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BRASIL

Questões sobre a “retomada” das aulas em 2021

Diogo de Oliveira*, de Niterói, RJ
Detalhe do rosto de um aluno de máscara, ao fundo, uma sala de aula vazia
Alexandra_Koch por Pixabay

A pandemia do novo coronavírus explicitou, e aprofundou, as mazelas da educação brasileira: o dualismo estrutural e racista, a precariedade, a exclusão, a alienação capitalista e a gestão não democrática.

“Retomar” a educação em 2021 não pode ficar somente no discurso (como sempre foi feito). Retomar de forma segura e saudável a educação presencial, enfrentar o racismo e as desigualdades e injustiças sociais e de gênero, substancializar a qualidade, radicalizar a gestão democrática e valorizar os profissionais da educação são desafios que só são possíveis serem alcançados enfrentando os problemas estruturais. Só assim a educação brasileira, do estado do Rio e de Niterói, entrarão no século 21.

Retorno seguro e saudável ao ensino presencial dialoga com investimentos emergenciais, estruturação material dos protocolos, vacinação dos profissionais da educação e alunos (habilitados à vacinação) como programa emergencial. E, principalmente: escuta aos educadores, os verdadeiros cientistas da educação, suas pautas, experiências e conhecimentos. Pediatra entende de virose, não de escola. O discurso “crianças têm baixa taxa de transmissão, contaminação, adoecimento e morte” é criminoso e precisa ser combatido.

Educação democrática, de gênero, antirracista, ecológica, inclusiva e de qualidade dialoga com a referência social, investimentos pesados (não, não será barato), valorização das educadoras e educadores, programas de transferência de renda e novos paradigmas: atualização da Educação Integral em perspectiva politécnica, ecológica crítica, pluripedagógica e pluricultural, modernização tecnológica, conectividade, inclusão e cidadania digital, hackatons, centralidade da presença e interação humana e presencial. Reforma Urbana – Cidade Educadora. Diálogos de saberes com os povos indígenas, negro, quilombola, povos das florestas e povos tradicionais dos biomas e paisagens brasileiras.

Mais três questões:

1) É preciso radicalizar a democracia nas escolas, o que não se resume às eleições de direções. As ocupações das escolas públicas pelos estudantes, entre 2015 e 2018, precisamos resgatar tais experiências. Autogestão, participação efetiva dos estudantes e comunidades, democracia real já. Renovação das lideranças urgente.

2) Nova educação só se desenvolverá afinada com outro projeto de desenvolvimento e civilização, em perspectiva anticapitalista e anti-imperialista. Não há mais espaço para conciliação entre interesses antagônicos. É preciso enterrar o neoliberalismo econômico. Outro projeto de desenvolvimento, independente, solidário, provedor de justiça redistributiva (territorial), de inclusão e de direitos, ecológico-ambiental – Outro projeto não é possível conciliando com o neoliberalismo, com “ajuste fiscal” e interesses oligopolistas, não é possível conciliando com a burguesia brasileira em geral, racista, colonial e dependente, em particular. Outra educação, outra economia política e social.

3) Por fim, a centralidade da valorização dos profissionais da educação, ou será tudo balela.

*Diogo de Oliveira é professor de Geografia da Rede Pública, Coletivo Ocupação Educadora e Campo SEPE na Luta Educadora.

 

EDITORIAL

Transformar 2021 em um ano de resistência da educação pública em defesa da vida