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OPRESSÕES

A morte ordinária no dia da consciência (ou A consciência necessária num dia de morte)

Douglas Rodrigues Barros*
Reprodução

E eis que, no dia da consciência negra, um homem negro é brutalmente assassinado na frente da esposa numa loja do Carrefour em Porto Alegre. Um segurança e, como não podia deixar de ser, um policial no caso. Infelizmente, tenho conhecidos que ainda insistem em diminuir os problemas raciais no Brasil. Relativizam a pauta, chamam-na de liberal. Identitária. Mas o racismo nesse país é um câncer numa modernização superexploratória que fundamentou os espaços de acesso por meio da racialização social. A pauta está em disputa, evidentemente. E o lugar de escuta e reinterpretação da realidade estão dados. Os manuais tornaram-se obsoletos, nossos formadores precisam ser revistados e criticados, o caldo de intelectualidade e inteligência de pessoas, filhas daqueles que serviam café para os intelectuais de outrora, também estão na faculdade, tornaram-se cheia do “cabedal”, falam inglês, francês e até alemão, estão dando a visão!

E digo mais: Nós sabemos o papel que o antirracismo pode ter numa luta que mude radicalmente as bases de organização nessa sociedade. Há os que duvidam disso porque simplesmente se recusam a pensar nisso. Acordem pois do sonho dogmático! O racismo aqui além de fazer repensar as bases do mundo do trabalho é uma questão de vida ou morte, de emancipação ou servidão!

O antirracismo contém a parte dos que sofreram um dano, portanto, a parte dos que não tem parte. O negro, o indígena, o boliviano em Moema impõem um litígio e fazem jus ao refrão: “se nada somos em tal mundo, sejamos tudo”. Então dobrem-se as vozes que foram silenciadas porque quando falam e não se vendem oferecem um logos como palavra manifesta e reabrem a luta verdadeiramente política.

PS – Porto Alegre não estar queimando agora só significa uma coisa: ainda estamos postos no lugar da nadificação e insensibilidade social. A imprensa sequer comentou suficientemente o caso e os assassinos estão com os nomes em sigilo. Isso diz tudo sobre esse país, onde o racismo é enformado pela luta de classes! Se é ódio de classe que expressam, expressemos o nosso!

*Douglas Rodrigues Barros é doutor em filosofia pela Unifesp, escritor e militante do Movimento Negro