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“Não está morto quem peleia”: um comentário sobre as eleições de 2020

Felipe Demier

Doutor em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e professor da Faculdade de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). É autor, entre outros livros, de “O Longo Bonapartismo Brasileiro: um ensaio de interpretação histórica (1930-1964)” (Mauad, 2013) e “Depois do Golpe: a dialética da democracia blindada no Brasil” (Mauad, 2017).

Derrotada há dois anos, a direita tradicional, esgrimindo seu ultraneoliberalismo e tendo que recorrer cada vez mais a arrivistas e lumpens-aventureiros egressos do neofascismo bolsonarista, foi a principal corrente política vitoriosa no pleito de 2020. A “oposição liberal-burguesa” a Bolsonaro – que é mais uma situação envergonhada na forma ao governo do que propriamente uma oposição ao conteúdo deste – mostrou força à escala nacional. A nossa luta segue, portanto, contra ela e também contra a extrema-direita, cuja capilaridade na sociedade não pode ser menosprezada e não será removida pelo voto. O “partido da ordem”, cujas frações vivem entre rusgas e afagos, segue, por óbvio, no poder, mas a crise de hegemonia/crise orgânica das classes dominantes não parece perto de ser superada, e, nesse contexto, o avanço do PSOL, em especial por meio de Boulos, é algo a ser levado em conta. Se sua candidatura não foi capaz de derrotar nas urnas o “partido da ordem” local, sua grande imprensa, as fake news, as classes médias conservadoras e o lumpem-proletariado, sua inserção no proletariado precarizado e na juventude periférica, assim como nos setores médios assalariados, pode pavimentar o caminho para a emergência de uma frente única de esquerda que, apoiada nas lutas cotidianas, se coloque apta para enfrentar Bolsonaro e o ultrabeoliberalismo em 2022. Se há dois anos nos deram por mortos, hoje mostramos que, como diz o adágio popular do sul, “não está  morto quem peleia”. Sigamos peleiando. Sigamos vivos.