Em fevereiro, ocorrerá a eleição para presidente da Câmara dos Deputados. Dois grandes blocos se formaram para a disputa até aqui. Há a candidatura de Arthur Lira (PP), apoiada pelo governo Bolsonaro e os partidos do “centrão” que compõem a base governista no Congresso (PP, PSD, Pros, Avante, Patriota, PL, SD e PSC). E existe a candidatura do bloco de Rodrigo Maia, que reúne partidos da direita neoliberal (DEM, PSDB, MDB, PSL, entre outros), do centro-esquerda (PSB, PDT e Rede) e também da esquerda (PT e PCdoB).
Infelizmente, a esquerda não lançou candidatura unificada no 1º turno, deixando com que a disputa gire em torno de dois blocos da direita burguesa: um vinculado ao governo federal e outro à oposição neoliberal. Para piorar, as direções do PT e do PCdoB decidiram integrar o bloco de Rodrigo Maia, justificando que isso é necessário para derrotar o candidato de Bolsonaro.
Acontece que esse argumento não procede. Nenhum dos dois blocos da direita tem votos suficientes para vencer no 1º turno. Assim, se a esquerda (PT, PSOL e PCdoB) tivesse lançado candidatura unificada, mesmo se saísse sem o apoio do centro-esquerda (PDT, PSB e Rede), forçaria a ocorrência de um 2º turno, no qual poderia votar taticamente no candidato de Rodrigo Maia para derrotar o do Bolsonaro.
Opinamos que importa, sim, derrotar Arthur Lira na eleição, pois isso enfraquecerá o governo de extrema-direita nos próximos dois anos. Porém, não é preciso subordinar e diluir a esquerda no campo da direita neoliberal para alcançar esse objetivo. No 2º turno, os votos da esquerda na Câmara (54 do PT, 10 do PSOL e 9 do PCdoB) seriam suficientes para decidir o vencedor.
Sendo assim, a definição do PT e PCdoB de entrada no bloco de Rodrigo Maia foi determinada pela negociação de cargos e comissões na Mesa Diretora, e não pela necessidade de derrotar o candidato de Bolsonaro. Certamente, há certa importância na conquista de posições na estrutura de poder da Câmara. Mas essa negociação não pode ser superdimensionada e estar acima do posicionamento e atuação da esquerda de forma independente. Ainda mais quando sabemos que o presidente da Câmara, por força regimental, tem enorme poder, inclusive para descumprir acordos prévios com os aliados de ocasião da esquerda.
Com a adesão de quase toda esquerda (menos o PSOL) ao bloco de Maia, o campo neoliberal se fortalece, hegemonizando a oposição ao governo Bolsonaro. A esquerda perde protagonismo em nome de promessas de cargos e comissões, que muito bem poderiam ser negociados no 2o turno.
Importa recordar que Maia e sua turma sustentaram o golpe de 2016, foram patrocinadores das reformas trabalhista e da previdência, de várias privatizações e da Emenda do Teto dos Gastos, engavetaram mais de 50 pedidos de impeachment, são favoráveis à Reforma Administrativa e dão sustentação parlamentar à agenda econômica de Paulo Guedes e da Av. Faria Lima. Além disso, não há nenhum compromisso do DEM, PSDB e MDB de abrir processo de impeachment do presidente genocida em 2021.
Temos muito respeito por Marcelo Freixo, Fernanda Melchionna e Sâmia Bomfim, mas não concordamos em nada com as declarações deles favoráveis à entrada do PSOL no bloco da oposição de direita. Freixo chega a afirmar que “(…) existe algo em comum que nos une (esquerda e a oposição de direita neoliberal) e é muito maior do que as nossas diferenças: a crença nos valores do Estado Democrático de Direito (…)”.
Desde quando a direita neoliberal, a mesma que encabeçou o golpe contra Dilma, apoiou a prisão política de Lula, ficou ao lado de Bolsonaro no 2º turno contra Haddad e que executa em seus governos estaduais a política de extermínio do povo negro e pobre das favelas e periferias, tem compromisso real com as liberdades democráticas?
Não temos dúvida alguma de que é preciso fazer unidades pontuais e concretas com o bloco de Rodrigo Maia para impor derrotas a Bolsonaro, inclusive na votação em 2o turno na Câmara. Porém, temos completo desacordo em compor um campo político comum com a direita tradicional, sacrificando, desse modo, o programa independente da classe trabalhadora.
A estratégia política da esquerda, para o próximo período, deve ser derrotar — e, se possível, derrubar — Bolsonaro antes de 2022; buscando, para isso, impulsionar o movimento de massas nas ruas e a Frente Única da classe trabalhadora e oprimida. Em 2021, será preciso articular a luta pelas demandas mais sentidas pelo povo trabalhador (vacina, renda básica, emprego, direitos, defesa da vida da população negra, das mulheres e das LGBTs) com a batalha pelo Fora Bolsonaro. A direita neoliberal é inimiga desse programa.
Coerente com essa estratégia, deve ser parte da nossa armação política a luta para que a esquerda lidere a oposição ao governo, com o objetivo de que a oposição de direita não se credencie como principal alternativa ao bolsonarismo. Não será compondo um campo político dirigido pela oposição burguesa, que recebe ordens da Faria Lima e do imperialismo, que avançaremos no objetivo de derrubar Bolsonaro e defender direitos e interesses da classe trabalhadora e oprimida.
Vale sublinhar a coragem e o acerto da posição do deputado do PSOL, Glauber Braga. Concordamos com ele: o PSOL deve lançar candidato próprio no 1º turno, para apresentar um programa contra Bolsonaro e de diferenciação da oposição neoliberal, se comprometendo a votar contra o candidato do governo no 2º turno, isto é, a votar no candidato que for concorrer contra Arthur Lira (PP).
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