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BRASIL

O quadro vermelho do dinheiro: Rui Costa, volta às aulas e covid-19

Juan Michel Montezuma* , de Salvador, BA
Rui Costa, de máscaras, olha uma sala vazia em uma escola
Reprodução

Em primeiro lugar, precisamos esclarecer que esse não é um artigo de defesa a figura política de Rui Costa. Conhecemos o governador da Bahia de outros carnavais e sabemos qual é a sua linha política principal junto à educação baiana. As greves na Universidade Estadual da Bahia nos últimos anos, os desligamentos e a generalizada indiferença em relação às unidades de educação básica estaduais, além das emblemáticas defesas pró-militarização das unidades de ensino público nos ajudam a traçar o perfil das políticas educacionais na agenda costumeira do governador da Bahia. Partindo dessas premissas, o que este texto busca é questionar: por que o governador do Estado entrou nessa quebra de braço com o empresariado do mercado educacional? 

Em 14/02, ganhava manchete nos jornais baianos a notícia de que o Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino da Bahia (SINEPE) havia conseguido, junto a 6º Vara da Fazenda Pública de Salvador, uma liminar que autorizava a retomada das atividades presenciais nas escolas particulares na região metropolitana. Contudo,  a resposta do governo do Estado foi rápida, acionando o Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) que suspendeu prontamente a liminar, adiando mais uma vez qualquer possibilidade de retorno às aulas presenciais. Enquanto isso, o Sindicato dos Professores no Estado da Bahia (SINPRO/BA – que responde pelos professores que atuam na rede particular) subiu nota sobre a liminar em 14/02, qualificando-a como uma decisão que  no “aspecto jurídico, é precária, descabida e equivocada.” mantendo sensatamente a oposição ao retorno para as salas de aula, ao menos porquanto a categoria dos docentes não fosse vacinada.

Partindo de uma perspectiva desinteressada, o embate entre o empresariado baiano e poder público acerca do retorno das atividades presenciais parece desprovido de sentido. Todavia, há nele a lógica do capital privado vinculado ao mercado educacional no sentido  da profunda crise econômica que se abate sobre o setor de serviços durante a pandemia. De um lado temos o clientelismo negacionista da classe média baiana que ameaça o empresariado escolar com a continuidade de um calote agressivo, responsável por levar dezenas de escolas soteropolitanas a suspenderem suas atividades, do outro lado temos o governo do Estado operando com um sistema de saúde deficitário tentando conter o avanço da Pandemia de Covid-19 sem qualquer grau de cooperação do poder executivo federal. 

Justamente por conta desse desenlace, como pode Rui Costa ceder terreno ao empresariado escolar? Se o fizer lançará um sinal nos céus sob o Estado que poderá ser enxergado por toda burguesia baiana como um símbolo de que boa parte da resistência imposta pelo poder público estadual frente a sanha empresarial é puramente nominal, tal como demonstra muito bem as investidas ousadas do setor de turismo e entretenimento na capital baiana que conseguem driblar o óbvio caos na saúde pública para abrirem Shoppings Centers e bares. E fazem isso evidentemente conscientes da covardia do poder público, que ao contrário do que faz nas favelas baianas, não lançará as suas  forças policiais pra cima dos playboys do empreendedorismo soteropolitano. 

Porquanto isso, há brigas em hospitais de Salvador, aglomerações nas filas de vacinação e mais, trabalhadores  sendo obrigados a aceitarem empregos precários em nome da sobrevivência durante a pandemia (que para eles não existe, só existe na hora que tentam de forma precária ter algum lazer). E ainda temos de lidar com a chantagem sobre a comunidade educacional que é acossada ao retorno às aulas, quando uma boa dose de educação poderia resolver toda essa problemática. Como professor da educação básica, espero apenas não morrer.

*Juan Michel Montezuma é Professor de História na Educação Básica, Pesquisador na área de historiografia, economia e história do trabalho e Membro do Podcast História Mestra Da Vida.

*Este artigo reflete as opiniões do autor e não necessariamente as do Esquerda Online. Somos um portal aberto às polêmicas da esquerda socialista.