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O Brasil à beira do colapso: o que fazer?

Gabriel Casoni

Gabriel Casoni, de São Paulo (SP), é professor de sociologia, mestre em História Econômica pela USP e faz parte da coordenação nacional da Resistência, corrente interna do PSOL.

Com toda a adversidade existente, o início da vacinação no país é um feito a ser comemorado. O princípio da esperança. Mas a coisa ainda está muito feia – e tende a piorar antes de começar a melhorar.
Na melhor hipótese, se o país conseguir ter um plano de imunização efetivo e amplo, a vacinação vai levar meses para começar a controlar e minimizar os efeitos da pandemia. E hoje, graças a um governo que sabotou a imunização do seu próprio povo, o melhor cenário é pra lá de otimista, quase uma ilusão.
Não nos enganemos, a tragédia vai se aprofundar enquanto Bolsonaro seguir na Presidência. O sistema de saúde, em todo o país, já está quase no limite (em alguns estados e municípios já há colapso do atendimento, total ou parcial, na rede pública e privada), enquanto o número de novos casos, internações e mortes não para de crescer. Nada indica melhora ou estabilização do quadro nos próximos dois meses.
As medidas existentes de contenção de transmissão do vírus, cada vez mais escassas, são bastante insuficientes perante à velocidade da propagação da Covid-19.
Para piorar, há em circulação — ao menos na região Norte — uma nova variante da doença, muito mais contagiosa e, talvez, desgraçadamente, mais letal. Em que velocidade e escala essa nova cepa vai se espalhar pelo país?
Assim, o país se depara com um cenário, já agora, mais crítico em relação àquele verificado no pico da primeira onda. Se o sistema de saúde nacional, que se aproxima do transbordamento na maioria dos municípios, colapsar de modo mais ou menos generalizado, será inevitável a adoção de medidas severas de lockdown. Caso contrário, novas tragédias, como a de Manaus, serão inevitáveis. Poderá haver escassez de insumos médicos (como oxigênio e medicamentos), de profissionais de saúde, saturação completa do sistema funerário, muita gente morrendo em casa ou filas de hospitais, enfim, situações verdadeiramente catastróficas.
Se o quadro mais pessimista da pandemia se confirmar, o que ninguém deseja (a não ser Bolsonaro), será incontornável um novo mergulho recessivo na economia, com o consequente agravamento da crise social e política. Desse modo, a burguesia brasileira, responsável pelo atual governo, brinca à beira do precipício. Nesse contexto, a raiva da população cresce a cada dia e Bolsonaro se desgasta, se enfraquecendo. Vão se formar as condições para derrubada desse governo? Ainda não sabemos.

Posto isso, o que fazer?

1 – Não há possibilidade de um enfrentamento eficaz à pandemia com a continuidade do governo Bolsonaro. A derrubada do genocida é condição primeira para que salvemos o país do colapso. A pressão pelo impeachment precisa ser gigante;
2 – É preciso acelerar, de todo os modos possíveis, a vacinação da população. A pressão sobre os governantes, para que isso ocorra, deve ser total;
3 – O reforço das medidas de contenção sanitária (incluindo a possibilidade lockdown) e a testagem em massa são essenciais para o controle da pandemia até que a imunização em massa pela vacina surja efeito. O retorno às aulas presenciais, nesse momento, é uma ação criminosa;
4 – Sem o auxílio emergencial para todos que precisam (desempregados, famílias pobres etc.), é impossível garantir medidas de isolamento social efetivas;
5 – O emprego dos trabalhadores tem que ser preservado. Deve haver um decreto nacional de estabilidade no emprego até o fim da pandemia. Além disso, os pequenos negócios precisam receber ajuda financeira do governo para sobreviverem;
6 – É preciso construir ações de luta — como carreatas, panelaços, atos com distanciamento, entre outras mobilização com segurança sanitária. Transformar o ódio crescente a esse governo em movimento de massas pela derrubada imediata de Bolsonaro é a chave para vitória. A unificação da esquerda, dos sindicatos e movimentos sociais em uma Frente Única é fundamental para atingirmos esse objetivo.