É um tanto quanto óbvio que, sobretudo por se tratar de uma eleição em dois turnos, o Psol não deve, no primeiro deles, se coligar ao bloco do ultraneoliberalismo nas eleições para a presidência na Câmara dos Deputados. Também não é tão difícil reconhecer que, no segundo turno, a tática correta deve ser derrotar o candidato do governo neofascista, Arthur Lira.
Posto isso, vale lembrar que, para a enorme maioria dos cargos a que concorre nas eleições diretas, com sufrágio universal, a esquerda socialista não tem a menor chance. As eleições, sobretudo as majoritárias, são utilizadas pelos marxistas – ou ao menos deveriam ser – como momento de diálogo com as massas que, mais ou menos esperançosas, ainda se envolvem nos pleitos e acreditam que por meio do voto podem melhorar suas vidas – mesmo que isso normalmente signifique, nos quadros da democracia blindada, não muito mais do que amainar seu cada vez mais pletórico sofrimento. Para os socialistas revolucionários, trata-se, portanto, de divulgar – por meios cada vez mais restritos, convém assinalar – suas propostas para o país, e, sobretudo, tentar fazer avançar a consciência de classe dos explorados e oprimidos, o que dialeticamente implica alertá-los, ao longo das campanhas eleitorais, que a solução para seus problemas passa centralmente por lutas localizadas fora das instituições eletivas do Estado.
Talvez não seja escusado, é verdade, afirmar aqui que, ao final dos dois turnos, é sim importante que o governo Bolsonaro sofra uma derrota nestas eleições para a presidência da Câmara (mesmo que sua derrota seja, principalmente, uma vitória da oposição burguesa ultraneoliberal) e que, portanto, o pleito em questão não é de todo desprezível para a esquerda socialista. Contudo, isso não significa que existam nesses pleitos internos do parlamento o mesmo espaço de diálogo com as massas oferecido nas eleições gerais – e que já não é grande, reafirmamos – para que os socialistas possam defender suas ideias e seu programa. Trata-se de um escrutínio interno de uma arena institucional extremamente blindada e praticamente imune a qualquer reivindicação que seja efetivamente popular.
O resultado final tem, sim, alguma importância para a conjuntura política, mas o atual processo eleitoral na casa “dos picaretas com anel de doutor ” está longe de ser algo que deva ser tomado como o centro das preocupações e das intervenções da esquerda socialista no atual e catastrófico momento do país. “Dentro da [ou com o] baleia a vida é tão mais fácil”, mas ela será decidida mesmo é do lado de fora, na tempestade das ruas, mais cedo ou mais tarde.
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