAS, do JALLALA  LP, venceu em El Alto, a terceiro maior cidade da Bolívia. 

Sendo assim, colocando as últimas eleições em perspectiva, podemos afirmar que o MAS venceu as eleições municipais, pois aumentou sua votação em relação à eleição de 2015, recuperou o governo de La Paz, maior estado do país, e tem uma aliada no governo de El Alto, terceira maior cidade. Tal vitória vem após o retorno ao governo federal, que já significa maior votação no MAS do que em 2019. 

Por outro lado, vemos emergir uma direita mais radical com o Creemos ganhando o governo de Santa Cruz, estado e cidade, após aumentar seu espaço no Senado e na Câmara, sendo possível vir a ser a principal força opositora suplantando a direita liberal. 

 

 

* Professor de História das redes municipais de Santos e Cubatão, militante da Primavera  Socialista/PSOL e do Círculo Palmarino.

Este artigo reflete as opiniões do autor e não, necessariamente, as opiniões do Esquerda Online. Somos um portal aberto aos debates e polêmicas da esquerda socialista.

 

 

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