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Especiais

O vale tudo e a campanha suja do PSB de Pernambuco

David Cavalcante, de Recife (PE)

Se aproxima a decisão do 2º turno na capital pernambucana. Passaram para a segunda votação do 29 de novembro, Marília Arraes, candidata do PT, tendo como vice, João Arnaldo (PSOL), com 27,90% (223.248 votos) e João Campos, candidato do PSB, tendo como vice, Isabella de Roldão (PDT), com 29,13% (233.028 votos). Ficaram para trás o candidato do DEM, o velho oligarca, Mendonça Filho, com 25,07%, e a candidata do Podemos, apoiada por Bolsonaro, a carioca Patrícia Domingos, com 14,4%, que teve seu índice de rejeição multiplicado quando os demais candidatos da direita revelaram que a “Moro de saias” tinha xingado a cidade de Recife como se fora “Recífilis” e atribuído uma estética de feiura aos recifenses em suas redes sociais.

Segundo as intenções de voto levantadas pelas primeiras pesquisas do 2º turno, indicadas pelo Datafolha, Marília teria entre 38% e 44% e João Campos alcançaria entre 31% e 37%, com uma tendência à inversão da vantagem obtida pelo PSB no 1º turno. Em seguida, o Ibope confirmou a vantagem das intenções de votos declarados para a petista, com Marília obtendo entre 42% e 48% e João Campos alcançando entre 36% e 42.

A sinalização das primeiras pesquisas desnudou o verdadeiro caráter do PSB enquanto principal partido das classes dominantes e das oligarquias pernambucanas, que controla o Governo do Estado, há 14 anos, e a prefeitura da capital há 8 anos, e que pode usar de qualquer recurso para se manter no poder. O nome “socialista” na legenda do PSB é um blefe completo, usado para quem se engana com a aparência dos nomes dos partidos.

O mal chamado “campo progressista”, tão ostentado por alguns dirigentes e organizações de esquerda – muitos que participam dos governos do PSB em cargos comissionados – é um conceito campista que não resiste à realidade quando analisamos a atuação prática desse partido.

A fatalidade da morte de Eduardo Campos, ex-governador de Pernambuco, morto num trágico acidente aéreo, em 2014, cerca de 4 meses depois do anúncio de sua pré-candidatura à Presidência da República, junto com Marina Silva (Rede), gerou um anteparo que dificulta avaliações mais profundas sobre a herança do seu governo. Ao contrário, João Campos, teve seu primeiro ato de figura pública aos 20 anos, ao lado do caixão do pai naquele que foi um dos mais comoventes velórios do Estado, em frente ao Palácio do Campo das Princesas. Em 2018, canalizando a imagem do falecido pai e com o apoio da máquina do PSB a seu serviço, foi eleito Deputado Federal com maior votação daquele ano.

A decadência do PSB já havia se tornado evidente quando este partido, ainda em 2014, apoiou Aécio Neves, no 2º turno junto com Marina Silva (Rede), e foi uma das siglas decisivas para o apoio ao Golpe parlamentar contra Dilma Roussef, em 2016, quando garantiram 29 votos favoráveis ao impeachment e apenas 3 contrários. Sendo que eram necessários que 342 deputados federais votassem a favor do processo de admissibilidade do pedido de impedimento contra Dilma, e se não houvesse os 29 votos do PSB, a votação alcançaria apenas 338.

Nesta última semana, o PSB passou de todos os limites do vale tudo na disputa pela prefeitura, desencadeando uma campanha de ataques pessoais, propaganda apócrifa e de fake news contra Marília Arraes lembrando bem a mesma máquina de mentiras desprezíveis, no estilo anticomunista e falso-moralista, que o bolsonarismo e seus aliados nos Estados utilizaram na campanha de 2018 contra o PT, Lula, Haddad e toda a esquerda.

Estão sendo utilizados lambe-lambes, que foram colados inclusive na frente da residência da candidata do PT com imagens deformadas de Lula com a marca da mão com quatro dedos, disseminação de fake news pelas redes sociais afirmando que Lula está de mudança para Pernambuco para controlar o Estado, além de apelos religiosos mentirosos e descontextualizados das falas de Marília no parlamento, em comerciais apócrifos de TV (com legendas minúsculas do patrocinador) e panfletos que estão sendo distribuídos nas igrejas protestantes contra Marília com dizeres do tipo “pertence ao PT que persegue os cristãos em todo o Brasil” ou “tirou a Bíblia da câmara de vereadores”, entre outros tantos expedientes sórdidos.

A burguesia é uma classe ética e moralmente decadente e seus representantes políticos sempre usam do método do vale tudo para fazer suas disputas políticas e ideológicas, não somente contra a esquerda e o movimento dos trabalhadores e oprimidos, mas contra seus adversários eleitorais. Tal prática é utilizada inclusive entre os próprios partidos das classes dominantes quando uma outra fração ameaça a outra de derrota. Tais apelos de baixezas nas disputas eleitorais foram agravados com o advento das redes sociais contra os quais a Justiça Eleitoral não toma medidas mais enérgicas, como ficou demonstrado na campanha de 2018 diante do uso em massa de tais práticas pela família Bolsonaro e pelo denominado Gabinete do Ódio.

As organizações da sociedade civil, os movimentos sociais e os partidos de esquerda de todo o país, para além das escolhas momentâneas dos períodos eleitorais, devem repudiar de forma uníssona a utilização de tais práticas, exigindo do Ministério Público, dos grandes meios de comunicação e da Justiça Eleitoral medidas mais enérgicas e céleres contra tais expedientes que disseminam o ódio, o medo e a mentira nas campanhas eleitorais, identificando e penalizando os responsáveis civil e penalmente.