Pular para o conteúdo
Especiais

O significado da vitória de Edmilson Rodrigues (PSOL) à Prefeitura de Belém

Will Mota, de Belém (PA)
PSOL/Reprodução

A vitória de Edmilson Rodrigues (PSOL) nas eleições municipais em Belém tem um enorme significado para a classe trabalhadora e para a esquerda no Brasil. Esta vitória é tanto resultado direto da perda de influência do bolsonarismo na cidade (mas que continua tendo peso de massas e sendo um força política bastante influente), quanto da linda campanha ao estilo “vira-voto, mobilizada por milhares de ativistas sindicais,  populares, movimentos sociais, partidos de esquerda, movimentos de juventude, dos movimentos de combate às opressões, da intelectualidade e artistas progressistas da cidade. Foi uma vitória conquistada na raça,  em cada ponto de bandeirada, em cada panfletagem, em cada diálogo direto com o povo de Belém. Os segmentos oprimidos da sociedade tiveram fantástico protagonismo durante toda a campanha. Mulheres, negros e negras, LGBTQIA+, Pessoas com Deficiência, indígenas e quilombolas deram o sangue na disputa da consciência da população de Belém e fizeram toda a diferença. Passada a embriaguez da vitória, é preciso agora extrair lições politicas dessa belíssima vitória e projetar os principais traços que devem guiar o futuro governo do PSOL, pois Belém é hoje a capital da resistência ao neofascismo no Brasil.

Uma das lições da campanha é a de que a unidade e a mobilização da classe trabalhadora é o principal caminho pra derrotar a extrema direita,  mesmo em um campo de batalha tão adverso como são as eleições no país. Sem a união da esquerda e dos movimentos sociais essa vitória não teria sido possível. Outra lição igualmente importante foi a lição deixada pelo golpe de 2016 de que ou se governa com independência de classe ou a burguesia não hesitará em derrubar um governo de esquerda na primeira oportunidade que tiver. O PSOL tem em suas mãos uma grande responsabilidade: fazer um governo independente, sem conciliação de classes, apoiado nas lutas dos trabalhadores e com um programa de transformação social focado para “os de baixo” e para os oprimidos.

Para isso, será importante avançar na democratização do poder popular na cidade e inverter de fato prioridades, colocando o orçamento municipal e as políticas públicas a serviço dos 99% do povo de Belém e enfrentando as máfias empresariais que parasitam o poder público. A correlação de forças na Câmara Municipal de Belém será desfavorável para a esquerda. Dos 35 vereadores eleitos, somente 3 serão do PSOL, 2 do PT e 1 do PCdoB. O governo de Edmilson precisará se apoiar na mobilização popular para pressionar a Câmara a aprovar leis e projetos de interesse popular. Além disso, pode e deve criar mecanismos e instrumentos de democratização das grandes decisões em paralelo ao poder legislativo municipal, como conselhos populares, orçamento participativo, ferramentas digitais de consulta pública, plebiscitos e o congresso da cidade sob diretrizes democráticas e com poder efetivamente decisório.

Só com independência de classe e a profunda democratização das decisões é que será possível avançar na garantia das reivindicações populares e na inversão de prioridades, como a geração de emprego via plano de obras públicas e a retomada de concursos públicos pelo regime jurídico único, a criação da renda básica municipal, a garantia de ar-condicionado nos ônibus e o passe-livre para estudantes e desempregados. Também é fundamental que no governo haja uma forte presença de mulheres, negros e negras, LGBTQIA+, indígenas e Pessoas com Deficiência para que as políticas públicas possam refletir esses segmentos que formam a maioria da população e que necessitam de reparação histórica. Representatividade importa, sim. Está nas mãos do PSOL e da união das esquerdas e movimentos sociais a possibilidade de fazer um governo útil à luta contra Bolsonaro e a extrema-direita e que ao mesmo tempo seja a vitrine da construção de um governo dos trabalhadores, sem patrões, e apoiado na mobilização popular.