Sucessor do breve Nélson Teich na direção do Ministério da Saúde, o general Eduardo Pazuello logo mostrou a que veio. Se a questão principal que levara à saída de Teich e, antes dele, de Mandetta da pasta da Saúde era a aprovação do protocolo sobre o uso da cloroquina no tratamento da Covid-19, desejada pelo ex-capitão, apesar de sua ineficácia, então que se aprove logo, afinal, uns mandam e outros obedecem, disse depois o general. E foi assim que o Brasil foi apresentado ao nono militar a integrar o primeiro escalão do governo, um general de Divisão, especializado em logística, formado pela Academia Militar das Agulhas Negras na turma de 1984.
Com oito meses à frente do cargo, Pazuello podia ser o improvável protagonista de um país ansioso pelo fim da pandemia, já que diversas vacinas têm sido aprovadas pelo mundo e mais de 50 países já iniciaram os procedimentos de imunização de suas populações. Entretanto, o protagonismo desse carioca, com cara de bonachão, se existe, é semelhante ao de qualquer personagem de comédia pastelão, pois não há um único dia que Pazuello não seja desmentido pelo chefe, passe vergonha e, ao se explicar, não venha a oferecer ao país algum novo meme, que se nos faz rir, é de nervoso.
Nas últimas semanas, devido à demanda da sociedade por informações, Pazuello tem sido frequentador assíduo de entrevistas convocadas pelo Ministério da Saúde que precisa dar explicações sobre os procedimentos de aprovação das vacinas solicitados à Anvisa por várias empresas. Todavia, como os repórteres não podem fazer perguntas e não raras vezes o general está irritado, como se estivesse diante de seus subordinados, distribuindo reprimendas, o que se tem são evasivas, como a história do “dia dê” e da “hora agá”.
Com 200 mil mortes, caminhando para muito mais, o país ainda não sabe o dia da vacinação e cotidianamente vê informações desencontradas do Ministério da Saúde, quando não, associadas à desinformação e aberta campanha contra a vacina, produzida por importantes bolsonaristas e membros do governo, ou até mesmo pelo presidente, um negacionista empenhado em boicotar qualquer medida que seja efetiva para salvar vidas e oferecer protagonismo a outro.
Não há dúvidas de que Pazuello será lembrado como o homem que esteve à frente da maior catástrofe sanitária do país, ao lado do seu chefe, seus assessores mais próximos e todos aqueles que conspiram contra a ciência e as medidas sanitárias adotadas por quem tem alguma responsabilidade.
E diante da mentalidade do zé-ninguém que nos governa, que é a do indivíduo subjugado, reprimido e sedento de autoridade, o que se pode dizer, citando Reich, é que o país colhe “nada mais do que aquilo que ele semeou nas massas de seres humanos subjugados, por meio do misticismo, militarismo e automatismo durante séculos”.
* Doutor em História. Professor da UFBA
**Publicado originalmente no Jornal A Tarde
Comentários