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Por que Boulos pode vencer no domingo?

Reprodução/Facebook

Gabriel Casoni

Gabriel Casoni, de São Paulo (SP), é professor de sociologia, mestre em História Econômica pela USP e faz parte da coordenação nacional da Resistência, corrente interna do PSOL.

A pesquisa do Datafolha, publicada nesta terça (24), revela que a diferença entre Covas (PSDB) e Boulos (PSOL) é de apenas 8%. Em somente seis dias, o candidato do PSOL avançou cinco pontos (foi de 35% para 40%), enquanto o candidato tucano permaneceu estacionado (48%). No cômputo dos votos válidos (que exclui nulos, brancos e indecisos), Covas recuou de 58% para 55%; e Boulos subiu de 42% para 45%.

Como se sabe, toda pesquisa é uma fotografia de momento, com uma certa margem de erro. Mais importante do que visualizar a imagem estática é observar as tendências apontadas. E a tendência que o Datafolha apresenta é a de uma curva ascendente de Boulos, enquanto Covas parece estagnar.

Boulos tem seu melhor desempenho entre os mais jovens, trabalhadores com contrato, servidores públicos, pretos, desempregados e pessoas com ensino superior. Covas, por sua vez, registra seus melhores índices na camada de mais alta renda, entre os que tem 60 anos ou mais, trabalhadores informais e também entre as pessoas com ensino fundamental.

Pode-se concluir que o tucano tem uma ligeira vantagem, mas a disputa está indefinida. O mais provável é que Boulos consiga diminuir a diferença até domingo. Mas haverá tempo hábil para a virada? Eis a pergunta de 1 milhão de dólares. Não é possível saber, a reta final será emocionante. Porém, essa possibilidade de virada é real, por várias razões. Apresento três delas a seguir:

(1) A campanha de Boulos e Erundina é movida por uma poderosa força social que vem debaixo. Centenas de milhares de paulistanos, especialmente entre os jovens, estão em campanha de “formiguinha” na cidade pelo 50, seja no local de trabalho, nos pontos de ônibus, nas redes sociais, nas conversas de família e de amigos. Trata-se de uma movimento de base que empurra Boulos para cima — é a famosa onda crescente (como houve com Erundina em 88 e Lula em 89 e 2002). Do outro lado, o eleitor de Bruno Covas é, em geral, silencioso e desanimado. Não há uma força político-social dinâmica a seu favor, como houve com Bolsonaro em 2018.

(2) O tempo de TV e os debates jogam a favor de Boulos. No primeiro turno, Covas tinha um latifúndio na TV, enquanto Boulos fazia milagre com 17 segundos por dia. Agora é diferente: há igualdade de tempo nos blocos e inserções. O tucano já é muito conhecido na cidade, mas o candidato do PSOL ainda não. A maior exposição de Boulos e de Erundina na TV, com tempo suficiente para apresentar perfil e propostas a milhões de pessoas, tende a virar votos a favor da candidatura do PSOL. Ainda teremos mais quatro dias TV eo debate na Globo na sexta — e todo mundo sabe que o Boulos adora “jantar” o Covas em debate.

(3) O desgaste de Bolsonaro e a comoção pelo assassinato racista jogam a conjuntura à esquerda, potencializando o crescimento de Boulos. Na capital paulista, com 12 milhões de habitantes, a rejeição a Bolsonaro se aproxima dos 60%, tendo crescido rapidamente nas últimas semanas. Com o amplo desgaste do neofascista na cidade, o candidato do PSOL — conhecido pela luta intransigente contra Bolsonaro (lembre-se que Boulos/MTST chamou atos de rua em SP em junho, junto com as torcidas organizadas, contra as ameaças golpistas) — torna-se uma opção para uma camada ampla dos trabalhadores e estudantes que se animam com uma mensagem de esperança, de defesa do serviço público e da vida, de justiça social, emprego, moradia, direitos sociais e dignidade. Vale destacar, também, o impacto do assassinato racista em Porto Alegre, que tirou a vida do operário negro João Alberto. A grande maioria do povo brasileiro se comoveu diante desse crime de ódio brutal. O povo negro, que convive com o racismo cotidianamente, foi tomado pelo sentimento de indignação. A juventude preta foi às ruas em dezenas de cidades. O repúdio ao racismo pode explicar o crescimento de Boulos entre os pretos (ganhou 8% nesse segmento, chegando a 53%) e homens de baixa renda (crescimento de 10%) na última semana.

É impossível dizer quem vencerá em São Paulo. Mas o celtinha está acelerando e pode ultrapassar o adversário na curva final. Cada voto pode ser decisivo. Vamos virar voto, cada um vale ouro!