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Especiais

O papel da juventude nas eleições de São Paulo

Paula Nunes, co-vereadora eleita pela Bancada Feminista do PSOL e militante do Afronte-SP

O resultado do primeiro turno da eleição em São Paulo foi o melhor da história do PSOL na cidade. A candidatura à prefeitura de Guilherme Boulos e Luiza Erundina recebeu mais de 1 milhão de votos e derrotou o Bolsonarismo já na primeira etapa do processo. Celso Russomano, do Republicanos, partido ligado à Igreja Universal e que também abriga os filhos de Jair Bolsonaro, despencou de posições após uma campanha marcada pelo desprezo aos mais pobres. Nem mesmo a máquina de fake news utilizada na campanha da extrema-direita em 2018 foi capaz de conter o descrédito do candidato do presidente da República. O PSOL, pela primeira vez, disputa o segundo turno na maior metrópole do país e tem a chance, junto com o povo, de virar o jogo em relação ao projeto elitista e privatista de Bruno Covas e João Dória, do PSDB. Nós do Afronte acreditamos que um governo da esquerda socialista em São Paulo servirá como um ponto de apoio fundamental para derrotar o projeto reacionário vigente hoje no governo federal e estadual.

Além do resultado na campanha majoritária, os candidatos a vereadores e vereadoras do PSOL receberam mais de 440 mil votos em todo o município. Em 2016, a votação do partido havia sido de pouco mais de 184 mil votos. Por essa razão, nossa bancada saltou de dois para seis vereadores, alguns deles entre os mais bem votados da cidade. Deles, três ocuparão, pela primeira vez, um mandato parlamentar: a candidatura coletiva da Bancada Feminista, Luana Alves e o Quilombo Periférico. Erika Hilton, Samara Sosthenes, do Quilombo Periférico, e Carolina Iara, da Bancada Feminista do PSOL, serão as primeiras mulheres trans a ocupar as salas da Câmara Municipal.

O papel desempenhado pelos socialistas nas eleições da maior cidade da América Latina não foi um acaso. Em realidade, ele está diretamente relacionado aos acertos políticos do PSOL nos últimos anos. O partido, que foi oposição de esquerda durante todos os anos de governo petista no Brasil, não vacilou no enfrentamento ao golpe parlamentar contra Dilma Roussef em 2016, na luta contra as reformas do governo de Michel Temer, ou no enfrentamento ao neo-fascismo representado por Bolsonaro. A frente política articulada entre o PSOL e o MTST desde 2015 também denunciou a farsa da operação Lava-Jato e a arbitrária prisão do ex-presidente Lula, lutando sempre pela conformação de uma frente única entre as organizações da esquerda para fazer frente à ofensiva da burguesia. Seria impossível entender o fenômeno político e eleitoral do PSOL em São Paulo sem considerar todos esses elementos.

Entretanto, o sucesso do PSOL – não tenhamos dúvidas – também é produto da força da juventude que ocupou a política ao longo desses últimos anos. As últimas pesquisas eleitorais, além de demonstrarem o crescimento das intenções de voto em Guilherme Boulos, também evidenciaram o fenômeno de seu projeto entre a juventude, onde ele atinge 65% das intenções de voto1. A ampliação da bancada socialista na câmara também foi diretamente influenciada pelo voto desta nova geração. Mas o papel protagonista da juventude também se traduziu na força da campanha nas ruas. A pandemia atrapalhou a eleição, mas não impediu que centenas fossem às praças, terminais, bairros e portas de metrô lutar para que um candidato ainda pouco conhecido chegasse ao segundo turno com chances de vencer a disputa. Outro elemento que chama a atenção foi a internet e a nova linguagem utilizada na campanha, que esteve conectada às novas dinâmicas de comunicação, organização e engajamento nas redes sociais. Guilherme Boulos é hoje uma das principais figuras da esquerda na internet no Brasil e também liderou as buscas, pesquisas, compartilhamentos e interações em diferentes plataformas, permitindo que sua campanha ultrapassasse a “bolha” da esquerda já engajada.

Nós do Afronte somos algumas destas centenas de jovens que construímos essa chama de esperança na cidade de São Paulo. Desde 2018 apostamos que a alternativa articulada entre o PSOL e o MTST era o melhor caminho para forjar uma alternativa política renovada da esquerda. Fizemos parte do Ele Não, impulsionamos a Juventude Sem Medo, a Frente Povo Sem Medo, ocupamos as ruas durante o Tsunami da Educação em 2019, protestamos contra as mortes de Marielle Franco, João Pedro, Miguel, Ágatha e de tantos outros jovens negros, e lutamos em defesa da Amazônia, do Pantanal e dos povos indígenas em uma perspectiva ecossocialista. E depois desta eleição ocuparemos a Câmara com a Bancada Feminista do PSOL em São Paulo, em Belo Horizonte, com Iza Lourença, e em Porto Alegre, com Matheus Gomes. Queremos contribuir com muito esforço, dedicação e criatividade política para o avanço de um projeto de esquerda profundamente antirracista, anticapitalista e que combata toda e qualquer forma de opressão ao lado do povo.

Nestes últimos dias de segundo turno, quando toda a esquerda brasileira acompanha com atenção os acontecimentos de São Paulo, vamos continuar nas ruas, disputando os votos em todas as esquinas dessa cidade, do Rio Pequeno à Cidade Tiradentes, de Perus à Parelheiros. Precisamos continuar, inclusive, por todos aqueles que compartilham sonhos conosco, mas que não podem, por causa da pandemia, estar ao nosso lado nesse momento. Nosso projeto vai muito além das eleições, mas não temos dúvidas de que elas são também um terreno fundamental na luta pela transformação da nossa realidade. Façamos de São Paulo a capital da resistência ao fascismo, ao racismo e ao neoliberalismo. Agora é Boulos e Erundina 50!

1 https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/eleicoes/2020/noticia/2020/11/24/pesquisa-datafolha-para-2o-turno-em-sao-paulo-bruno-covas-48percent-guilherme-boulos-40percent.ghtml