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OPRESSÕES

Projeto Galeria dos Racistas pretende expor e remover estátuas de escravocratas

da redação
Reprodução

A partir do levante antirracista iniciado com o assassinato de George Floyd, em Minneapolis, Estados Unidos, uma forma de ação rapidamente se espalhou por vários países, em especial na Europa: a derrubada ou a intervenção sobre estátuas de personagens históricos ligadas à escravidão. O protesto mais conhecido foi o que retirou a estátua de um comerciante de pessoas escravizadas – Edward Colston – na cidade inglesa de Bristol, lançando-a em um rio, em junho. Manifestações semelhantes ocorreram em diversos países, e também aqui no Brasil, contra estátuas de bandeirantes, em São Paulo.

Agora, um projeto pretende prosseguir nas redes sociais com essa disputa pela memória. A Galeria de Racistas é um projeto colaborativo feito pelo Coletivo de Historiadores Negros Teresa de Benguela, o site antirracista Notícia Preta e um coletivo de publicitários pretos. O portal foi lançado recentemente, com uma galeria de fotografias de estátuas, acompanhadas de textos explicativos, com a verdadeira história de cada personagem.

O projeto é resultado de uma extensa pesquisa sobre monumentos brasileiros que homenageiam figuras escravagistas que cometeram diversos crimes contra a humanidade. Durante cinco meses, a equipe identificou 180 estátuas, em 24 estados, homenageando pessoas ligadas ao regime da escravidão. Segundo o projeto, “O Brasil tem a maior galeria de racistas a céu aberto do mundo. Uma galeria permitida pelo Estado em todo o Brasil.”

Projeto de Lei

O projeto se desdobra em uma iniciativa parlamentar – um Projeto de Lei apresentado em novembro na Câmara dos Deputados, por iniciativa do Coletivo de Historiadores Negros Teresa de Benguela, e apresentado conjuntamente pelos mandatos de Áurea Carolina (PSOL-MG), Orlando Silva (PCdoB-SP) e Talíria Petrone (PSOL-RJ). O PL 5296/2020 proíbe homenagens em monumentos públicos, estátuas, totens, praças e bustos, a proprietários e traficantes de pessoas escravizadas e a pensadores que defenderam e legitimaram a escravidão. O objetivo é buscar a retirada desses monumentos de lugares e espaços públicos para que sejam realocados em museus, onde poderão ser expostos não de maneira heroica, mas, sim, de forma crítica pelos crimes os quais os homenageados comentaram em vida. No lugar desses monumentos escravistas seriam colocados monumentos de personagens históricos negros e indígenas, que lutaram e resistiram ao genocídio.

Expor o racismo

O objetivo dos organizadores é, em cada cidade, expor para a sociedade a verdadeira história dos escravagistas exaltados que apenas servem como forma de perpetuar o racismo. Ao lado de cada foto, há a localização exata da estátua, em um mapa, para que se possa denunciar.

Entre as estátuas mais comuns, estão Borba Gato (1649 – 1718), bandeirante conhecido pela violência, estupros, aprisionamento e genocídio dos povos indígenas; Cristóvão Colombo (1451 – 1506), navegante e comerciante espanhol, responsável pelo início do genocídio nas Américas, Padre Antônio Vieira (1608 – 1697), conhecido pelos Sermões, onde buscava justificar os castigos físicos e a escravidão através de analogias com a Via Crucis de Jesus Cristo, apresentando a dor e o sofrimento como meio para que negros e negras alcançassem o Paraíso católico. Há também três estátuas de Tiradentes (1746 – 1792), considerado mártir da revolta pela independência, enforcado no Rio de Janeiro. No texto, os historiadores destacam que “os planos da revolta não tinham em seus objetivos a abolição da escravidão, a maioria dos membros eram escravocratas e Tiradentes possuía 6 escravizados.”

Confira abaixo todas as estátuas apresentadas no site do projeto

Antônio Pinto
Baltasar Fernandes
Barão de Serro Azul
Bárbara Pereira
Bartolomeu Bueno
Bento Gonçalves
Bernardo Mascarenhas
Borba Gato (2x)
Coelho Rodrigues
Conde dos Arcos
Cristovão Colombo (2x)
Dias Velho
Diogo Feijó
Domingos Jorge
Domingos José
Gabriel de Lara
Henrique Halfeld
Joaquim Pereira
José Antônio
Julio de Castilhos
Luiz Pereira
Manuel Beckman
Manuel Nunes Viana
Mariano Procópio
Maurício de Nassau
Padre Antônio Vieira (2x)
Rafael Tobias
Suzana Dias
Teódosio de Oliveira
Tiradentes (3x)
Visconde de Guarapuava
Visconde de Parnaíba

Visite e divulgue o site Galeria de Racistas

 

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